Imigrantes haitianos e venezuelanos participam de atividade de extensão
Uma tarde para compartilhar culturas diferentes. Assim foi o sábado (17/6), na Associação de Moradores da Entrada dos Espinheiros (AMESP). Imigrantes venezuelanos e haitianos reuniram-se para compartilhar seus costumes e suas histórias com estudantes de Jornalismo e de Psicologia da Faculdade Ielusc, além de outras pessoas da comunidade. Pratos típicos, música, brincadeiras e até sessão de fotografias integraram a programação.
Na cozinha, os preparativos começaram logo cedo. Enquanto um grupo de imigrantes venezuelanas preparavam as “arepas”, as haitianas trabalhavam na elaboração do “fritay”, pratos típicos de seus países de origem. Com ajuda de uma confeiteira, dois bolos também foram preparados. A cobertura trouxe as bandeiras do Haiti e da Venezuela. “É a primeira vez que haitianos e venezuelanos aqui do bairro realizam uma atividade assim, em conjunto”, contou a líder comunitária Nazarita da Rosa.
A ideia de promover um intercâmbio cultural e proporcionar a integração entre brasileiros e imigrantes partiu de uma ação de extensão de alguns professores de Jornalismo da Faculdade Ielusc. “Convidamos os acadêmicos de Psicologia para se juntarem a nós e eles prontamente aceitaram”, conta o professor Nasser Barbosa. A comunidade acadêmica também realizou uma campanha para arrecadar alimentos e agasalhos para auxiliar as famílias de imigrantes.
Conforme dados divulgados em maio pela Organização Internacional para as Migrações das Nações Unidas, 1.244 imigrantes venezuelanos moram em Joinville. É o segundo maior contingente do Estado, atrás apenas de Chapecó, com 2.614. O Sistema de Registro Nacional Migratório (Sismigra) apontava, em março de 2021, a presença de 3.500 haitianos em Joinville.
Idioma, saudade e preconceito são principais dificuldades
O mesmo sonho une haitianos e venezuelanos: ter uma vida melhor, com empregos que garantam condições dignas de moradia, alimentação, saúde e educação. Aprender a língua portuguesa está entre as principais dificuldades apontadas pelos imigrantes. Mario Hurtado está no 7º ano do ensino fundamental e tem outros colegas venezuelanos na sua escola. “A escrita do português é muito difícil, mas eu até me conformo porque meus colegas brasileiros também tiram nota baixa na matéria de Língua Portuguesa”, afirma. Mario vive há sete anos em Joinville e gosta do Brasil. “Sinto falta de beber Malta”, diz ele sobre um refrigerante venezuelano que não encontra nos mercados locais.
A haitiana Brodjina Tran, 15 anos, chegou a Joinville há apenas quatro meses. Ela e a irmã, também adolescente, já falam um pouco de português porque familiares que vieram antes iam ensinando nas conversas pela internet. “É difícil, mas acho que vou aprender logo. Algumas coisas são parecidas com francês”, explica.
Solidad Desvarennes, 37, fala alto em crioulo, seu idioma de origem, dá gargalhadas e se mostra uma pessoa bem descontraída. Seu jeito muda completamente quando precisa se comunicar em português. Mesmo morando há seis anos em Joinville, ainda se sente insegura quando precisa falar a língua dos brasileiros. No Haiti, ela trabalhava em um salão de beleza. “Aqui eu trabalho de ajudante de cozinha e na limpeza”, conta. Marie Rosemine, que tem 44 anos, mas aparência de 25, também precisou mudar de profissão para se adaptar ao novo país. “Eu era cozinheira lá, mas aqui trabalho na limpeza.” Para ela, a saudade dos parentes que ficaram em solo haitiano é a parte mais difícil. Marie precisou ficar dois anos longe do marido, que veio antes para o Brasil. “Foi muito difícil, mas agora estamos juntos.”
A luta para reunir os filhos é angustiante. Vedete Similien, 37, deixou o filho de 15 anos na República Dominicana. O outro, de 11 anos, está com ela em Joinville. “O mais velho não quer vir para Brasil”, lamenta.
Entre os haitianos é comum ouvir histórias de pessoas que possuem formação superior, mas, no Brasil, precisam trabalhar em serviços braçais, sobretudo na limpeza ou em fábricas. Por outro lado, ver venezuelanos trabalhando no comércio é mais recorrente. “Isso pode ser reflexo tanto da barreira linguística quanto do racismo que, infelizmente, ainda se faz presente na sociedade”, analisa a professora Marília Moraes, coordenadora do curso de Jornalismo.
Saiba mais sobre Arepas e Fritay
A estrela do Fritay é a banana da terra, que precisa estar verde. A fruta é frita em óleo bem quente. Depois, a banana é amassada, passa por uma mistura de água e sal e volta a ser frita. Serve-se com uma salada de repolho, cenoura e pimentão, temperada com vinagrete. Pode ser acompanhada de carne de frango frita ou também de carne bovina.
As arepas são um tipo de pão feito com farinha de milho branco (harina pan). A venezuelana Adriana Ortuno conta que o pacote de um quilo da farinha custa, em média, 25 reais em Joinville. “É caro, por isso lá em casa eu mesclo com flocão de milho para render mais”, explica.
Adriana mistura a farinha com água morna, uma pitada de sal e uma pitada de açúcar (a proporção de uma xícara de farinha para uma de água rende 3 porções). Junta-se a água aos poucos até que se obtenha uma massa homogênea. A partir de uma bolinha de massa, ela vai moldando nas mãos até ficar uma peça achatada e circular com espessura de, aproximadamente, um a dois centímetros. As arepas podem ser assadas no forno ou numa frigideira/disco sobre a chama do fogão. Depois de prontas, são cortadas ao meio e recheadas com o que sua imaginação culinária mandar.
Para o intercâmbio cultural, as venezuelanas optaram por um recheio feito com carne bovina desfiada e refogada com bastante tempero, banana frita (tipo chips) e uma colher de abacate. Também fizeram guacamole e “salsa de alho” como molhos para o acompanhamento.