Carnaval e Joinville: uma relação iniciada há mais de 150 anos
Por Destiny Goulart e Bruna Schenekemberg
Quem acha que Joinville não tem tradição carnavalesca está muito enganado. O registro do primeiro carnaval da Cidade dos Príncipes é de 1865, conforme publicação do primeiro jornal da cidade, o Kolonie-Zeitung. Isso prova que, passados apenas 14 anos de fundação, os festejos de Momo já faziam parte da cultura local.
O professor Joceli Fabrício Coutinho, o “Pipo“, acaba de defender sua dissertação de mestrado sobre a história do Carnaval em Joinville. Sua pesquisa mostra que os primeiros bailes carnavalescos eram direcionados apenas à elite da cidade, enquanto os festejos de rua reuniam pessoas de todas as classes, inclusive escravos. Na década de 1920, para usar máscaras nas festas era necessário obter consentimento das autoridades, como comprova publicação no jornal da época. Sem autorização, o folião poderia ser preso.
Conforme Pipo, uma prática um tanto grotesca, conhecida como “entrudo”, costumava ser praticada em todo o país durante o Carnaval: as pessoas arremessavam laranjas, baldes de água e farinha umas nas outras. No início do século, com a chegada dos automóveis à cidade, as batalhas de confete substituíram o entrudo. O livro Memória de Um Menino de Dez Anos, escrito por Adolfo Bernardo Schneider, relata como era o carnaval naquela época.
A dissertação de Coutinho mostra que o carnaval é uma das primeiras manifestações culturais de Joinville e sempre viveu altos e baixos, com pouco ou nenhum apoio dos governantes.
Pipo comenta que, antigamente, não eram permito fazer críticas à Pátria e não havia liberdade de imprensa. “Tinha que ser tudo de acordo com as regras, os carros tinham que ter buzina sereia porque andavam nas ruas jogando confetes, é uma história riquíssima de detalhes”, observa.
A partir de 1988, o carnaval joinvilense ganha ares mais contemorâneos. “Nesse ano existia o Príncipe do Samba, que era o antigo Kênia, Unidos do Boa Vista, União Tricolor e o famoso Bloco das Depravadas, do seu Maria Fofoca”, comenta.
De 1988 a 1993, Pipo destaca o desfile na Rua do Príncipe que atraía de 25 a 30 mil pessoas. “A Prefeitura bancava desfiles belíssimos, as agremiações não tinham condições de fazer o carnaval sozinhas. Em 1988 e 1989 a prefeitura não deu dinheiro, o Freitag (Wittich Freitag, então prefeito) entra e fica revoltado com a festa. De 1990 a 1992 o desfile volta a ocorrer, mas, em 1993, na segunda gestão do Freitag o desfile novamente é cortado”, explica.
Conforme, o pesquisador, no início da década de 1990 havia pressão de parte da população para que o prefeito não desse dinheiro para o carnaval, considerado por alguns como uma festa obscena. “Quem está dentro do carnaval, vê como cultura, quem não vive o carnaval nem sempre tem essa compreensão”. A comunidade do samba passou a realizar protestos, andando pelas ruas de Joinville com um caixão com o nome do prefeito. “As agremiações também eram muito desorganizadas financeiramente, dependentes do poder público. A relação entre samba e prefeitura sempre foi de amor e ódio”, resume.
Treze anos sem folia
Após o carnaval de 1992, Joinville ficou 13 anos sem desfile de carnaval. A saída encontrada pelos foliões mais animados foi migrar para São Francisco do Sul. “Montaram escolas de samba e iam competir em São Chico, onde os joinvilenses foram campeões várias vezes, mas representando bairros de São Francisco”, conta Pipo.
Em 2006, o vice-prefeito Rodrigo Bornholdt convidou os representantes carnavalescos da década de 1980 para uma reunião. “A conclusão foi de que não seria possível começar com os desfiles porque as agremiações estavam ‘dormindo’, por isso o carnaval daquele ano reuniu blocos”, conta o pesquisador. Nesse mesmo ano, o bloco das Depravadas contou com mais de 600 homens vestidos de mulheres. Cerca de 25 mil pessoas festejaram no Mercado Municipal.
Em 2011, os desfiles passaram a ocorrer na rua Rio Branco e as escolas de samba voltaram. Novas agremiações nascem e a festa tem o apoio financeiro da Prefeitura.
Em 2017, a Prefeitura da cidade cancela o carnaval um dia antes do evento. “As escolas de samba se reuniram no Mercado Público, mas a polícia não permitiu as apresentações. Só podiam tocar sertanejo”, enfatiza Pipo.
O interesse pela história do carnaval em Joinville começou em 2012, quando Pipo desfilou pela primeira vez na Unidos Pela Diversidade. “Eu sempre quis desfilar numa Escola de Samba, em 2012 eu consegui e aí explodiu o meu interesse pelo tema. Ano a ano eu participo das confecções de fantasias, de tudo”, afirma.