Resenhando | A importância da autoaceitação e o impacto cultural de ‘Com Amor, Simon’
Bem-vindo ao Resenhando! Uma série de três textos que vai analisar três filmes de romance adaptados de livros, aqueles que você simplesmente não pode perder na vida. Este é o terceiro texto de uma trinca incrível, então depois de se deliciar com este, não esqueça de conferir os outros dois. Prometo que você vai adorar! Então, prepara a pipoca, pega o controle remoto e liga a TV, porque depois dessas resenhas, você vai correr para assistir aos filmes!
Por: Hayana Ribas
Simon é um adolescente do ensino médio, aparentemente normal e até acima da média. Ele tem uma família harmoniosa, pais incríveis e amigos leais. No entanto, Simon guarda um segredo: ele é gay. Para ele, sair do armário é uma verdadeira tortura, pois teme a reação dos amigos, a decepção dos pais e os comentários na escola.
Um dia, uma carta anônima aparece no blog da escola, assinada por alguém chamado Blue, que revela ser gay. Simon se identifica com o texto e decide se corresponder por e-mail com Blue, usando endereços anônimos. Começa então uma troca de mensagens entre dois estranhos que compartilham o medo de serem quem são.
Com o passar do tempo Simon acaba se apaixonando, mas quando os e-mails são vazados no blog da escola, seu segredo é exposto para todos. E o pior de tudo é que Blue desaparece depois que sua identidade é revelada.
Representatividade em pauta
“Com Amor, Simon”, é baseado no livro “Simon Vs. A Agenda Homo Sapiens”, e apresenta uma abordagem direta, porém frequentemente negligenciada: retratar a vida cotidiana de um adolescente, repleta de novas experiências típicas da idade, sob a perspectiva LGBTQIAP+.
Muitos produtores de conteúdo, roteiristas e diretores ainda enfrentam desafios ao tentar equilibrar a representação adequada da vida de um personagem LGBTQIAP+. É crucial mostrar que sua experiência vai além da orientação sexual, mas também reconhecer como isso influencia sua vida diária e perspectiva.
O filme atinge precisamente esse ponto ao contar a história de Simon (interpretado por Nick Robinson), um adolescente que está conhecendo sua relação com sua homossexualidade. A produção não reduz a vida do protagonista a esse aspecto, mas também não hesita em dar a devida importância a essa parte fundamental de sua identidade.
O longa acerta no tom, em grande parte graças ao diretor Greg Berlanti. Apesar de não ser muito famoso no cinema, sendo este apenas o terceiro filme que ele dirigiu, Berlanti é uma figura importante na televisão.
O diretor tem bastante experiência em se comunicar com adolescentes e jovens adultos de maneira autêntica, graças ao seu trabalho como produtor de séries populares como “Arrow”, “The Flash”, “Supergirl”, “Riverdale”, “Legends of Tomorrow” e “Raio Negro”. Essa bagagem profissional se reflete positivamente em “Com Amor, Simon”, onde ele acerta ao capturar a linguagem e as referências culturais da juventude, sem criar situações artificiais ou exageradas.
O filme se destaca ao não retratar o protagonista em um cenário idealizado. Enquanto Simon enfrenta desafios na escola, ele também comete erros e faz escolhas questionáveis em outras áreas de sua vida. Esses eventos se desdobram como uma bola de neve, onde tentativas de resolver uma situação desconfortável acabam criando novos problemas, o que é muito bem explorado na trama. A confusão simples de Simon reflete a típica imaturidade da adolescência.
O filme conversa diretamente com o público LGBTQIAP+, que se identifica com situações-chave apresentadas com a mesma leveza e naturalidade encontrada em narrativas sobre jovens heterossexuais. Além disso, o público fora desse espectro também encontra momentos de identificação, já que a adolescência e questões que surgem com ela como, valores de amizade, curiosidade, descobertas e conflitos emocionais são universais e usados como o principal plano de fundo da narrativa.
A amizade e a família como os pilares da vida
A amizade e os desafios enfrentados pelo grupo de Simon, Leah (interpretada por Katherine Langford), Abby (Alexandra Shipp) e Nick (Jorge Lendeborg Jr.) são retratados de maneira genuína e cativante para o público. Langford, especialmente, surpreende positivamente ao interpretar uma personagem que, embora compartilhe paralelos com seu papel mais conhecido como Hannah Baker em “13 Reasons Why”, apresenta uma nova profundidade.
O filme também proporciona cenas emocionantes de forma natural – a sensibilidade nas relações interpessoais é genuína. “Com Amor, Simon” acerta ao não retratar a orientação sexual do protagonista como uma descoberta súbita. O processo de autoconhecimento é mostrado como contínuo, mas não é o ponto central da história. O filme foca no momento em que Simon interage pela primeira vez com o mundo exterior, destacando como o receio dele em se assumir reflete mais sobre a sociedade e as pessoas ao seu redor do que sobre ele próprio.
Essa contradição entre o receio de se abrir e a vontade de desafiar conceitos preestabelecidos que moldaram sua vida cria interações profundamente envolventes ao longo do filme.
É importante destacar a dinâmica familiar de Simon: Jennifer Garner interpreta Emily, uma mãe moderna que conduz com maestria um dos momentos mais emocionantes do filme em um diálogo crucial com seu filho. Este diálogo, para mim, o ponto alto da narrativa, reconcilia o passado de Simon com seu presente, em uma cena que exala a necessidade de sermos livres.
Josh Duhamel, no papel do pai Jack, interpreta um estereótipo comum de pai que comete erros ocasionalmente, sem querer. É verdade que sua atuação não alcança a mesma fluidez e intensidade de Garner, mas não compromete a mensagem de seu personagem e adiciona um toque divertido à história.
“Com Amor, Simon” não tenta reinventar a roda, mas também não força uma abordagem pouco convencional. O filme entrega o que promete com um roteiro simples e sincero, levando o público por uma montanha-russa de romance, drama e comédia, ou melhor, uma roda-gigante. A própria decisão de contar uma história sem grandes pretensões já é um passo significativo para avançar nas questões de representatividade LGBTQIAP+.
A fotografia e a construção do filme são muito boas e bem pensadas. “Com Amor, Simon” é moderno, atual e voltado para o público jovem, mas consegue emocionar também os adultos e estimular reflexões. O diretor do filme é abertamente gay, e os produtores possuem experiência em filmes adolescentes de sucesso, como “A Culpa é das Estrelas”, o que acredito que ajude muito na construção e resultado final da produção.
O filme faz uma crítica sutil, mas impactante, quando questiona por que os heterossexuais não precisam se declarar. É uma cena cômica e realista que desafia aqueles que não aceitam as escolhas dos outros. “Com Amor, Simon” é muito importante, transmitindo uma mensagem clara e contemporânea: não ao preconceito!
Berlanti acerta ao capturar a linguagem e intensidade de todas as situações do filme, resultando em uma experiência leve e empática para o público. A mensagem de “todo mundo merece uma grande história de amor” em “Com Amor, Simon” destaca como aceitar e respeitar essa ideia deveria ser algo óbvio e simples.
Saiba mais sobre o filme
Nome: “Com Amor, Simon” (“Love, Simon”)
Ano: 2017
País: EUA
Direção: Greg Berlanti
Roteiro: Becky Albertalli, Isaac Aptaker, Elizabeth Berger
Elenco: Sean O’donnell, Alex Sgambati, Patrick Donohue, Roy Coulter, Tyson Love, James Sterling, Josh Royston, Jodi Houck, Abigail Houck, Collin Mchugh, Jönah-Blainé Bowling, Briana Estevez, Joshua Mikel, Natalia Tureta, Baz Ma, Samantha Bulka, Christian Ojore Mayfield, Mandy Fason, Alyssa Riley Burrell, Haroon Khan, Cassady Mcclincy, Terayle Hill, Tyler Chase, David Copeland Brown Jr., Nancy De Mayo, Colton Haynes, Mackenzie Lintz, Joey Pollari, Clark Moore, Drew Starkey, Natasha Rothwell, Tony Hale, Skye Mowbray, Talitha Bateman, Logan Miller, Miles Heizer, Keiynan Lonsdale, Jorge Lendeborg Jr., Alexandra Shipp, Katherine Langford, Nye Reynolds, Bryson Pitts, Jennifer Garner, Josh Duhamel, Nick Robinson.
Duração: 127 minutos
Nota no Rotten Tomatoes: 92% de aprovação.
Onde assistir: Netflix e Disney+.