
Criatividade e autoria em tempos de IA movimentam a SIC
Encontro da SIC apresenta as possibilidades e os riscos da IA, destacando desafios e perspectivas para o futuro criativo
Por Priscila Pereira
A Semana de Integração Científica (SIC) de terça-feira reuniu estudantes, professores e convidados no anfiteatro da Ielusc/centro para discutir um dos temas mais desafiadores da atualidade: o impacto da inteligência artificial na produção criativa e autoral. A programação do segundo dia foi conduzida pela Professora e Doutora Geórgia Pelissaro dos Santos, que acompanhou as atividades do encontro, destacando a importância do debate para os cursos de comunicação e áreas afins.
Sob o título “Criatividade e Autoria em Tempos de IA”, o encontro promoveu uma reflexão abrangente sobre como as novas tecnologias estão redesenhando o cenário audiovisual, jornalístico e artístico. A programação contou com uma abertura do curso de Publicidade e Propaganda (PP), que trouxe a apresentação do Grupo Ginga, formado por acadêmicos da segunda fase. A coreografia “Euforia em Movimento” havia conquistado o primeiro lugar na modalidade artística do GIA 2025, evento interno dos Jogos da IELUSC. Inspirada em referências internacionais, mas reinterpretada com elementos da cultura brasileira, a performance uniu ritmo, expressão corporal e criatividade, marcando a integração entre arte e comunicação na programação da SIC.

Na sequência, os palestrantes Alceu Bett, artista visual, cineasta e produtor cultural, e Leo Roat, diretor criativo e especialista em inovação, IA e audiovisual, conduziram um panorama sobre as transformações aceleradas pelas ferramentas digitais.
Os convidados destacaram que a inteligência artificial generativa é apenas uma entre diversas aplicações possíveis da IA, assim como a eletricidade e a internet se desdobraram em infinitos usos. A subcategoria generativa, que hoje mais impressiona pelo potencial de criar textos, imagens, vídeos, trilhas e efeitos sonoros, já se tornou parte integrante do processo de produção audiovisual. Segundo o debate, roteiros, casting, edição, pós-produção, trilhas e até locuções podem ser feitos ou acelerados por algoritmos, permitindo que projetos inteiros sejam desenvolvidos em menos tempo e com custos reduzidos.

O encontro mostrou exemplos práticos dessa revolução: filmes produzidos com múltiplas inteligências artificiais, podcasts gerados a partir de textos brutos, efeitos sonoros criados em plataformas especializadas e aplicativos que remuneram usuários por dados e conversas. Também foram mencionadas ferramentas populares como Freepik, 11 Labs, Stable Áudio, Kling e Leonardo AI, que democratizam recursos antes restritos a grandes produtoras.
Apesar do entusiasmo com as possibilidades, a fala trouxe alertas importantes. Sem pensamento crítico e criatividade humana, o resultado tende a ser estético e discursivamente nivelado, repetindo padrões pré-existentes. A IA não possui desejo, subjetividade nem ponto de vista: cabe ao criador conduzir o processo, imprimir sentido e atravessar o “vazio imprevisível” que só o humano é capaz de transformar em arte. Assim, a tecnologia deve ser compreendida como instrumento e não como substituta do olhar autoral.

A discussão provocou reflexões sobre autoria, ética e representatividade. Foram citadas dificuldades de gerar conteúdos culturais específicos, como ritmos regionais ou sotaques , evidenciando lacunas nos bancos de dados das plataformas. Também se abordou o risco de automatização massiva do conteúdo online até 2028, com roteiros, imagens, trilhas e publicações sendo feitos de ponta a ponta por algoritmos, o que exige novos critérios para validar originalidade e responsabilidade.
O painel encerrou reforçando que a inteligência artificial, embora poderosa, não determina sozinha o futuro criativo. Cabe aos profissionais das áreas de comunicação, arte e tecnologia incorporar senso crítico, sensibilidade e inovação para que as ferramentas digitais sirvam como ampliação da expressão humana.