Movimento Negro considera racista comentário de apresentador de rádio
No dia 27 de novembro, às 19 horas, ocorre o Encontro de AfroEmpreendedores, na sala Wetzel da Associação Empresarial de Joinville (ACIJ). As inscrições são gratuitas e podem ser feitas até o dia 12 de novembro. A divulgação desse evento, na segunda-feira, na rádio Jovem Pan, acabou rendendo um embate entre o Movimento Negro Maria Laura e o apresentador Ananias Cipriano. No entendimento de lideranças do Movimento, alguns comentários de Cipriano foram racistas. Clique aqui para conferir o vídeo do programa.
O apresentador comentou que “fazer um evento para AfroEmpreendedores é dividir a sociedade” e que, em vez de dividir, a prefeitura deveria unir os empreendedores. Como justificativa, Cipriano leu o depoimento de um ouvinte afroempreendedor também contrário ao evento. Outro argumento utilizado pelo apresentador é de que, biologicamente, “não existe raça negra”, apenas raça humana e, portanto, segundo seu raciocínio, as políticas públicas devem ser feitas para todos.
Em sua página na rede social Facebook, o Movimento Negro Maria Laura publicou uma nota de repúdio aos comentários do apresentador, pedindo, inclusive, uma retratação. Segundo o movimento, os comentários criam “falsas interpretações sobre o mito da ascensão, caindo no senso comum de dizer que somos todos iguais e que não há necessidade de fazer um evento como este”. Para o Maria Laura, um evento como o Encontro de AfroEmpreendedores é necessário, pois estudos indicam que a população preta e parda está exposta a desvantagens na qualidade de vida, oportunidades de mobilidade social, participação no mercado de trabalho e distribuição de renda.
A nota destaca ainda que o entendimento de raça se dá “no sentido sociológico e não biológico, como já foi confirmado e debatido diversas vezes entre os movimentos sociais de luta antirracista, o que indica o total desconhecimento do apresentador diante das pautas da população negra“.
Para a Revi, Cipriano negou qualquer atitude racista e declarou que sua resposta também estava publicada na rede social. Ele afirma que não vai se retratar, pois é a favor da liberdade de expressão e da verdadeira igualdade. “De forma infeliz, um movimento retira recortes de minha fala e transcrevem uma nota de repúdio, me adjetivando de racista e exigindo minha retratação”, comentou.
“Fiquei chocada quando escutei a fala do apresentador, uma vez que dados do IBGE demonstram que os negros recebem três vezes menos do que as pessoas brancas e que, grande parte desse problema se deve ao racismo institucional”, explica a advogada Ana Paula Nunes. Ela destaca que a ONU afirma que os direitos da população negra precisam ser protegidos, tendo como um dos planos de ação promover maior conhecimento e respeito à cultura e à contribuição que os afrodescendentes oferecem para o desenvolvimento da sociedade. “A promoção de um evento como esse é importante para mostrar o quanto o negro ajuda no desenvolvimento da cidade e para os demais, e como empreender pode ser um caminho”, conta.
Segundo o coordenador de Políticas para Juventude, Direitos Humanos e Promoção da Igualdade Racial da prefeitura de Joinville, Paulo Junior, este é o primeiro Encontro de AfroEmpreendedores na cidade e tem como objetivo compartilhar experiências e estratégias. O evento tem apoio da ACIJ e da Rede Brasil Afroempreendedor (REAFRO), coordenado por Giselle Marques que será uma das palestrantes. “É interessante conhecermos esses AfroEmpreendedores, o ramo de atuação, suas dificuldades e principais desafios nessa luta”, aponta Paulo Junior. Para saber como participar clique aqui.