
Entre lançamentos de dardo e arremessos de peso, Edenilson leva sua vida às alturas
Por Aimêe Martins e Caroline Kolling
Em meio a mais de 20 atletas na pista de atletismo da Univille, encontram-se crianças e adultos, aspirantes e medalhistas olímpicos. Edenilson Roberto Floriani é natural de Joinville e leva o nome da cidade tão longe quanto o seu arremesso de peso e o seu lançamento de dardo.
Edenilson começou no esporte cinco anos após sofrer um acidente de trânsito que causou atrofia no joelho e na articulação de quadril do lado esquerdo. Entretanto, o atletismo não foi amor à primeira vista. Em meio a dificuldades de se aceitar como uma pessoa com deficiência, o esporte foi uma porta de entrada para uma nova vida.
Hoje, as pistas de corrida são seu habitat e sua equipe é como uma família. Eliandro Braz, seu técnico há nove anos, é “pai” de 30 atletas e, com Edenilson, não é diferente. A relação tem seus altos e baixos, elogios e provocações, pulso firme e amizade, tudo isso faz parte de suas carreiras vitoriosas. Entre esses anos, Eliandro destaca: “Ele ter ganho a medalha de bronze no Mundial de 2023, pra mim foi muito marcante, sim! Eh, um momento que eu me consagro também técnico medalhista mundial, porque o resultado não é só dele e não é só meu. Eu acho que é um trabalho em equipe”.
Ao final do treino matinal, Edenilson recolhe seus materiais enquanto encontra outros praticantes. Cumprimentos e piadas fazem parte do cotidiano dos atletas. Mesmo quando não está presente, Edenilson é sempre lembrado nas rodas de conversa por ter tempo para todos.

Segundo Edenilson, uma ajuda sempre é bem-vinda, de preferência se for ele quem estiver fazendo o favor. Quem sobe ao pódio também não se ergue sozinho. Sua noiva, Camila Cristina de Oliveira, foi quem o introduziu no paradesporto e é quem está ao seu lado desde o primeiro dia. No Parapan, no Chile, ela e a mãe de Edenilson puderam vê-lo competir de perto.
“Foi uma competição que ele ganhou dois ouros . A gente conseguiu escutar o hino nacional, ver ele no pódio, foi bem emocionante”, lembra. “É, é muito legal, a mistura de torcidas de vários países, várias culturas e todo mundo junto”.
Nas ruas, na academia, em corridas com a Camila, sempre que possível Edenilson veste o uniforme do Brasil.É uma segunda pele que se tornou o normal para os que o conhecem, o anormal é ver Edenilson trajando algo que não seja verde e amarelo. Mas trabalho é trabalho e quando está fora das pistas, o atleta vai para outro campo, o do golfe, hobby que começou na adolescência.
Aceitar leva tempo
Ao falar sobre o acidente, Edenilson revela o longo período de negação diante da deficiência e a raiva intensa que guardava contra o homem responsável por mudar sua vida. Foram cinco anos de altos e baixos, até que ele se encontrou no esporte e, a partir do contato com as outras pessoas, pouco a pouco passou a aceitar e deixar essa mágoa para trás. “Quando eu fui fazer meu primeiro Parajasc, eu vi que minha deficiência, comparada com muitas outras, era mínima. Decidi me aceitar do jeito que eu sou, do jeito que Deus quis”.
Agora, de olho no futuro, Edenilson intensifica sua preparação para o Mundial da Índia, que acontece no próximo mês. Mas seu olhar vai além, ele já traça o caminho para os Jogos Paralímpicos de Los Angeles, em 2028, onde espera transformar toda sua disciplina e determinação em uma medalha inédita.