Mostra afro reúne gerações para celebrar a potência da arte
Evento abre espaço para diálogos sobre memória e destaca a diversidade de linguagens afro-brasileira
Por David Martins
O Instituto Internacional Juarez Machado abriu, no dia 20 de novembro, a exposição “Presenças Insurgentes: Corpos, Territórios e Memórias”, que integra o projeto Além das Margens, iniciativa contemplada pelo Edital PNAB Municipal de Joinville. A mostra, que segue até 31 de janeiro de 2026, reúne cinco artistas negros Renata Felinto, Priscila Rezende, Peter de Brito, da Silva e Antônio Pulquério e propõe ao público uma imersão em narrativas sobre ancestralidade, resistência e presença negra no campo das artes.
Com curadoria de Juliana Crispee Sérgio Adriano, a exposição articula diferentes linguagens como pintura, performance, cerâmica e fotografi a. Para os curadores, a intenção é deslocar o olhar convencional sobre corpo e território, trazendo para o cenário atual, as histórias, memórias e disputas que atravessam a experiência negra no país. A presença de acervos de artistas como Abdias do Nascimento, Valda Costa, Soberana Ziza e Tauan Gon reforça o diálogo.
Entre os destaques, a artista Renata Felinto afi rma que o primeiro impacto para o visitante será a força visual dos muitos corpos e rostos negros que ocupam o espaço expositivo, porque não é um costume em Joinville. “As pessoas terão que circular, ler, conversar, buscar novas referências para compreender a diversidade de linguagens e discussões que estão colocadas”, explica.
O projeto Além das Margens se estende para além da galeria, promovendo feira afro-brasileira, gastronomia, apresentações musicais, teatro e lançamentos literários. Para Renata, essa amplitude simboliza a necessidade de reconhecer a população negra como parte estruturante da cidade. “Aqui na região somos quase 20%. É preciso respeito e reconhecimento, não apagamento”, afirmou Renata.
Joinville, marcada pela herança europeia, também é chamada para reflexão. Para a artista, a mostra evidencia que a presença negra permanece e transforma a cidade. “Nossa herança está viva, educa e edifica. O público precisa compreender que a pluralidade é constitutiva da história brasileira e joinvilense”.
Com programação que inclui jazz, MPB, performance e ações formativas, “Presenças Insurgentes” se estabelece como um gesto de afirmação e de construção de futuros possíveis, ampliando repertórios e convidando a cidade a enxergar as narrativas negras.
A exposição reafirma que a arte negra, em sua potência crítica e sensível, abre caminhos para diálogos mais amplos e para uma cidade que reconheça sua diversidade viva entre gerações e perspectivas.
Exposição tenciona estruturas e narrativas raciais em Joinville
A mostra também se firma como um espaço de enfrentamento ao racismo estrutural por meio da arte. Para o artista Peter de Brito, participar da exposição é, antes de tudo, um gesto político. Ele afirma que o impacto imediato para o público será perceber a pluralidade da produção afro-brasileira e o modo como essa presença desloca narrativas dominantes.
“A exposição mostra que existem artistas afro-brasileiros e que esses artistas trazem questionamentos e reflexões sobre a situação atual das pessoas negras”.
Dividindo a mostra com artistas de diferentes gerações e linguagens, Brito diz se sentir parte de uma mesma linhagem criativa. “Sinto-me um igual quanto à ancestralidade, portanto com as mesmas preocupações de caráter sociocultural”, diz. Para ele, essa transversalidade reforça o sentido coletivo do projeto, que não se limita à exibição de obras, mas à construção de um campo simbólico compartilhado.
Para o artista, concordar com as narrativas negras em um país marcado pelo racismo estrutural é um compromisso ético e estético, Brito entende sua presença e sua obra como instrumentos de transformação. “É o modo de me colocar como um agente de possíveis e inevitáveis mudanças”, conclui.
“Presenças Insurgentes” importam
Segundo Renata Felinto, a exposição marca um ponto de virada no cenário cultural de Joinville. Ela explica que a mostra evidencia a presença afro na cidade e combate o apagamento histórico que ainda persiste. “Estamos aqui e sempre estivemos. Trabalhamos, estudamos e além de ensinar, sentimos. Reconhecimento é o que precisamos’. A artista reforça que a exposição amplia o repertório local e naturaliza todo tipo de identidade brasileira.
