
“Ser quem sou é resistência”: trajetória de Larissa Stephanie, a candidata mais jovem a disputar em Santa Catarina
Por Giulia Kojikovski e Bianca Costa
O estalo veio cedo. No ensino fundamental, Larissa assistiu, perplexa, à cobertura de um feminicídio brutal em Joinville. A vítima, jovem como ela, foi esquartejada após sair para uma festa. O que mais a marcou foi a reação social. “Diziam que ela merecia, por beber, por usar certa roupa. Eu pensei: então eu também mereço morrer, só por querer viver minha vida?”.

Foi nesse incômodo que Larissa encontrou a política. Passou a seguir páginas feministas no Facebook e logo se engajou em atos públicos. Trabalhava o dia inteiro, estudava à noite, mas arrumava tempo para protestar. “Um dia vi uma manifestação do Passe Livre passando em frente à loja onde eu trabalhava. Saí correndo, entrei no ato de uniforme. Quando voltei, minhas colegas estavam de cara fechada. Ali senti que ser de esquerda vinha com um preço”.
Esse preço aumentou em 2022, quando disputou a eleição para deputada estadual, sendo a candidata mais jovem daquele ano. “As mulheres jovens enfrentam dupla deslegitimação: por serem mulheres e por serem consideradas inexperientes. Durante a campanha, os ataques eram diários. Recebi convites sexuais em troca de votos, fotos de homens desnudos e até ameaças físicas. A gente já sabe que não será bem-recebida nesses espaços, mas quando a violência é tão direta, o impacto emocional é forte”.

Apesar das dores, Larissa segue inspirada por nomes como Manuela D’Ávila, Erika Hilton e por mulheres de sua família. “Minha avó e minha mãe me ensinaram o que é resistência.” A amiga de infância, Luiza Bonessi Borgmann, 24 anos, confirma: “Na escola, ela já defendia os outros, sempre participativa. Quando virou candidata, vi de perto o quanto se entrega. É uma potência política real”.
Para Larissa, a política não se resume a eleições. “Se organize, participe do coletivo, da associação de bairro, do partido. Querem que a gente acredite que política não vale a pena. Mas é assim que tudo continua do jeito que está, beneficiando poucos. A política salvou minha vida e pode salvar a de muita gente”.
Sua rede de apoio é fundamental. A mãe, Lucimar Nunes da Silva, diz que o início na política foi um susto, mas não uma surpresa. “Ela sempre foi determinada, é uma guerreira”. O namorado, Rodrigo Lucas Pereira, acompanha de perto. “Ela é uma mulher foda. Amar, lutar, se doar, tudo nela é intenso. Claro que dói ver os ataques, mas eu dou o suporte que posso”.

Larissa segue com os pés na rua e o coração no futuro. Sua trajetória começou nos corredores da escola e nas manifestações de mochila e uniforme, mas hoje ecoa em espaços maiores. “A política não foi feita para mim, disseram. Mas decidi ocupar esse lugar mesmo assim. Porque ser quem sou já é resistência”.