
Associação de moradores fortalece esporte, saúde e convivência em bairro de Joinville
No final dos Espinheiros, entidade reforma sede, amplia escolinhas e mobiliza a vizinhança com mutirões e apoio local
Por Priscila Pereira
O barulho das bolas na quadra reformada já faz parte da rotina do final dos Espinheiros, em Joinville. O que antes era espaço abandonado e marcado pelo uso de drogas voltou a ser referência comunitária. Criada em 1986 e reativada em 2022, a Associação de Moradores Final dos Espinheiros (AMFES) vem transformando abandono em convivência.
A retomada começou pela memória afetiva. “Minha motivação foram as crianças. A gente cresceu brincando no campinho, mas como estava abandonado virou ponto de drogas. Pensamos em arrumar o campo para elas voltarem a jogar. Depois, com a diretoria, as coisas começaram a vingar, arrumamos a sede, a quadra…”, relata Simão Chaves, dirigente da associação.
As marcas das mudanças são visíveis. A quadra poliesportiva revitalizada é hoje palco de treinos e torneios, e o número de atividades cresceu. “Depois das reformas, o público aumentou bastante. Só tinha uma escolinha antes, agora temos três”, acrescenta Simão. Atualmente, a AMFES mantém escolinhas de futebol, vôlei e futevôlei, que concentram o maior público entre 6 e 11 anos.

A associação também abriga atividades do programa municipal Movimenta Joinville, programa da Prefeitura que leva atividade física gratuita para diferentes bairros da cidade. Voltado a jovens, adultos e idosos, o projeto oferece modalidades como funcional, ritmos e voleibol adaptado, sempre com foco em saúde e qualidade de vida, na sede da AMFES, o programa acontece durante as manhãs de terças e quintas-feira, reunindo moradores em exercícios de alongamento e força, além de estimular a convivência.
O espaço não se limita ao esporte. Uma horta comunitária ocupa parte da sede e simboliza a integração entre vizinhos. Plantar, cuidar e colher juntos se tornou uma forma de convivência, em que cada morador contribui à sua maneira e fortalece os laços locais.

Para Osmar Antunes dos Santos, outro dirigente da associação, a relevância está no impacto direto sobre as famílias. “Os pais gostam muito da associação porque se sentem seguros em saber que os filhos estão aqui. É tirar os filhos da rua, tirar do celular. Ver as crianças brincando não tem preço.”

A manutenção da AMFES depende de diferentes frentes. Há mensalidades acessíveis nas escolinhas, patrocínios de empresas locais, cujas logomarcas ocupam os muros do campinho e ainda o apoio da comunidade em campanhas como rifas. A última arrecadou R$7.900. “Nossos patrocinadores ajudam muito, fazem acontecer muitas coisas boas. Sem a comunidade, nada acontece”, reforça Osmar.

O voluntariado complementa essa rede. Pelo grupo de WhatsApp da associação, 35 moradores se dividem em tarefas, por exemplo, em festas juninas um prepara a comida, outro cuida da decoração, enquanto outros assumem o papel de juiz ou bandeirinha nos torneios. “A comunidade faz a associação acontecer”, resume Simão.

Esporte contra o excesso de telas
O hábito de passar horas em frente a celulares, videogames e televisores já é apontado como um dos principais fatores de risco para a saúde mental infantil. Estudos brasileiros mostram que o tempo de tela acima do recomendado está associado à ansiedade, sintomas depressivos, dificuldades de sono e menor sociabilidade entre crianças e adolescentes. Um estudo recente (Revista FT) alerta que a exposição prolongada às telas pode substituir interações presenciais e reduzir oportunidades de desenvolvimento cognitivo e emocional e destaca que crianças que ultrapassam duas horas diárias de tela apresentam maior tendência a isolamento e baixa autoestima.
Como contraponto, a prática de esportes e atividades físicas coletivas aparece como fator de proteção. A atividade regular libera substâncias ligadas ao bem-estar, fortalece a autoestima e promove a convivência entre pares. Mais do que desempenho físico, o esporte contribui para que a criança aprenda a lidar com frustrações, respeite regras e se sinta parte de um grupo, habilidades fundamentais para o equilíbrio emocional.
Mutirão
No dia 13 de setembro houve um mutirão e movimentou a sede da AMFES desde cedo. Entre serras e martelos, mais de 30 pessoas se dividiram nas tarefas: alguns retiravam a cobertura antiga, outros encaixavam a nova estrutura, enquanto grupos menores cuidavam da limpeza e da organização do espaço.

A ação contou com a participação de moradores voluntários e também do deputado estadual Fernando Krelling e do vereador Pelé, que levaram cerca de 15 integrantes de suas equipes dentro do projeto “Dia do Bem”. Do lado da associação, outros 15 vizinhos se juntaram, formando uma força-tarefa que transformou a sede em poucas horas.
Segundo os dirigentes, a obra não só eliminou as goteiras que comprometiam o espaço, como também deu novo fôlego às atividades. “Foi super bacana. Eles entraram com a mão de obra e nós também, e o resultado foi ótimo”, avaliou Osmar Antunes dos Santos.
O clima era de cooperação. Simão Chaves mostrou no celular a publicação que convocava a comunidade pelo Instagram da associação. “A gente posta e cada um chama alguém: o amigo, o irmão, o tio. Quando vê, o bairro inteiro está envolvido”, resumiu.


Mas o olhar dos dirigentes vai além do presente. “A gente pensa em transformar a quadra de areia em campo sintético e cobrir a quadra de vôlei. São sonhos que dependem de recurso, mas seguimos lutando”, projeta Simão.

Ao fim da visita, a impressão é clara: mais do que uma associação formal, a AMFES é hoje um espaço de reconstrução comunitária. Entre o jogo de futsal das crianças, os cuidados na horta e os mutirões que mobilizam vizinhos, o Final dos Espinheiros mostra que uma comunidade organizada e motivada é capaz de transformar a sua própria realidade.