MAJ tem papel fundamental na preservação da arte nacional
Museu de Arte de Joinville preserva a arte brasileira por meio de catalogação. Gravura de Tarsila do Amaral é um exemplo
Por Henrique Duarte
O Museu de Arte de Joinville (MAJ) abriga uma coleção de 1026 obras catalogadas, entre elas, uma gravura de Tarsila do Amaral. O caso é particularmente emblemático, já que o processo é uma reinterpretação da obra “Paisagem com touro”, produzida a partir da pintura original, de 1925. É uma transposição, gravada por terceiros, que a artista autorizou nos últimos anos de vida a serem reproduzidos em metal, a fim de satisfazer a demanda do mercado.
A gravura presente no Museu de Arte de Joinville vai além da função estética, ela preserva e garante a história da arte nacional. Por meio de técnicas de conservação, a obra ganha novas camadas de entendimento e a restauração das peças do acervo se tornaram fundamentais para o legado cultural da cidade.
No entanto, a arte de Tarsila não é apenas uma peça do acervo do museu. Ela faz parte de um processo de catalogação. Esse processo foi desenvolvido em 2020, durante a pandemia de Covid-19, por Débora Zimmermann, assistente cultural e monitora do museu, junto ao seu marido. Na época, com a equipe em home office e a reserva técnica sem uma organização clara, localizar uma obra específica era um desafio. “Por exemplo, eu tinha a obra número X, mas não sabia em qual gaveta ou estante ela estava”, explicou Débora. Antes, utilizava-se uma tabela no LibreOffice, que, por conter imagens e informações de mais de mil obras, era lenta e pouco prática.
Foi nesse contexto que o banco de dados começou a ser desenvolvido, permitindo reunir imagens, informações técnicas e a localização de cada obra em um sistema mais funcional. “Agora, conseguimos acessar rapidamente os dados das peças e verificar seu estado de conservação, o que facilita o trabalho de inventário e preservação do acervo”, completou.
Desafios e novos projetos
Apesar do trabalho técnico realizado pela equipe do museu, o MAJ enfrenta desafios estruturais. Angela Peyerl, coordenadora da instituição, revela a necessidade de ampliar os espaços expositivos e melhorar a infraestrutura para atender às demandas do acervo e garantir que o museu receba novas obras. “Atualmente, temos um acervo extenso, mas muitas obras estão armazenadas porque não temos espaço suficiente para exposição”, explica.
Além disso, Angela menciona lacunas históricas que precisam ser preenchidas no acervo do museu. “Há uma ausência notável de obras de artistas mulheres, indígenas e negros. É uma questão que precisa ser resolvida para mostrar a diversidade da produção artística brasileira e garantir uma representação mais ampla das histórias que compõem nossa história”, pontua.
Essas questões se somam à falta de recursos financeiros, que impacta diretamente na manutenção das obras e na realização de novos projetos. Segundo a coordenadora do museu, é essencial que haja investimentos para modernizar a estrutura do museu e possibilitar uma maior interação com a comunidade local e posteriormente nacional.
Mesmo diante das limitações, o MAJ tem planos. Entre eles, está o fortalecimento do diálogo com artistas contemporâneos e o estímulo à produção cultural de Joinville. O museu deve ser um espaço vivo, que não apenas preserve a memória artística, mas também inspire novas gerações.
“Queremos que o MAJ seja um local onde as pessoas se vejam representadas e onde a arte esteja acessível a todos. Isso só será possível com parcerias, investimentos e um planejamento de longo prazo”, conclui Angela.
Com um acervo que inclui obras de relevância nacional e o compromisso de preservar e expandir a coleção, o Museu de Arte de Joinville segue como um guardião da memória cultural. Porém, para consolidar seu papel como referência, será preciso superar as barreiras que ainda limitam seu potencial.