A nova rota dos veteranos em Joinville
De maior artilheiro da história do JEC até campeão da Copa do Brasil, a Primeirona se consolida como um espetáculo à parte em Joinville
Por Raulino Dalcim
Nos últimos anos, o futebol amador da cidade vem ganhando holofotes pelo equilíbrio técnico e pela presença constante de atletas que já tiveram passagem pelo profissional. Em 2025, a média chega a quase sete jogadores por clube, reforçando o caráter competitivo da Primeirona. Muitas dessas contratações acontecem graças à rede de contatos de dirigentes e treinadores, que utilizam amizades construídas ao longo da carreira para contratar nomes de peso.
O perfil dos veteranos varia: alguns não atuam profissionalmente há anos e encontram no amador a chance de seguir jogando, enquanto outros chegam diretamente de campeonatos estaduais recentes. Dudu Silva, técnico do Sercos, equipe que conta com diversos ex-profissionais, comenta sobre a fase da Liga. “A Primeirona de Joinville cresceu tanto que hoje consegue atrair atletas ainda em boa forma física e competitiva”.
Nomes como Lima, Wellington Saci e Elizeu já vestiram a camisa do JEC e hoje defendem, respectivamente, Estacaville, Sercos e Juventus no futebol amador. No caso de vários jogadores, a decisão vai além do futebol nas quatro linhas, as questões pessoais e problemas físicos também fazem a diferença. O calendário mais flexível e a proximidade com a família se tornam atrativos. Cleyton Meireles, com passagens por Avaí e Brusque e atualmente também no Sercos, fala sobre principal recompensa de atuar no amador. “O futebol amador me devolveu a oportunidade de estar perto da minha família, isso não tem preço”.
O aspecto financeiro é outro ponto relevante. Hoje, clubes da Primeirona conseguem oferecer ajudas de custo comparáveis às categorias de base de equipes profissionais, o que amplia o interesse de jogadores experientes. Dentro de campo, a presença de atletas rodados reforça a confiança dos treinadores. Para Dudu Silva, a diferença vai além das quatro linhas. “A leitura de jogo, o posicionamento e a tomada de decisão fazem muita diferença. O comprometimento, a disciplina nos treinos e a forma como eles se preparam acabam influenciando os demais atletas”, completa o treinador.
Da elite ao amador
Com passagens por Grêmio, Cruzeiro e Fluminense, onde conquistou a Copa do Brasil de 2007, Hiziel Soares, ou simplesmente Soares, é um dos principais nomes da Primeirona. Desde 2024 defendendo a Sercos, o atacante encontrou no amador a oportunidade de seguir praticando o que mais gosta e, ao mesmo tempo, permanecer próximo da família. “Eu amo jogar bola, é o que eu sei fazer. Minha família e meus amigos ficam felizes em me ver dentro de campo”, destaca o atacante.
Na temporada passada, um problema cardíaco o afastou da fase final da competição, contribuindo para o vice-campeonato do clube do bairro Costa e Silva. Em 2025, totalmente recuperado, Soares veste novamente a braçadeira de capitão e projeta o título. “A diferença que vejo é somente o público. A atmosfera é a mesma e a vontade de vencer continua forte”, completa Soares.
A presença de nomes consagrados, entretanto, também gera debate. Reginaldo Fino, gerente de futebol do Cianorte, eleva o modelo de competição, porém, tem suas críticas. “Por um lado, a competição fica mais vistosa, mais atrativa, mas, por outro, acaba tirando espaço de quem tem a essência do futebol amador” explica o gerente. Segundo ele, a tradição do amador está justamente em ser disputado por atletas sem vínculo com o futebol profissional. “Quando você traz muitos jogadores experientes, inevitavelmente limita o espaço de quem tem o final de semana reservado para jogar pela paixão, e não pela carreira”, conclui o diretor da equipe que disputa a quarta divisão do futebol brasileiro.
Seja pela qualidade técnica, pela visibilidade ou pelo debate que provoca, a presença dos veteranos já é parte do DNA da Primeirona. Resta agora acompanhar como essa mistura de gerações e trajetórias seguirá moldando o futuro da maior competição amadora de Joinville.
