Galláxia ilumina a cena Drag em Joinville entre censura e resistência
Por Henrique Duarte
Felipe Arthur, conhecido como Galláxia, fala sobre os desafios de ser uma Drag Queen em Joinville.
Joinville se transforma em um vibrante palco para a arte drag, e Felipe Arthur, conhecido como Galláxia, é uma das principais figuras desse movimento. Aos 30 anos, ele combina sua formação em arquitetura com sua paixão pela arte, tornando-se uma referência no norte catarinense. Galláxia é conhecido por misturar música e performances criativas em diversos locais da cidade, embora sua trajetória tenha sido marcada por desafios significativos.
Em uma cidade ainda conservadora, a arte drag enfrenta obstáculos que vão desde preconceitos até a luta por reconhecimento e espaço. Felipe cresceu sentindo a arte pulsar em suas veias, mas não foi um caminho fácil. Ele relata episódios desconfortáveis, como um incidente em uma lanchonete, onde um homem se aproximou de forma invasiva, mexendo em sua peruca. “Fiquei tão constrangido que levantei e pedi que saísse, ou chamaria a polícia”, desabafa.
A realidade enfrentada pelas drag queens em Joinville não é isolada. Segundo o Atlas da Violência de 2023, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Santa Catarina é um dos estados com mais registros de violência contra a comunidade LGBTQIAP+.
O cenário cultural em Joinville é desafiador para artistas independentes, e a cultura drag não escapa dessa realidade. “A arte drag é uma cultura marginalizada, muitas pessoas não a veem com bons olhos; o desconhecido assusta”, reflete Felipe. No entanto, ele sonha em continuar brilhando, impulsionado pelo amor à sua profissão e pela crescente visibilidade da cultura LGBTQIAP+.
Embora a cena drag em Joinville ainda esteja em seus primeiros passos, Galláxia se destaca pela perseverança. Seu primeiro videoclipe, “PIRA”, é uma fusão de pop, brega funk e trap, exaltando uma estética que promove o empoderamento. Apesar das dificuldades enfrentadas, a arte drag resiste e floresce. “A falta de espaços para performar é uma das maiores adversidades. Em Joinville, há uma escassez de ambientes que favoreçam a liberdade de expressão”, lamenta Galláxia.
A luta por visibilidade e respeito continua, mas artistas como Felipe permanecem firmes, desafiando preconceitos e celebrando a diversidade.
Cultura em ascensão
Nos últimos anos, a cena Drag em Joinville começou a mostrar sinais de crescimento. Galláxia fala que a visibilidade de programas como Drag Race Brasil têm ajudado a mudar a perspectiva pública sobre a cultura. “Estamos em ascensão. Tenho promovido o Drag Show no Soma, um evento que fomenta o movimento local e incentiva novas Drags a se mostrarem”, diz com entusiasmo.
O Bar Soma Rolê, localizado na região central de Joinville, é voltado ao público LGBTQIAP+ e tem promovido o Drag Show, evento que Felipe é produtor e que Galláxia é a mestre de cerimônias. O “Drag Show” possibilita que drags da cidade e até mesmo da região possam mostrar sua arte em performances que vão além do tradicional lipsync (performance que consiste em dublar uma canção).
A união entre as artistas também é um fator fundamental. Galláxia mantém uma relação de apoio mútuo com outras Drags da cidade, criando uma rede de solidariedade dentro da comunidade artística. “Conversamos, nos apoiamos e nos respeitamos, porque sabemos das dificuldades. Nos abraçamos nessas causas que são importantes para todas nós.”
No entanto, a arte Drag ainda enfrenta obstáculos, especialmente em relação à sobrevivência financeira. Galláxia sonha em viver exclusivamente de arte, mas admite que a valorização financeira é um dos desafios.
Joinville mais diversa
Com oito anos de trajetória como Drag Queen, Felipe Arthur não perde a esperança de ver a cultura Drag florescer ainda mais em Joinville. Sua performance recente no Workroom, em Porto Alegre, e o sucesso do videoclipe PIRA são passos que a levam a novas alturas. Para Galláxia, cada conquista pessoal é um passo importante para a consolidação de um movimento que desafia estereótipos e conquista novos espaços de resistência e celebração.