
Um sonho se torna realidade
Quem é o menino que aos treze anos saiu de casa para buscar a profissionalização no futebol
Por Julia Moloies e Giovanna Marques
Quanto vale um sonho? Ficar longe da família e amigos, viver sozinho em um Centro de Treinamento em uma cidade completamente estranha, ter uma rotina de treinos e estudos regrada. Essa é a vida de Gabriel Gama, hoje com 19 anos, desde dos seus 13 anos, dividido entre a saudade da família e a chance de construir sua carreira dos sonhos como jogador de futebol. Gabriel é natural de Araçatuba, interior de São Paulo. Nostálgico, ele relembra que lá deu seus primeiros passos como jogador ao entrar na escola de futebol com apenas quatro anos. O caçula da família sempre foi apoiado pelos pais, que o incentivaram e prestigiaram todos os estágios da carreira do filho. “Meus pais me apoiam desde os meus quatro anos até os dias de hoje. Eles sempre me apoiaram. Aconteceu alguma coisa positiva ou negativa, eles estavam sempre comigo. Tanto meus pais como minha família”, afirma Gabriel. Para o jogador, a fase das peneiras é sempre a mais tensa para os futuros atletas. Normalmente são 50 a 100 meninos, de 11 a 19 anos, que lutam por uma chance de crescer na carreira. Por exemplo, o Neymar, inspiração de muitos jovens que buscam a carreira de jogador profissional, antes de ser selecionado por um time profissional chegou a participar de 32 peneiras. Ao longo de sua carreira, Gabriel diz ter participado de pelo menos 15 peneiras.

Após muita dedicação, sacrifícios e resiliência, a primeira contratação de Gabriel aconteceu aos 13 anos. Com um sorriso no rosto, ele relembra que na ocasião foi selecionado para o time de base do Avaí Futebol Clube na capital catarinense, a aproximadamente 927 km de distância da sua casa. Por ser muito jovem na época, sua mãe o acompanhou na cidade até os 14 anos e seu pai vinha todo mês ver a família. Lá ficou pouco tempo, mas foi onde se sentiu mais sozinho. “Eu sempre fiquei em casa , nunca tinha saído. Mudar de cidade com 13 anos, só eu e minha mãe, foi bem difícil.” Aos 16, foi morar mais perto de casa, em Minas Gerais, quando passou a ser jogador do Inter de São Gotardo. Em novembro de 2023 o tão sonhado contrato profissional veio pelo Joinville Esporte Clube (JEC), na maior cidade de Santa Catarina. “Assinar o contrato foi muito emocionante. Foi um sonho realizado, porque desde que comecei a jogar bola pensava em assinar meu primeiro contrato profissional. Fez eu me manter mais firme para poder realizar mais sonhos.” Atualmente, Gabriel está no sub-20 do clube e tem uma rotina dura de treino junto de outros 25 meninos. O alojamento do Centro de Treinamento, localizado no bairro Morro do Meio, conta com diversos quartos compartilhados pelos meninos, que convivem o dia todo juntos. Ao acordar, eles tomam café e correm para a academia onde tem treino de fortalecimento. Depois, são duas horas de treino no campo e almoço. Durante a tarde, livre de compromissos, Gabriel divide sua atenção com o curso de Educação Física. “Escolhi Educação Física porque já é (uma área) ligada com esporte e queria aprofundar mais sobre o corpo e como o esporte funciona. É bom para quando eu terminar minha carreira e ter uma chance de continuar no esporte.” Essa é sua rotina cinco vezes por semana, podendo ser mais intensa em semanas de competição. A fé se torna força “Conviver com a saudade da família é difícil, porque você é acostumado com coisas que fazia com sua família. Aqui você só tem você mesmo”, relata.

O principal problema em não estar perto dos conhecidos é o constante sentimento de solidão. Para Gabriel, sua fé foi a principal aliada para combater essa sensação. “A fé me ajudou, porque me mostrou que eu não estou sozinho. Eu tenho Deus comigo em todos os momentos e Ele sempre me dá suporte.” Participando de missas e grupos de jovens, ele se viu pertencer de novo a uma comunidade. Sua conexão com a fé trouxe a ele um pouquinho de casa, mesmo estando tão longe. “O grupo me ajuda a sentir menos saudade da minha família, porque não fico pensando. Se eu não estou fazendo nada, fico pensando que eu poderia estar com minha família. Além de ajudar a fazer amigos, a não ficar sozinho na cidade.” Com um olhar sonhador, Gabriel conta sobre suas expectativas para o futuro. “Espero ser reconhecido pelo que eu vou fazer, pelo que eu fiz na minha carreira, ter fama, dar orgulho para a minha família e ajudar eles. Fazer carreira dentro e fora do país.” Sonhando ainda mais alto, o desejo que mora no coração do jogador é ser convocado pela seleção brasileira e ter a oportunidade de representar o Brasil nos gramados mundo afora.
