Assistentes sociais como aliados no desenvolvimento integral dos estudantes
Por: Ana Júlia Dagnoni Zanotto
De acordo com a Lei 13.935 de 2019, o atendimento psicológico em escolas públicas é obrigatório. Porém, a grande maioria das instituições continua sem esse serviço. Segundo levantamento feito pelo GLOBO com base nos dados do Censo Escolar de 2022, o número de psicólogos dentro de escolas corresponde a apenas 0,05% do total de estudantes matriculados, ou seja, menos de 0,1%. São 24.434 profissionais para 47,4 milhões de alunos dos ensinos infantil, fundamental e médio.
Esta lei é considerada um grande avanço no reconhecimento da importância da saúde mental e do suporte emocional no contexto educacional. Ao promover a presença de psicólogos e assistentes sociais nas escolas, busca-se melhorar o ambiente escolar, favorecer o desenvolvimento integral dos estudantes e contribuir para a formação de cidadãos mais saudáveis e resilientes.
A psicóloga e coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Ielusc, Mariana Datria Schulze, de 35 anos, diz que a função do psicólogo nas escolas vai muito além de um acompanhamento com os estudantes, e está ligada ao rendimento escolar como um todo. “Nós trabalhamos com os professores, pais, colegas, com todos que envolvem a comunidade escolar.” – ela coloca. Porém, muitas pessoas acham que o trabalho do profissional nesse ambiente se assemelha a psicologia clínica, que por sua vez é mais individual.
O tema saúde mental em si é muito discutido na atualidade e há instituições que trazem ele como pauta para ajudar no entendimento. O World Federation for Mental Health é um exemplo. Essa organização promove a conscientização e o suporte à saúde mental. Seu site oferece acesso à publicações, campanhas e materiais educacionais sobre saúde mental em diferentes contextos, incluindo escolas. Entretanto, quando falamos de investimento público, o assunto começa a complicar.
A orientadora educacional Esdra Schreiber, de 45 anos, e que trabalha na área há mais de 20 anos, afirma que os alunos levam aos professores situações pessoais como um pedido de ajuda: “Eles trazem essas questões, mas o professor tem muita burocracia a cumprir, tem outras responsabilidades como dar conta do conteúdo. Além de que não é o profissional mais indicado para prestar tal apoio”. Então, entra a importância do profissional de psicologia.”
A professora ainda diz que é o profissional de psicologia quem faz a escuta qualificada e analisa o que vai ser feito a partir daquilo, se necessário dá encaminhamento para outro profissional. Infelizmente, a presença desses profissionais não é contínua e muitas vezes é pequena para a estrutura escolar e para o número de alunos. “O governo ainda está engatinhando na aplicação da Lei, até porque a saúde mental ainda não é vista como algo importante. Eles ainda não investem como deveriam.” – descreve Esdra.
A Escola Municipal Doutor José Antônio Navarro Lins, situada na região leste de Joinville, e que conta com aproximadamente 800 alunos, tem uma visita semanal de psicóloga. Segundo a direção da escola, o número é insuficiente para a demanda que há.
A falta de estrutura e preocupação com a saúde mental e assistência social dos alunos, também prejudica as suas notas. Alguns problemas que podem acarretar, são barreiras no rendimento escolar, isolamento, bullying, dislexia e hiperatividade. De acordo com uma pesquisa Datafolha, divulgada em julho de 2022, 34% dos estudantes brasileiros estão com dificuldade de controlar suas emoções desde que voltaram a ter aulas presenciais, após o término da pandemia. Uma forma de contribuir com a falta de profissionais especializados em psicologia nas escolas, seria a criação de plataformas online, recursos digitais e aplicativos de apoio psicológico que podem ser utilizados para fornecer suporte aos estudantes, mesmo quando não há psicólogos disponíveis fisicamente.
A jovem recém-formada do ensino médio Sabrina Coelho, de 19 anos, explica que a presença de um psicólogo na sua escola durante o ensino fundamental e médio teria sido transformadora.
A abertura com um profissional da saúde mental é fundamental no processo do desenvolvimento do estudo dos alunos, até pelo fato de que a mente comanda o corpo, e se ambas não estão equilibradas não tem como o aluno aprender e evoluir seus conhecimentos.”,
aponta a estudante.
Além disso, é necessário que haja um comprometimento dos governantes em destinar recursos adequados para a contratação e manutenção de profissionais de saúde mental nas escolas. Investimentos em infraestrutura, como a criação de espaços adequados para atendimentos individuais e em grupo, e a ampliação do quadro de profissionais, são fundamentais para garantir um ambiente educacional saudável e acolhedor.
A saúde mental nas escolas não deve ser tratada como uma questão secundária, mas sim como uma prioridade. É necessário que haja um esforço conjunto entre o governo, as instituições educacionais, os profissionais de saúde mental e a sociedade em geral para promover a conscientização, a capacitação e o investimento necessários para que todos os estudantes tenham acesso a um suporte adequado e possam desenvolver-se integralmente, tanto acadêmica quanto emocionalmente.
Entre algumas das atribuições dos psicólogos nas escolas, estão:
- Intervenção em situações de crise: apoio imediato em situações de crise, como casos de violência, bullying, abuso, traumas ou eventos traumáticos, buscando minimizar os impactos emocionais e ajudar na recuperação dos estudantes;
- Desenvolvimento de programas e ações de prevenção, voltados para a promoção da saúde mental e prevenção de problemas psicológicos. Isso pode incluir palestras, workshops e atividades educativas sobre habilidades socioemocionais, resiliência, autoestima, entre outros temas relevantes;
- Identificação e intervenção em casos de dificuldades de aprendizagem relacionadas a questões emocionais, traumas, transtornos mentais ou outros fatores que possam interferir no desempenho acadêmico dos estudantes;
- Trabalho em parceria com os professores, coordenadores pedagógicos e demais profissionais da escola, compartilhando informações relevantes sobre o desenvolvimento emocional dos estudantes, propondo estratégias de intervenção e auxiliando na criação de um ambiente educacional acolhedor e inclusivo;
- Encaminhamento para serviços especializados, quando necessário, como clínicas, hospitais ou centros de atenção psicossocial, para um acompanhamento mais específico e intensivo.
A Lei nº 9.257, de 15 de agosto de 2022, sancionada no município de Joinville, dispõe sobre a inserção de profissionais da área de serviço social e psicologia na Rede Municipal de Ensino. Contudo, sua realização ainda está caminhando para ser efetiva. A professora Vilma Dagnoni, de 56 anos, que trabalha com ensino fundamental há mais de 30 anos, diz:
Não adianta apenas criar uma Lei, o cidadão tem que exigir que o Governo coloque em prática e a lei seja aplicada de fato. Infelizmente, no Brasil, a educação muitas vezes é relegada. Como profissional de educação, percebo que principalmente durante e após a pandemia, as necessidades de atendimento psicológico cresceram demasiadamente, fazendo com que muitas vezes professores, mesmo sem serem especialistas na área, dedicavam tempo de suas aulas para conversas com intuito de ajudar ou amenizar tais problemas. É perceptível que o rendimento escolar dos alunos está intimamente ligado aos problemas e estado emocional que uma grande maioria enfrenta.”
Vilma ainda coloca que é fundamental que as pessoas saibam sobre a importância do Estado de Direito e como ele beneficia a sociedade como um todo. Que elas cobrem as leis e encarem este problema de frente, pois o ambiente escolar precisa de psicólogos.