
Do resgate de animais ao powerlifting, a história de Marli Piekarski
Aos 63 anos, ela é uma das protagonistas no resgate de animais em Joinville e recordista em levantamento de peso.
Pro Daniela Cunha e Matheus Mafra
No Brasil, mais de 20 milhões de cães estão em situação de abandono. Entretanto, em Joinville, no norte de Santa Catarina, há uma personagem determinada em reverter esse quadro.
Em uma casa alugada, no final de uma rua do bairro Vila Nova, mais de 20 cães resgatados se abrigam em pequenos compartimentos, aguardando um lar quentinho e cheio de amor. Apesar das dificuldades, os cachorros brincam entre si e têm na “Dona Marli”, dona do abrigo, uma fada madrinha.
Marli Piekarski, de 63 anos, é natural de São Bento do Sul. Seu primeiro contato com o resgate de animais ocorreu em campanhas de doação de ração. Logo chegou o Jhony, o primeiro cãozinho que ajudou. “Ele chegou todo quebrado, levei para fazer cirurgia. Foi para a minha casa fazer a recuperação e nunca mais saiu”, conta.
Hoje, 20 anos depois, ela é presidente da Apajoi (Associação de Protetores de Animais de Joinville) e proprietária da Casa da Mama, lugar destinado à recuperação para os animais que ela e outros voluntários resgatam.
O começo foi conturbado. A sugestão de ter uma casa para acolher os animais resgatados foi de uma amiga e, segundo Marli, ela foi “pé no chão” e contra a ideia. “Falei que isso afetaria nossa amizade, que é um compromisso muito grande e que certamente geraria contradição… ‘Bingo’, dois anos depois, ela não aguentou”.
Emocionada, Marli sabe das dificuldades e turbulências como ninguém. É um trabalho de domingo a domingo, sem folgas, isso sem contar a parte financeira, alimentação e limpeza. A Casa da Mama está com R$ 22.260,90 em dívidas, após diversos tratamentos e cirurgias necessárias para salvar a vida dos animais. Os voluntários precisaram abrir uma vaquinha online para arrecadar fundos.
“Ser forte nas perdas e continuar dia após dia me afeta. Eu não posso e nem tenho tempo e direito de cair, faltar para os outros, porque lá eles dependem de mim”, explica. “Às vezes, só quero um buraco para me esconder.”
A saúde mental das pessoas que resgatam bichinhos ou têm a causa animal no centro de suas vidas ainda é pouco debatida, mas estudos já mostram que esses indivíduos têm mais probabilidade de desenvolver doenças como depressão e ansiedade. Existe até um termo para esse tipo de burnout: fadiga por compaixão.
Felizmente, Marli não caminha por essa estrada sozinha. Jennifer Caroline Ernst é voluntária na Casa da Mama há cinco anos e cita Piekarski como sua inspiração. “A Marli me inspira a ser forte e a lutar por eles todos os dias com unhas e dentes, como também a enxergar o antes e depois de cada caso; saber que saiu de uma situação de abandono e depois deu tudo certo, com eles saudáveis, vacinados… isso não tem preço e valor que se pague”, declarou.

Uma mulher (literalmente) forte
Além da causa animal, Marli surpreende ao revelar sua outra paixão: o powerlifting, esporte de força que envolve o levantamento de peso com agachamento, supino e levantamento terra.
Há 30 anos, quando a intolerância ao glúten não era muito debatida, Piekarski quase perdeu sua vida antes do diagnóstico. Foram inúmeros exames e tratamentos, o que a fez perder uma quantidade enorme de massa muscular. Por recomendação médica, passou a frequentar a academia e foi assim que descobriu e se apaixonou pelo esporte.
“Sou recordista e atual campeã brasileira e mundial da minha categoria [Master 5]. Em outubro, o campeonato será no Brasil. Vou tentar defender e levantar meus recordes”, conta com a confiança digna de uma super-heroína moderna.