
Mercado cinematográfico nacional ganha espaço e visibilidade em evento da cidade após três anos
Primeira edição aconteceu em 2022 e trouxe acolhimento e feedbacks positivos
Por Camila Regina Schatzmann Gomes
Joinville sediou espaço para a segunda edição do Festival Cinema de Verão. Foram quatro dias de verdadeira imersão no universo cinematográfico e cultural local, com uma programação diversificada tendo como carro-chefe de sua abertura o show do grupo de surf rock, Strato Feelings.
O evento contou com a presença de espectadores, além de artistas locais e regionais, que prestigiaram a edição. A programação aconteceu em três locais distintos da cidade: o Museu de Artes de Joinville (MAJ), o Instituto Internacional Juarez Machado (IIJM) e a Associação dos Artistas Plásticos de Joinville (AAPLAJ), reunindo um público diversificado e entusiasta da arte audiovisual. Nos quatro dias de duração, foram exibidos cinco produções experimentais, dois documentários, dezoito curtas catarinenses na mostra competitiva, além de oito filmes do cinema brasileiro e duas sessões infantis. O evento contou também com roda de conversas com a equipe do festival e alguns artistas, proporcionando um espaço de reflexão e troca cultural.
A segunda edição do festival também se destacou pela inclusão, oferecendo acessibilidade ao público surdo e tornando a experiência ainda mais completa e acolhedora. “Pessoas com deficiência também têm direito à cultura”, afirmou a intérprete de libras Nubia Amorim. Ela completou: “As legendas ajudam bastante, mas nem todas as pessoas surdas conseguem ler em português, pois a língua de sinais é um idioma diferente.” A profissional ainda destacou a importância de adaptar os filmes, incluindo a tradução em língua de sinais no mercado cinematográfico.

Crédito: Brendha Souza
Nesta edição, o evento incluiu na programação espaços destinados a debates sobre temas abordados em algumas exibições, como o documentário “Era o Hotel Cambridge”, de Eliane Caffé, e “Mulheres Radicais”, de Isabel Nascimento e Isabel de Luca. “O Festival surgiu como uma proposta em 2021, em um contexto de saída ainda da pandemia, quando as pessoas estavam sentindo muita falta de ir ao cinema”, explica a administradora Laudy Lins Campos, diretora executiva do Festival Cinema de Verão.
Desafio do cinema brasileiro
O Brasil é um dos maiores consumidores de filmes estrangeiros no mundo, em abril do ano passado, a Agência Nacional do Cinema (ANCINE), divulgou uma pesquisa sobre o desempenho dos filmes estrangeiros e brasileiros em 2023 nas telas, onde foram lançados 161 longas-metragens nacionais e 254 estrangeiros. Em um cenário pós pandemia verifica-se que a recuperação do mercado de cinema no Brasil acontece num ritmo ainda mais lento que em vários outros mercados relevantes. Os filmes nacionais levaram 3,7 milhões de espectadores aos cinemas em 2023, fatia que representa 3,2% do público, o resultado é 84,6% menor que em 2019 (período antes da pandemia).
O filme nacional de maior público em 2023, ‘Nosso Sonho’, ultrapassou 500 mil ingressos vendidos, mas ainda assim ficou atrás dos lançamentos internacionais como ‘Barbie’ (10,7 milhões de ingressos), ‘Super Mario Bros’ (6,6 milhões) e “Velozes e Furiosos” (6,5 milhões), isso evidencia o domínio do mercado cinematográfico internacional. “A hegemonia do mercado americano ainda é um fato e essas obras ocupam lugar de destaque na mídia convencional e no perfil de consumo da nossa gente. A plataforma que montamos é realmente muito necessária nesse contexto”, afirmou Laudy.

Crédito: Brendha Souza
A facilidade de acesso a produções estrangeiras também é um fator importante. Plataformas de streaming como por exemplo Netflix e Amazon Prime, oferecem uma grande lista de títulos internacionais, tornando o consumo de cinema estrangeiro ainda mais acessível e atrativo. Há grande predominância de filmes de grande orçamento, geralmente dublados ou legendados em português, facilitando a inclusão do público nacional, neste cenário o cinema brasileiro encontra desafios para conquistar o mesmo espaço nas telas e nas preferências do público. Fatores como orçamento reduzido e menor investimento em campanhas de marketing dificultam a visibilidade de muitas produções brasileiras. “Acho que o festival tem bastante impacto na região pela visibilidade e por toda a experiência proporcionada de consumo dessas obras, chega a ser educativo e um processo de formação de público para o mercado brasileiro”, destacou a produtora. “Além dessa camada, temos a questão de o cinema brasileiro não ser muito difundido e apreciado pelo público geral. É algo que os profissionais de cultura vêm combatendo desde sempre, e o festival surge como essa força também, para mostrar que a produção de cinema brasileiro está em alta, produzindo muitas obras de muita qualidade, como pudemos ver agora com a vitória do Oscar de “Ainda Estou Aqui”.
Difusão Cultural
Os lugares onde o festival aconteceu abriu espaço para que a cultura da cidade fosse exposta. A escolha de locais como o Museu de Artes de Joinville (MAJ), o Instituto Internacional Juarez Machado (IIJM) e a Associação dos Artistas Plásticos de Joinville (AAPLAJ) para sediar o festival reflete a diversidade de espaços culturais da cidade, proporcionando aos participantes e ao público uma imersão em diferentes ambientes artísticos. Proporcionando um momento para conhecer produções inovadoras e também para reforçar a importância do cinema como ferramenta de expressão cultural.

Instituto Internacional Juarez Machado (IIJM)
“Eu acho muito legal ter eventos desse tipo, porque não temos muitos eventos culturais aqui na cidade. Então é bom para termos uma outra visão e perspectiva de tudo, também do artista, que eu acabei de visitar, nunca tinha vindo ao museu Juarez Machado antes”, declarou Maria Fernanda, massaterapeuta e uma das visitantes do segundo dia do evento. “Já havia tido em outros eventos antes, mas aqui é realmente outra perspectiva, em meio a todas as artes, nessa pegada mais artística”.
A segunda edição do Festival Cinema de Verão trouxe junto a ele não apenas a difusão do mercado cinematográfico nacional, mas além disso a reflexão sobre a arte como meio de expressão.