Em busca de sentidos no menor shopping da cidade
Por: Leonardo Budal
Mesmo gostando do luxo, eu aprendi que não precisamos de muito para aproveitarmos os sabores da vida. Descobri também que há outras formas de prazer na vida, diferentes do que estamos acostumados a ouvir e sentir. Sensações como uma brisa refrescante em um dia de verão, a sensação de ser aquecido com um bom café durante o inverno ou até mesmo a sensação de vento em meus cabelos.
Estava no menor shopping da cidade. Eu gostava dele, era pequeno e tinha um restaurante com comida boa e barata. O movimento era agradável, não havia muita gente, então a fila era bem pequena. Paguei a refeição e sentei em uma das mesas da praça de alimentação. Faltava bastante tempo até voltar ao trabalho, porém, a fome não me permitiu comer o prato de comida com paciência.
Era uma tarde de preguiça, não estava com vontade de trabalhar. Com tédio, comecei a observar os arredores e fui capaz de perceber algumas particularidades bem interessantes. Uma criança que fazia birra por conta de um sorvete, um casal entrando na loja de chocolates, a atendendente de uma padaria que parecia tão entediada como eu. Diferentes rostos e rotinas, todos estavam imersos em seus próprios mundos de pensamentos, cada um com seus problemas a resolver. De alguma forma eu também estava perdido nesse meu mundinho particular.
Tudo estava tão quieto, existia uma paz profunda no recinto. Piscava lentamente os olhos, estava começando a ficar sonolento, estava prestes a ir embora quando eu, de longe, pude observar algo promissor. Um senhor com seus cinquenta anos, trazendo em suas costas um case de violão. Ele era o músico que tocaria naquela quarta-feira. Não existia nada muito relevante em sua aparência, trajava-se com informalidade, seu equipamento parecia meio antigo, mas nada muito gritante. a verdadeira surpresa ainda estava por vir.
Com a calma de quem fazia aquilo a muitos anos, o músico montou todo seu equipamento ao palco, sentou e começou sua apresentação. Foi muito interessante observar a leveza presente em seus movimentos, parecia que eu estava diante de um grande mestre de sua ocupação. Fiquei hipnotizado com suas habilidades, senti que sua arte foi capaz de expulsar todos os meus sentimentos de monotonia que me consumiam. Foi como observar o despertar a um novo mundo de experiências, finalmente pude me libertar de minha prisão mental e pude finalmente entender pelo menos um pouco o conceito de empatia.
O velho senhor dedilhava seu violão e era possível perceber a emoção em cada nota, em cada acorde. Fiquei lá escutando sua apresentação até o final e quando a última música foi tocada, fiz questão de aplaudir a dedicação do artista que além de seu instrumento, foi capaz de me tocar profundamente em meu conceito de diversão. Vou guardar com carinho o rosto e a habilidade desse artista que infelizmente nunca terá o reconhecimento merecido.