A presença da arte e cultura de rua na militância e em lutas sociais
A cultura de rua está presente na sociedade de diversas formas. Com o tempo, a arte de rua vem ganhando mais espaço e reconhecimento, mas artistas continuam sendo marginalizados e sofrendo preconceito. A presença da arte e cultura de rua, como o grafite e o hip-hop, é importante não só para as lutas pessoais dos artistas, mas também para representar lutas sociais e políticas.
Gabriel Mouco, de 32 anos, é artista de rua e trabalha com grafite há cerca de 14 anos. Mouco gosta muito de utilizar sua arte para protestar. Segundo ele, a criação artística é uma forma de reflexão e leitura da sociedade, e acredita que os temas mais costumeiros expressados nas artes sejam a desigualdade social pelo viés do trabalho, a situação atual das minorias e a valorização cultural da identidade dos artistas de rua.
Mouco observa que a arte de rua tem um papel importante em nossa sociedade.
A arte de rua em um sentido bem direto de importância, penso que seja a redemocratização do acesso à arte. O estudo e apreciação artística em nossa sociedade não é algo levado e ampliado para várias camadas da sociedade, pelo contrário, é restrito e de uma linguagem nada acessível. Não vejo grande interesse das velhas vanguardas artísticas de ampliar esse contato com a sociedade, e a arte urbana, por utilizar espaços públicos, acaba ocasionando essa ligação, ainda que muito tímida, principalmente fora dos grandes centros, mas já dando passos importantes.
comentou o artista.
Como disse Gabriel Mouco, a apreciação artística na sociedade atual ainda não é ampliada para várias camadas da sociedade, fazendo com que artistas sejam marginalizados e vítimas de preconceito. Mesmo ganhando cada vez mais espaço, a cultura de rua continua sendo pouco representada dentro da política. A pauta da descriminalização da arte e cultura de rua é pouco comentada e discutida, apesar de ser de extrema relevância. Porém, com o tempo, mais pessoas defensoras dessa cultura vêm ganhando espaço no âmbito político.
Neste ano, a joinvilense Zelize, candidata do PSOL, concorreu ao cargo de deputada estadual do estado de Santa Catarina. Uma de suas principais propostas de campanha era a descriminalização da arte e cultura de rua. Zelize entrou na área antiproibicionista quando começou a trabalhar no CAPS ad (Centro de Atenção Psicossocial álcool e outras drogas), serviço do SUS que oferece tratamentos a pessoas com problemas com drogas.
Depois de experiências no meio da saúde, Zelize entendeu que a arte como forma de protesto promove identificação com os nossos, reflexões, possibilidades de se expressar de uma forma diferente, revolução e também “deixa muros tristes lindos”. A respeito da pauta sobre a descriminalização da arte e cultura de rua, a candidata afirma que tudo que está ligado com a cena underground de rua, é vista com maus olhos, e que, assim como em batalhas de rima, a criminalização da arte e cultura de rua está totalmente atrelada ao racismo estrutural.
Zelize também comentou sobre sua ideia como deputada quando defendeu a descriminalização da arte e cultura de rua. “Minha ideia era trabalhar em conjunto com as polícias (civil e militar) e com a guarda municipal na defesa dos movimentos de rua. Criaria então projetos de lei para garantir que as batalhas de rima continuassem acontecendo em Santa Catarina e, assim, garantir a segurança das pessoas do grafite, do picho, das batalhas e qualquer outro tipo de cultura de rua. A arte e a cultura salvam vidas!”, relatou Zelize.
O ilustrador gráfico e diretor criativo Mako Dias, de apenas 18 anos, se aproximou bastante da cultura de rua nos últimos anos e também participou da campanha da candidata Zelize. Mako já era ilustrador antes de entrar nessa cultura, mas diz que começou a realmente trazer sua essência em suas artes quando teve contato com a cultura de rua.
“Por muito tempo eu fiz arte comercial, e, em 2021, eu decidi fazer o que eu gosto de verdade. Eu me inspiro em tudo que eu vejo, em coisas, em pessoas, mas eu não estava me inspirando em mim, nas coisas que eu sentia e no que eu tinha vivido. Eu não nasci em berço de ouro, eu saí de uma situação humilde, e foi difícil. Atualmente eu evoluí, mas a essência nunca sai. Nós acabamos tomando essas experiências para nós mesmos e entendendo como é essa adaptação pro agora. Por exemplo, a mesma necessidade que eu passei não é a mesma necessidade que pessoas que estão na rua passam hoje”, comentou Mako.
O jovem ilustrador conta que o grafite tem a força de trazer cores para um bem estar e que ele muda o foco de protesto e vem com o âmbito de rua para deixar as pessoas felizes. Portanto, ele deixa de ser um protesto, mas ele ainda faz parte dessa pauta, que é a arte de rua.
Mako Dias também relata que acha de suma importância a descriminalização da arte e da cultura de rua, proposta de campanha de Zelize. Mako conta que principalmente na região sul do Brasil, as pessoas não ligam para a situação que as outras se encontram, que é um local de âmbito social muito frio e pouco solidário, embora tenhamos uma das melhores condições de vida do país. Portanto, para ele, a descriminalização da arte e cultura de rua tem muito a ver com isso, para que as pessoas que estão inseridas na rua possam se expressar e serem valorizadas como elas são, e não criminalizadas.
Em meio à situação atual em que vivemos e nos preconceitos sofridos pelos artistas de rua, dar voz e visibilidade a esses protestos e lutas sociais e políticas se torna algo muito importante. Histórias como as de Gabriel Mouco, Zelize e Mako Dias são apenas algumas entre tantas outras que existem no mundo inteiro, e, ao ouvir e dar o devido valor à essas histórias, a arte e cultura de rua, que é tão importante nos dias de hoje, só tende a continuar crescendo e ganhando espaço.