Há 73 anos a Fórmula 1 sofre com a falta de representatividade
Por Camila Bosco
Preconceito e falta de oportunidades são os desafios enfrentados por minorias dentro da modalidade
Em 1972 a Fórmula 1 desembarcou no Brasil pela primeira vez, contabilizando atualmente 48 participações. Esse ano, a corrida acontecerá nos dias 3, 4 e 5 de novembro no Autódromo José Carlos Pace, popularmente conhecido como Interlagos. Sem nenhum piloto brasileiro, o país conta com a representação de Lewis Halmiton, cidadão honorário brasileiro e o único piloto negro na modalidade.
Interlagos presenciou a vitória de recordistas do esporte como Ayrton Senna e Michael Schumacher. Em 1950, a Fórmula 1 estreou como esporte automobilístico sob a organização da Federação Internacional de Automobilismo (FIA). Hoje, a categoria conta com vinte pilotos divididos em dez equipes. O esporte dominado por homens europeus conta com apenas um piloto negro desde sua estreia: Lewis Hamilton, que está na categoria desde 2007, também é o único campeão negro e coleciona sete campeonatos mundiais.
Victória Vieira dos Santos, 22, natural de São José do Rio Preto, São Paulo, teve seu interesse pelo esporte despertado em 2020 quando Lewis Hamilton prestou homenagem ao falecido ator Chadwick Boseman, conhecido por ter interpretado o herói “Pantera Negra”. Ela destacou o papel fundamental do esportista: “Acredito que Lewis ocupa uma posição muito influente dentro do esporte. Devido ao fato dele ser extremamente talentoso, ele força o esporte a aceitá-lo como homem negro e a aceitar as ações dele”. A torcedora enfatizou que há uma preocupação para quando o piloto se aposentar das pistas: “Quando ele não for mais piloto, o esporte vai regredir o pouco que conseguiram progredir ao longo dos anos com a presença do Lewis”.
Lewis Hamilton é um dos poucos que traz visibilidade para a luta por igualdade dentro e fora das pistas, desafiando a indústria e seus companheiros de pista a fazerem mais para promover a diversidade e os direitos humanos.
“Nos 16 anos em que estou correndo nesse esporte, apenas homens estiveram presentes. Isso é um problema (…) Não prestamos atenção suficiente ou demos importância à falta de diversidade de gênero na categoria”, Lewis em entrevista ao Jornal Marca.
O atleta protagoniza constantemente manifestações anti racistas, dentre eles, utilizou uma camiseta com a frase “vidas negras importam” e se ajoelhou contra o racismo e abuso policial. Ainda em 2020, subiu ao pódio com uma camiseta escrito “Prenda os policiais que mataram Breonna Taylor” – jovem que foi brutalmente assassinada por policiais em seu apartamento. Após o ato, a FIA proibiu manifestações no pódio e nas entrevistas.
Hamilton entende o peso que carrega como único negro no esporte, também relatou diversas vezes que sofre com boicotes e ataques da organização, de torcedores e equipes. O caso mais recente que agitou a mídia foi com o ex-piloto brasileiro, Nelson Piquet, que o definiu como “neguinho” e atribuiu comentários homofóbicos. A condenação de Piquet foi anulada pela Justiça após o relator do caso ter considerado as falas como “deboche”.
“Se a FIA e a Liberty Media deixarem a influência do Lewis fluir, o esporte se tornará bem mais diverso, tanto em funcionários quanto fãs e torcedores. Abrirá muitas portas para quem tem interesse pelo esporte”, disse Victória.
Falta de mulheres nas pistas
Em 73 anos de Fórmula 1, apenas cinco mulheres tiveram a oportunidade de participar de grandes equipes. A última piloto a competir foi a italiana Giovanna Amati em 1992 e apenas Lella Lombardi, em 1975 chegou a pontuar.
A representação feminina é escassa dentro do esporte e a falta de oportunidades, financiamento e apoio é um desafio que já deveria ter sido enfrentado, visto que em quase um século a participação feminina é quase nula.
Para Anna Cristina Senem Bibow, 18, a participação na torcida e no jornalismo esportivo está aumentando nos últimos anos. No entanto, ela não nota esforço por parte das equipes “Eu vejo que as mulheres participam, mas não tem nada tão representativo”, Bibow também relatou que o custo para estar no esporte seria uma das causas da falta de mulheres.
Anna Julia Feltrin, 22, de Sorocaba (SP), participará da corrida em Interlagos destaca o peso de gostar de um esporte majoritariamente dominado por homens: “Falta não só a representatividade ali dentro, mas também a segurança que oferecem para as mulheres durante os GPs, atitudes que poderiam ter tomado em algumas situações passadas.” A torcedora da McLaren percebe que “É muito mais fácil você ver pilotos homens, até com o mesmo nível e mesma categoria que mulheres, tendo mais patrocínio, mais apoio financeiro e ganhando mais espaço”.