
Tarifaço de Trump traz reflexos para a economia de Joinville
Joinville já registra perda de vagas industriais e vê o polo metalúrgico sob risco de cortes. Entenda os motivos
Por Marcelo Ferreira

A tarifa de 50% sobre os produtos importados do Brasil, em vigor desde a primeira semana de agosto, já pode ser sentida de maneira negativa no setor produtivo joinvilense. Com o chamado tarifaço, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, busca uma retaliação à postura do STF no processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, cujo julgamento iniciou nesta terça-feira, 2.
Um posicionamento um tanto quanto contraditório, pois ao mesmo tempo em que Trump chama o inquérito de “caça às bruxas”, ele também afirma não ser amigo de Bolsonaro.Mas como isso influencia Joinville na prática? A alíquota de 50% em cima de produtos brasileiros pesa fortemente em Joinville devido a nossa forte indústria exportadora, que representa 35% do PIB municipal, cerca de R$ 15 bilhões na economia joinvilense. Agências bancárias com foco empresarial, como o Sicredi por exemplo, vem sentindo esta movimentação por conta das estratégias de crédito adotadas por clientes.
Kethlen Pohl, gerente de investimentos do Sicredi, afirma que ao fim do primeiro mês após o anúncio do tarifaço, um ar de incerteza permeia o cenário econômico. Todos estão um pouco reticentes, tanto aqueles afetados diretamente pelas tarifas, quanto aqueles que não foram afetados também.
A especialista também explica que à medida que você faz parte de uma cadeia e esta cadeia é afetada, você pode ser impactado, ainda que de maneira indireta, por conta de seus clientes ou fornecedores no final do fluxo de compra e venda.
“Além do impacto direto em alguns setores e produtos, nós percebemos que as pessoas estão com muito receio com a velocidade com a qual as informações vem mudando”, afirma Kethlen.
Algumas empresas já consideram férias coletivas para os funcionários, cortes de orçamento e redução do quadro de funcionários. Medidas radicais e extremas, porém necessárias para tentar controlar o prejuízo inesperado.
Em momentos como este, CEOs, gestores e tomadores de decisões do setor financeiro precisaram rever sua base de clientes e fornecedores, principalmente para os exportadores ou importadores.
A alternativa para essa situação seria buscar novas maneiras de tornar as operações rentáveis, avaliando para quais países é possível vender para diminuir o volume de distribuição e focar na prospecção ativa de novos mercados.
O tiro tem tudo para sair pela culatra
João Kamradt, professor e Head de Pesquisa e Investimentos em crypto, afirma que o tarifaço afirma que o tarifaço de 50% do Trump nos produtos brasileiros mostra claramente o desespero dos norte-americanos com o crescimento do BRICS e a China ganhando espaço por aqui. Mas o tiro tem tudo para sair pela culatra, ao misturar economia com política e usar as tarifas como chantagem no caso de Bolsonaro. Trump está literalmente empurrando o Brasil pro colo da China e acelerando justamente o que ele mais teme, que é o fim do domínio do dólar e o surgimento de alternativas de pagamento internacional que não dependem dos Estados Unidos.
RH fazendo hora extra
Dados oficiais do Ministério do Trabalho revelaram que, em julho de 2025, Joinville perdeu 818 vagas industriais, sendo 2.750 contratações contra 3.568 demissões — um saldo negativo marcante para o período pós-pandemia.
O layoff, termo em inglês para representar “demissão em massa” no Linkedin, foi uma realidade do setor de tecnologia nos últimos três anos, contanto, foram necessários dois anos de saturação do mercado para chegar a este ponto.
Na prática, o que vem ocorrendo são empresas demitindo funcionários e dando férias coletivas após um mês de tarifaço, levando em conta que entrou em vigor somente após o dia 1 de agosto. Lembrando que muitas das empresas tomaram decisões ainda no mês de julho, como uma espécie de ação preventiva, igual quando você mergulha na praia para desviar da onda vindo em sua direção.
Esta combinação de perda de competitividade e retração da demanda externa acende alertas sobretudo no segmento metalúrgico, fornecedor de insumos para veículos pesados e máquinas.
Sendo Joinville um polo metalúrgico vital para Santa Catarina, os dados do primeiro semestre de 2025 apontados pelo Caged já indicavam uma retração e rotatividade no mercado de trabalho em Joinville, porém os números tendem a crescer até o final do ano.