Acadêmicos encaram desafio de estudar e cuidar dos filhos
Conciliar a maternidade ou a paternidade com a faculdade é um desafio extra para acadêmicos que trabalham durante o dia e estudam à noite. Sobra pouco tempo para ficar com os filhotes e, por vezes, o jeito é trazer os pequenos para a faculdade.
Társila Elbert estuda Jornalismo na Faculdade Ielusc e é mãe de Benjamim. Ela revela que, no começo, sentia muito medo de ser mãe. “Eu acho que a posição social da mãe é muito complicada, as pessoas passam a te olhar de uma maneira diferente quando você é mãe e esse era o meu maior medo: ser julgada por ser mãe, por acharem que eu tive meu filho muito nova, não saberem que foi uma escolha, enfim, essa era minha maior preocupação”, conta. Ela também tinha receio de não dar conta das suas obrigações maternas. “Acho que eu fui enganada pela romantização da maternidade, achei que seria de um jeito e, na prática, a gente vê que é de outro, mas ainda assim vale a pena”, avalia.
Como teve uma gestação de risco, Tarsila foi obrigada a interromper os estudos. “Eu parei, parei totalmente. Fiquei toda a minha gravidez e um ano e meio do meu filho parada, foram mais de dois anos afastada da faculdade.” No começo do ano passado, ela mudou-se para Joinville e recomeçou a estudar.
Para a estudante, muitas vezes mães que estudam e trabalham sofrem certa pressão da sociedade, uma espécie de pré-julgamento e condenação. “As pessoas pensam que prefiro estudar do que cuidar do meu filho, mas, se fosse por questão de preferência eu ia estar com ele o dia todo, o tempo inteiro, mas eu não tenho essa liberdade, eu tenho que pagar conta, tenho que trabalhar, tenho que estudar”, desabafa. “Se hoje eu estou estudando também é por causa dele, também é para que eu possa ter um emprego para oferecer o melhor para ele”, observa.
Társila reconhece a importância de contar com uma rede de apoio. “Os meus amigos são maravilhosos com o meu filho, estão à disposição para qualquer coisa que eu precise, e o pai do meu filho é extremamente presente. Se não fossem eles, eu jamais conseguiria e eu acho que eu não daria conta”, explica. Há dias em que ela praticamente não vê o filho, pois sai às 6 horas da manhã e volta às 23 horas. “Meus amigos têm consciência de que, por mais que eu esteja na faculdade, jogue, faça as coisas que eles fazem, eles têm noção de que a minha responsabilidade é maior e de que eu não sou uma pessoa sozinha, que tudo que eu vou fazer eu tenho que incluir meu filho.”
Durante o dia, até às 15h, o filho está na escolinha, depois fica com o pai. “Eu não faço todas as matérias para passar mais tempo com ele, nos finais de semana eu fico o tempo todo com ele”, afirma.
Rede de apoio
Para quem pensa em ser mãe ou já é mãe e quer estudar, Társila recomenda escolher bem a rede de apoio. Ela se considera uma pessoa de sorte por ter bons amigos que a auxiliam. “Se você não tem realmente a quem recorrer, existem algumas ONGs e coletivos feministas que ajudam as mães. Então é bacana procurar, você não está sozinha”, destaca.
Ela também aconselha as mulheres a não encararem a maternidade enquanto estiverem em dúvida se é o que realmente desejam. Mais do que condições financeiras, ela enfatiza a necessidade de preparo psicológico. “Quando o seu filho nasce, nasce uma versão nova de você e essa é a versão que vai seguir com você para o resto da vida. A única coisa que você nunca vai deixar de ser é mãe.”
Pai na adolescência
Thiago Firmo, estudante da sétima fase do curso de Publicidade e Propaganda da Faculdade Ielusc, é pai de um menino de 12 anos. Ele tinha apenas 18 anos quando seu filho nasceu. “É um baita compromisso, para mim foi muito desafiador ser pai tão novo, porque hoje ele tem 12 anos e eu tenho 30. Agora vejo com bons olhos porque ainda sou jovem e tenho um filho adolescente. Então hoje é gostoso, mas antes foi pesado”, explica.
Conciliar a paternidade com o ensino superior era difícil e, por isso, Firmo tirava algumas matérias da grade do curso para passar mais tempo com o filho. “Eu priorizava meu filho no final de semana. Cada oportunidade de sair mais cedo eu ia para casa pra ficar com ele.”
Apesar da correria, Thiago nunca cogitou a hipótese de abandonar os estudos. “Eu estava bem decidido e ele também sempre foi supercompreensivo.” O acadêmico sempre teve vontade de ser pai, mas, não esperava que isso fosse ocorrer tão cedo.
Para ele, o mais difícil é equilibrar paternidade e trabalho. “Às vezes a gente leva as coisas do trabalho para casa, mas eu tento dedicar momentos para fazermos atividades juntos. É muito importante, principalmente na adolescência dele, ele quer tempo, ele quer conversar e temos aquele perrengue de não ficar só conectado no celular, não só jogando, eu tento administrar”, conta. Como os dois gostam de praticar atividades físicas, o final de semana é sempre bem aproveitado.
Thiago afirma que a paternidade não deve impedir as pessoas de realizarem seus objetivos. “Quando eu decidi fazer faculdade, eu senti que era importante para mim, então eu não deixei de fazer isso porque daqui a pouco o meu filho vai crescer, daqui a pouco ele casa e eu não fiz algo que eu queria ter feito”, opina.
Assim como Társila, Thiago algumas vezes trouxe o filho para a faculdade. “Para tudo a gente dá um jeito, principalmente quando você quer alguma coisa. Tem formas de buscar ajuda de pessoas próximas.” Thiago se define como um pai presente no cotidiano do filho. “A gente é muito próximo, muito ligado, a gente se fala o tempo todo.”
Um sonho realizado
Casada e mãe da pequena Rebecca, de um ano, a estudante de Jornalismo Larissa Cruz nunca teve medo de ser mãe. Ela sempre gostou de crianças. Para conciliar a rotina de mãe com os estudos, ela conta com a ajuda do marido. Para complicar, ela mora em São Francisco do Sul e estuda em Joinville. Houve um período no qual seu pai ficou internado em Joinville o que aumentou o tempo de Larissa fora de casa.
Antes de sair para a faculdade, Larissa deixa a “papinha” pronta, fraldas, lenço umedecido, cobertor – caso esfrie. “Para mim não é tão difícil porque tenho um bom parceiro ao meu lado”, destaca. Quando engravidou, Larissa chegou a pensar em interromper os estudos, mas seu marido a aconselho a voltar o quanto antes. O casal tem uma mercearia e dividem todas as tarefas.
A quem pensa em ser mãe, trabalhar e estudar, Larissa aconselha calma. “Eu diria para, se possível, fazer uma coisa de cada vez, nunca juntar tudo como eu fiz. A gente suporta, a mulher é muito forte, mas eu acho que é bom dar um passo de cada vez, esperar o tempo certo, esperar se formar.” Ela também observa que ser mãe é levar um “choque de realidade” e uma das lições é reconhecer a necessidade de ajuda de outras pessoas.
Larissa se define como uma pessoa realizada. “Um dos meus sonhos eu realizei, ser mãe, faltam outros. Eu me sinto extremamente feliz por ter minha filha, me sinto cansada às vezes, mas eu amo tudo isso”, declara.