Medicina do futuro impulsiona transformações tecnológicas na profissão
Inovações tecnológicas estão revolucionando relação entre profissionais de saúde e pacientes
Por Stefani Junge
A medicina está passando por uma revolução tecnológica que transforma os procedimentos cirúrgicos e a interação entre profissionais de saúde e pacientes. Inovações como a cirurgia robótica e a realidade aumentada não apenas aumentam a precisão, mas também levantam questionamentos sobre o futuro da profissão médica.
Recentemente, dois hospitais em Santa Catarina adotaram tecnologias avançadas em suas práticas cirúrgicas. O Hospital Dona Helena, em Joinville, realizou uma cirurgia ortopédica com a participação remota de especialistas de diferentes países. Já o Hospital Regional Hans Dieter Schmidt foi pioneiro ao realizar a primeira cirurgia em uma sala híbrida pelo SUS, evidenciando que a tecnologia pode ser um recurso valioso mesmo no setor público.
Avanços em procedimentos cirúrgicos
No Hospital Dona Helena, uma correção de fratura foi realizada com o auxílio do Microsoft HoloLens, permitindo a comunicação em tempo real entre cirurgiões de diferentes partes do mundo. O médico Guilherme Augusto Stirma destaca que essa tecnologia não apenas melhorou a qualidade da cirurgia, mas também economizou tempo e recursos: “Colaborar com especialistas remotos é um grande avanço para a medicina”, afirma.
Da mesma forma, o Hospital Regional Hans Dieter Schmidt fez história ao realizar um implante de válvula aórtica em uma sala híbrida, a única totalmente SUS do sul do Brasil. A diretora, Aldilete Fantuci, ressalta: “Essa sala nos permite realizar procedimentos minimamente invasivos, reduzindo riscos cirúrgicos e melhorando a recuperação.”
Esses avanços no Brasil estão alinhados com a evolução da cirurgia robótica, que teve seus primeiros registros na década de 1980, quando o robô PUMA foi utilizado em uma biópsia durante uma neurocirurgia nos Estados Unidos. Desde então, essa tecnologia tem sido adaptada para uma variedade de procedimentos cirúrgicos, proporcionando maior precisão e segurança, e agora está sendo incorporada também nas práticas médicas brasileiras.
Papel dos profissionais de saúde
A medicina está vivenciando uma revolução tecnológica, especialmente com o uso de salas híbridas e cirurgia robótica, que têm transformado a prática médica, oferecendo maior precisão e segurança nos procedimentos. O cirurgião vascular Gilberto Macedo destaca que as salas híbridas, que combinam cirurgias convencionais e minimamente invasivas, “são fundamentais, pois muitos procedimentos agora combinam cirurgias convencionais com intervenções minimamente invasivas, oferecendo maior segurança e melhores resultados para os pacientes”. Já o urologista Ernesto Reggio ressalta que a cirurgia robótica “oferece visibilidade superior dos tecidos, com imagens tridimensionais que ampliam o campo cirúrgico”, permitindo movimentos mais precisos e o acesso a áreas que a mão humana não alcança. No entanto, Reggio acredita que, apesar dos avanços, “o paciente precisa do conforto e da empatia que só um ser humano pode oferecer. A mão do cirurgião continua sendo fundamental.”
Pacientes que passaram por cirurgias robóticas, como Naiana Zen Raulino e Carlos Roberto Wengerkievicz, também compartilham suas experiências positivas. Naiana, inicialmente apreensiva, ficou satisfeita com a precisão e recuperação rápida da cirurgia robótica, “A tecnologia oferece muita segurança e precisão, resultando em menos riscos de complicações. Estou incentivando meus amigos a considerar a cirurgia robótica. É uma opção mais segura, sem dor, e a recuperação é rápida”, afirmou. Já Carlos, que já estava familiarizado com o método, “Com poucas aberturas abdominais e a certeza da extirpação do que precisava ser retirado, não tomei remédio para dor, apesar de ter sido oferecido. A cicatrização foi rápida e confortável, o que me permitiu retornar à rotina em menos tempo”, destaca. Esses relatos mostram como a tecnologia melhora a segurança e a experiência do paciente, mas também reforçam a importância do toque humano no cuidado médico.
Futuro da medicina
À medida que a tecnologia continua a evoluir, a medicina enfrenta o desafio de equilibrar a inovação com a humanização do atendimento. As experiências compartilhadas por médicos e pacientes ressaltam a importância de educar e engajar todos os envolvidos nesse processo. Embora inovações como a cirurgia robótica e a realidade aumentada abram novas possibilidades, é fundamental que as habilidades interpessoais e o vínculo entre médico e paciente não se percam. A confiança, o cuidado e a compreensão mútua continuam a ser essenciais para o sucesso do tratamento e para a recuperação emocional do paciente.
Para Reggio, o futuro da medicina será impactado por sistemas que proporcionarão diagnósticos mais precisos. “Daqui a dez anos, a medicina estará ainda mais integrada à tecnologia, mas o ser humano não será substituído. O equilíbrio entre tecnologia e atividade humana é essencial para garantir a qualidade do tratamento”, conclui.
A medicina do futuro, portanto, será cada vez mais uma fusão entre alta tecnologia e o toque humano, onde a personalização do atendimento se torna um ponto chave para a experiência do paciente. Para isso, será essencial que os sistemas de saúde invistam em formação contínua e adaptação dos médicos, garantindo que a tecnologia seja vista como uma aliada, e não uma substituta, no cuidado integral ao paciente.
Essa adaptação não se limita aos profissionais de saúde, mas também inclui os pacientes, que precisam ser preparados para entender e confiar no uso dessas novas tecnologias, sem perder de vista a importância da relação humana que sempre caracterizou o cuidado médico. A medicina do futuro será, portanto, caracterizada por uma colaboração constante entre inovação tecnológica e a capacidade do ser humano de cuidar, escutar e compreender as necessidades do outro.