
Como Treinar o Seu Dragão – Peraí, de novo?
Por Guilherme Beck Scolari
Desde que a Disney começou a empurrar sua divisão de produções live-action de forma incisiva, uma forte discussão sobre o esgotamento criativo da indústria cinematográfica se iniciou. Embora muito criticadas por não possuírem “alma” e por, muitas vezes, piorarem clássicos já conhecidos, as versões “com pessoas” das animações raramente falham em trazer muito dinheiro para os cofres dos estúdios. Nesse contexto, a DreamWorks decidiu abraçar a proposta dos remakes em live-action com um de seus maiores sucessos – e uma das minhas animações favoritas do estúdio: Como Treinar o Seu Dragão.
Conceitualmente, não acho que os live-actions sejam abominações cinematográficas, como muitos julgam por aí. Entretanto, preciso destacar que sinto certo cansaço com esse tipo de longa, que, por vezes, se contenta em apenas “requentar” aquilo já visto na animação, com pouco cuidado ou criatividade. Apesar do ceticismo inicial, seria mentira dizer que não me diverti com essa nova versão de Como Treinar o Seu Dragão.
A mudança de formato traz diferenças significativas em relação ao longa original, já que, por exemplo, um dragão fotorrealista transmite muito mais medo do que sua versão animada. Além disso, a sensação de escala, somada à excelente implementação do som, resulta em cenas de ação de tirar o fôlego, nas quais cada impacto e rugido impressionam! Em contrapartida, a vertente realista acaba dando um tom mais sério ao longa, que, às vezes, entra em conflito com os momentos mais leves do roteiro, transmitindo uma artificialidade não presente na animação. Soma-se a isso uma certa sensação de estranhamento ao ver uma recriação praticamente idêntica ao original, mas, dessa vez, sem as surpresas que se tem ao ver um filme pela primeira vez. A duração levemente maior dessa versão – que possui 1 hora e 56 minutos – também evidencia o excelente aproveitamento de tempo do longa de 2010, que, com apenas 1 hora e 38 minutos, consegue fechar com perfeição sua história e seus arcos de personagens.
Em relação aos atores, todos entregam o que é exigido – ainda que causem uma certa estranheza pela recriação visual quase perfeita em relação ao filme animado. Mason Thames, que dá vida a Soluço, vem ganhando cada vez mais espaço na indústria, tendo um semblante semelhante ao de Heath Ledger e encantando com seu carisma juvenil. Nico Parker, embora visualmente diferente da Astrid animada, encarna sua personagem com confiança, trazendo toda a destreza necessária. O grande destaque do elenco fica com Gerard Butler, que tem uma presença de tela estóica que casa perfeitamente com seu personagem – vulgo Stoico, maximizando o arco do personagem para além da animação, com uma performance multifacetada e imponente.
No mais, os efeitos especiais são motivo de elogio, sendo essenciais para a construção do universo e funcionamento desta versão. Banguela ganha vida e encanta com o charme de sua versão animada, assim como a perfeita integração dos efeitos práticos com os digitais. Além disso, a trilha sonora se mantém no nível da original – com pequenas diferenças que agregam à nova versão, sem descaracterizar o excelente trabalho da trilha de 2010.
Minha recomendação para aqueles que têm interesse em reviver a história de Soluço e Banguela – e, acima de tudo, não se incomodam com a proposta dos live-actions – é que o longa seja assistido na maior tela possível, pois o terceiro ato, assim como as cenas de voo, trazem uma experiência digna de IMAX, aumentando o impacto visual daquilo que já foi visto na animação, mesmo sem, necessariamente, fazer isso pelo lado emocional.
Avaliação: 3,5/5 ⭐️⭐️⭐️½
