Lendas do Futebol Joinvilense: O Dia em que o América recusou Pelé
Entre os causos que atravessam gerações no futebol joinvilense, poucos são tão instigantes quanto a suposta recusa do América de Joinville a um jovem Pelé, então promessa do Santos. A história, repetida em rodas de torcedores, reportagens locais e memórias de antigos dirigentes, situa-se em fevereiro de 1957, quando o time da Vila Belmiro esteve em Joinville para um amistoso.
Segundo esses relatos, os dirigentes santistas teriam oferecido o garoto de 15 anos em troca do ídolo americano Euclides, astro maior da equipe tricolor na época. O que para nós hoje soa como um equívoco quase inacreditável, para o contexto da época não parecia tão absurdo: Pelé ainda não havia despontado para o mundo, e Euclides era reverenciado na cidade como craque incontestável.


A narrativa, no entanto, encontra-se suspensa entre mito e história. Não há documentos que comprovem a negociação. Nenhuma ata de reunião, nenhuma carta entre clubes, nenhum contrato rasgado em gavetas antigas. O máximo que o passado nos legou é uma única fotografia: o América enfileirado para o jogo contra o Santos, registro congelado de uma tarde que, real ou lendária, ganhou vida própria na tradição oral da cidade.
Essa escassez de provas transforma a lenda em objeto de fascínio e dúvida. Estaria Joinville diante de uma das maiores “não-contratações” do futebol mundial? Ou seria apenas uma anedota criada no calor das comparações e das memórias afetivas?
Mais do que buscar uma resposta definitiva, revisitar o episódio é mergulhar na relação da cidade com seu clube e sua paixão pelo futebol. Talvez a chave esteja nos jornais de fevereiro de 1957, em atas perdidas nos arquivos do América e do Santos, ou na memória dos poucos que ainda testemunharam aquele amistoso. O certo é que, até que surjam novas evidências, a história permanecerá nesse território fértil entre a realidade e a lenda, e talvez seja justamente aí que reside sua força.
