
Cineclube Outubro: um espaço para o cinema nacional e a cultura acessível em Joinville
Com sessões gratuitas, a associação sem fins lucrativos promove debates e formações para ampliar o acesso a cultura cinematográfica
Por: Camila Schatzmann Gomes
Criado em 2023, o Cineclube Outubro surgiu em Joinville como um coletivo voltado à exibição, formação e produção cinematográfica. Com sede no bairro Aventureiro, a associação sem fins lucrativos vem se consolidando como um importante espaço cultural na cidade, com ações que incluem oficinas, sessões comentadas, mostras e parcerias com instituições locais.
O coletivo foi idealizado pelo jornalista João Diego, mestre em Artes e especialista em cinema, juntamente com o professor de Língua Portuguesa Josiano Godoi. Posteriormente, passou a contar também com a cineasta e crítica de cinema Jéssica Frazão e a historiadora Ana Caroline Oliani. Desde o início, o grupo se propôs a atuar de forma colaborativa, compreendendo o cinema como uma ferramenta de reflexão crítica e transformação social. “Não nos enxergamos apenas como um projeto; somos uma organização voltada para o público e apaixonada pelo cinema”, explica Ana Caroline, produtora executiva do Cineclube Outubro desde 2025. “Nosso objetivo é criar um espaço para exibir, formar e fazer cinema, além de transformar a realidade da nossa sociedade, começando pela comunidade do Aventureiro.”
Em 21 de setembro de 2023, o Cineclube Outubro, por meio do programa Cultura Viva, do Ministério da Cultura, passou a ser reconhecido como Ponto de Cultura, sendo, assim, oficializado como associação cineclubista.
Como funciona o Cineclube Outubro
Entre as principais atividades, o Cineclube Outubro promove formações teóricas, como a dedicada à Nouvelle Vague (em tradução livre, “Nova Onda”), um movimento cinematográfico francês que surgiu no final da década de 1950 e início dos anos 1960. Esse movimento rompeu com as convenções do cinema clássico, rejeitando a estética hollywoodiana tradicional. Os cineastas da Nouvelle Vague buscavam criar um cinema mais autêntico, que refletisse a realidade e os sentimentos de forma direta, priorizando a liberdade criativa e uma linguagem cinematográfica pessoal.
Além de formações teóricas, o Cineclube realiza exibições e apresentações públicas, muitas delas em parcerias com escolas, universidades, sindicatos e centros culturais. Também participou da Mostra Internacional de Cinema Infantil e organizou a Mostra de Cinemas Brasileiros na Univille, assim ampliando o diálogo sobre a sétima arte em nossa região, termo usado pelo teórico e crítico de cinema Ricciotto Canudo (1877-1923), propondo o reconhecimento do cinema como uma forma de arte, juntamente com outras seis formas: pintura, escultura, música, literatura, dança e arquitetura.
Curadoria
A curadoria do Cineclube é conduzida pela cineasta Jéssica Frazão, que também é professora de Cinema e Audiovisual na Univille e pela programadora Carolina Cavagnolli. Os filmes são selecionados por meio de editais públicos, e a escolha é feita com base em temáticas sociais relevantes como meio ambiente, direitos humanos, trabalhadores e educação.
“Sempre afirmamos que o trabalho de curadoria é semelhante ao de um chef de cozinha, e no nosso caso, cozinha brasileira. Recebemos uma rica diversidade de filmes, cada um trazendo a essência e as características de diferentes regiões do país”, explica Jéssica. “Com isso, oferecemos ao público uma seleção cuidadosamente elaborada para que possa ampliar seu “paladar” cinematográfico, enriquecer sua cultura e experimentar os ingredientes e combinações que refletem a diversidade do Brasil. Assim como na gastronomia, cada filme é uma nova receita que contribui para um banquete cultural inesquecível.”
O Cineclube Outubro está aberto para quem quiser exibir seus curtas ou sugerir produções regionais para a programação. É só preencher o edital de inscrição pelo link: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSdw6sCGOOMkQdM1vd1XUCsPIQcphgKTZaAldWM0qXl70kUQ8Q/viewform?fbclid=PAQ0xDSwKUZLxleHRuA2FlbQIxMAABp8dnTDj1eufHvUB31XkrR1hRpWiE465GRaGyyH1cg63qpLY1Jz61K1P0wpjj_aem_vhwbI6Alj-7pKi8KkmI4Ag
Desafios e visões para o futuro
Atualmente, por ser uma instituição recém legalizada, a associação ainda não possui associados suficientes para contratar um quadro de funcionários. Por isso, o Cineclube funciona com duas frentes: quem está contratado para a parte técnica, por meio dos projetos aprovados em editais, e quem atua de forma voluntária, como associado ou membro da diretoria. Ainda assim, os colaboradores atuais desejam que esse número cresça.
Nos últimos dois anos o projeto foi contemplado com o Prêmio Catarinense de Cinema, edição especial Lei Paulo Gustavo, uma iniciativa da Fundação Catarinense de Cultura (FCC) e do Governo de Santa Catarina, realizada para apoiar o audiovisual catarinense. Os projetos selecionados nesta categoria recebem financiamento para a produção ou realização de obras audiovisuais.
A vitória consecutiva em 2023 e 2024 contribuiu para visibilizar as atividades do Cineclube. “Para nós, a participação no Cineclube vai além de um simples emprego; é uma forma de militância cultural. Estamos comprometidos em construir um cenário cultural enriquecedor na cidade, promovendo o cinema como uma ferramenta de transformação social e engajamento comunitário”, afirma Ana Caroline.
Ainda sem um apoio financeiro permanente, o coletivo busca construir um modelo de sustentabilidade baseado na participação da comunidade. Uma das metas é ampliar o número de associados e garantir maior estabilidade financeira para seguir com as ações culturais de forma autônoma. “Todas as nossas atividades são organizadas de forma gratuita, e nosso desafio é conquistar essa independência financeira”, comenta João Diogo, um dos presidentes do Cineclube Outubro.
O impacto do Cineclube Outubro em Joinville tem sido expressivo. Trata-se do único cinema de rua fora do circuito comercial da cidade, com foco exclusivo na exibição de curtas-metragens nacionais. A atuação em um dos maiores bairros da cidade, o Aventureiro, e a proposta de organização democrática, com assembléias abertas, membros associados e decisões coletivas, tornam a associação uma referência cultural. “Nosso impacto é político, pois buscamos organizar a comunidade em torno do cinema, incentivando-a a ver, estudar e aprender”, pontua Jéssica. “Mais do que isso, queremos que nossas ações promovam mudanças sociais significativas. O filme é uma janela para o mundo, tanto na sua produção quanto na sua exibição.”
Mesmo com o crescimento e a receptividade do público, um dos principais desafios enfrentados pela equipe do coletivo tem sido o tempo. Com suas dedicações não sendo exclusivas ao Cineclube, os integrantes, algumas vezes, não conseguem atender prontamente a todos os convites e demandas que recebem. Ainda assim, mantêm o compromisso com a qualidade e continuidade das ações, refletindo a importância do engajamento coletivo para o fortalecimento da associação.
Para o futuro, o Cineclube Outubro planeja expandir suas atividades, com novos ciclos de formação, cursos e ações voltadas à integração entre cinema e educação. O público interessado pode se associar e participar das atividades através do formulário: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSdEO3piQZpAImNI5e9cIRpbpXKoOZ6m1a3TW4Nw_CE-MhKBww/viewform?fbclid=PAQ0xDSwKUZJRleHRuA2FlbQIxMAABpwhjgicLqRBllVcv8oClTwUJnlennjbiRSZeBUVpT_mkrP-rAhMQSYBFjVnq_aem_7etPcU-IcgZHYAaLAXeA5w
“É fundamental entender que nosso objetivo vai além do conhecimento por si só; queremos ajudar a comunidade a se apropriar do cinema como um elemento de transformação social. Juntos, podemos contribuir para a mudança na sociedade em que vivemos”, explica João. O convite é aberto a todos, para quem gosta de assistir filmes, explorar o universo cinematográfico e também produzir.