APADI: um lugar onde esporte e inclusão andam juntos
Por: Diogo de Oliveira e Dyeimine Senn
A Associação Paradesportiva de Deficiência Intelectual de Joinville (APADI), desenvolve práticas paradesportivas voltadas para crianças, adolescentes e adultos com autismo, deficiência intelectual e síndrome de Down. Fundada em dezembro de 2019 por profissionais da área e familiares de pessoas com deficiência, a entidade tem como objetivo promover inclusão social por meio do esporte.
A psicóloga Luana Hammes reforça que a atividade física, quando estruturada em rotinas, também estimula funções executivas como atenção, memória, planejamento e o controle do tempo de espera. “Por meio das repetições, o esporte cria espaço para a experimentação de si, sempre com suporte, e isso aumenta autonomia e qualidade de vida”, afirma a psicóloga.
Ao oferecer iniciação paradesportiva, treinos e acompanhamento desde a infância até a juventude, a APADI atua justamente naquilo que transforma a experiência esportiva em desenvolvimento real: rotina, pertencimento, estímulo sensorial, evolução cognitiva e fortalecimento da confiança dos atletas, resultados que se revelam nos pódios, mas também no progresso diário, na independência conquistada aos poucos e nas novas possibilidades abertas pelo esporte.
Entre janeiro e dezembro de 2024, a entidade atendeu diretamente 69 pessoas a partir dos 5 anos de idade, segundo o relatório anual. No mesmo período, a associação participou de 16 eventos esportivos e paradesportivos em diferentes regiões do país, envolvendo atletas e familiares.
O presidente da APADI, Gustavo Pazinato, acredita que o esporte transforma a vida dos participantes ao ampliar capacidades e habilidades muitas vezes invisibilizadas. Ele afirmou que a maioria dos atletas apresenta evolução física e cognitiva ao longo do acompanhamento.
Segundo ele, cada participação em competições reforça o potencial individual dos atletas. “O esporte é uma das melhores ferramentas de desenvolvimento humano e inclusão social. Para as pessoas com deficiência, se torna ainda mais importante, pois potencializa suas capacidades e habilidades, que muitas vezes acabam ficando escondidas pelos estigmas da sociedade”, afirmou.
Um momento marcante do ano, segundo Gustavo, foi ver os atletas representando Santa Catarina nas Paralimpíadas Escolares. Ele relata que experiências como essa fortalecem a confiança dos participantes e evidenciam o quanto o estímulo contínuo ao esporte é fundamental no processo de inclusão.
A APADI oferece três frentes de atividades. A primeira é dedicada à atividade física para crianças com autismo, de 5 a 7 anos, realizada na Arena Joinville e na C3 Escola de Natação. A segunda é a iniciação paradesportiva, voltada a crianças de 6 a 10 anos, com treinos na Arena Joinville. Já o atletismo paralímpico é destinado a participantes a partir dos 11 anos, com atividades desenvolvidas na Associação Desportiva Embraco e na Associação Atlética Tupy. Os dias e horários das atividades estão disponíveis no site da instituição.
Ao longo dos anos, os participantes da associação estiveram presentes em competições como o Meeting Brasileiro de Atletismo da Confederação Brasileira de Desportos para Deficientes Intelectuais (CBDI), evento nacional voltado a atletas com deficiência intelectual, síndrome de Down, autismo ou necessidades correlatas. A competição reúne provas de pista e campo e tem como objetivo promover inclusão, desenvolver talentos e dar visibilidade ao esporte adaptado.
Outro destaque foi a participação no Campeonato Brasileiro de Atletismo Paralímpico, organizado pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), realizado no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo. A competição funciona como base de formação do paratletismo e reúne jovens de diferentes classes funcionais, contribuindo para identificar novos talentos e preparar atletas para níveis mais altos do esporte.

O brilho no rosto de Vinicius de Oliveira entrega o tamanho da conquista. Aos 17 anos, o jovem atleta da APADI voltou de São Paulo trazendo na mala três medalhas e mais um feito que marcou sua trajetória no esporte paralímpico. Nas Paralimpíadas Escolares de 2025, realizadas em novembro no Centro de Treinamento Paralímpico, ele representou Santa Catarina e garantiu ouro nos 100 e nos 400 metros, além de conquistar a prata nos 800 metros de todas as provas na classe funcional T38.
“Eu fiquei muito animado e feliz com a oportunidade de representar o estado em um evento nacional”, disse. Ele treina na associação desde 2018, quando iniciou nas atividades de iniciação paradesportiva. Hoje compete no atletismo paralímpico e relatou que prefere treinos relacionados ao salto em distância. Ele explicou que o esporte ampliou sua coordenação motora e seu condicionamento físico.
A conquista de Vinicius nas pistas carrega impactos que vão além das medalhas. Do ponto de vista psicológico, o esporte tem um papel central no desenvolvimento de jovens com deficiência intelectual ou TEA. “Dentro do desenvolvimento infantil, atividades motoras amplas são a base para o surgimento de novas habilidades, como a linguagem, a motricidade fina, a compreensão de si e as trocas sociais”, pontua a psicóloga Luana Hammes.
Segundo ela, a prática física aumenta neurotransmissores como dopamina e serotonina, que promovem estabilidade emocional, auxiliam na autorregulação e reduzem a ansiedade. Também fortalece o senso de pertencimento e melhora o processamento sensorial, diminuindo sobrecargas.
Vinicius integrou a delegação de Santa Catarina, que contou com outros dois atletas da APADI, também medalhistas no atletismo paralímpico. João Fernandes trouxe o bronze nos 100 metros da classe T21 sub-18, e Gabrielly Santos garantiu ouro nos 400 metros e prata nos 100 metros da mesma categoria. Juntos, os três conquistaram seis medalhas ao quadro geral do estado, consolidando a força da APADI no cenário paralímpico escolar.

O desempenho recente colocou Vinicius entre os destaques da delegação catarinense. Um mês antes das Paralimpíadas Escolares, ele já havia demonstrado a força do seu nome no Campeonato Brasileiro de Jovens, em São Paulo, organizado pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Em outubro, foi vice-campeão nos 400 metros da classe T38 sub-20 e ainda garantiu o bronze no salto em distância da mesma categoria.
Na mesma competição, Vinicius da Costa e Ana Beatriz de Campos também subiram ao pódio, acompanhados pelo técnico da APADI André da Cunha. Disputando as categorias sub-17 e sub-20, os três atletas conquistaram cinco pódios. Vinicius da Costa ficou em 3º lugar nos 200 metros da classe T38 sub-20, enquanto Ana Beatriz garantiu o 2º lugar nos 400 metros e também no salto em distância da classe T20 sub-17.

Competição reúne jovens atletas de todo o país
Realizada anualmente pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), a competição reúne delegações dos 26 estados e do Distrito Federal, e é considerada a principal porta de entrada para jovens atletas com deficiência no esporte paralímpico de base no Brasil. A edição ocorreu no Centro de Treinamento Paralímpico (CT), em São Paulo, e foi dividida em duas fases.
A primeira fase contou com disputas nas modalidades de atletismo, goalball, futebol de cegos, basquete 3×3 em cadeira de rodas, halterofilismo, taekwondo, tênis em cadeira de rodas e rúgbi em cadeira de rodas. Ao todo, 1.142 atletas competiram nesta etapa. Já a segunda fase trouxe as competições de natação, bocha, vôlei sentado, futebol PC, judô, tênis de mesa e badminton, com a participação de 914 atletas.
Somadas as duas fases, a edição de 2025 contou com 2.056 participantes, consolidando as Paralimpíadas Escolares como o maior encontro mundial de jovens atletas com deficiência. A Escola Paralímpica de Esportes, idealizada e realizada pelo CPB, tem como objetivo promover a iniciação esportiva gratuita para crianças e jovens de 7 a 17 anos com deficiência física, visual ou intelectual.
O programa oferece atividades em 15 modalidades paralímpicas: atletismo, badminton, bocha, esgrima em cadeira de rodas, futebol de cegos, goalball, halterofilismo, judô, natação, rúgbi em cadeira de rodas, tênis de mesa, tênis em cadeira de rodas, tiro com arco, triatlo e vôlei sentado. Todas presentes no programa dos Jogos Paralímpicos.
O projeto atende jovens com deficiências física, visual e intelectual. Crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou deficiência auditiva podem participar desde que apresentem também uma das deficiências elegíveis ao esporte paralímpico.
Como ajudar
O presidente da APADI, Gustavo Pazinato, afirmou que o principal desafio da entidade é manter recursos para garantir a continuidade das atividades. Ele explicou que a participação de familiares e empresas têm auxiliado, mas que a captação precisa ser permanente. Interessados em apoiar podem entrar em contato pelo WhatsApp: (47) 99971-5364.
