Internet ajuda animais abandonados a encontrarem um lar
No Brasil, calcula-se que existam cerca de 30 milhões de animais abandonados, dos quais 20 milhões são cachorros. Os dados são da Organização Mundial da Saúde. Liliane Lovato, presidente da Frente de Ação pelos Direitos Animais (Frada) e Emanueli Silva, voluntária do grupo Para Emanueli, a maioria dos resgates ocorrem em locais com pouco movimento, onde não há câmeras. “Geralmente terrenos baldios, rodovias e áreas rurais. Visitando as áreas periféricas da cidade, você se depara com inúmeros animais nas ruas, alguns bem machucados por conta dos maus tratos”, avalia. Quanto à adoção de animais durante a pandemia, as duas organizações enfrentam situações antagônicas. A colaboradora da Rockão observou uma queda na procura por bichos de estimação, principalmente para os de porte médio e grande. “Muitas pessoas ficaram desempregadas e os animais se tornaram ‘gastos’ e para pessoas com pouco caráter é mais fácil descartar.” A Frada, por outro lado, registrou aumento nas adoções. “O home office trouxe uma nova realidade, as pessoas passaram a ficar mais tempo sozinhas em casa e sozinhas, sentiram necessidade de ter uma companhia e optaram por ter um bichinho de estimação”, opina Liliane. Adotar um animal exige responsabilidade. No anúncio feito pelo grupo Frada, os voluntários deixam claro que os animais dão trabalho e, para quem mora em casa, ela precisa ser murada. No caso dos gatos, o ambiente precisa ser telado e os tutores precisam ter boas condições para comprar ração de qualidade e arcar com custos veterinários. “Após o anúncio, conversamos com os interessados, perguntamos se moram em casa ou apartamento, se o animal vai ficar muito tempo sozinho e se o restante da família está de acordo com a adoção”, conta Liliane. Antes de entregar o bichinho aos futuros tutores, a Frada solicita fotos do muro e do portão, caso o interessado pelos bichos more em casa, e fotos das janelas, caso resida em apartamento. Também é necessário informar se a residência é própria ou alugada. “Pessoas que moram em lugar alugado são as que mais abandonam quando se mudam”, revela a presidente. Após muita conversa, decidem pelo melhor adotante e ,na maioria das vezes, um membro da Frada leva o animal até a casa do futuro tutor. O processo de adoção no grupo Rockão é realizado através de uma entrevista. Se os voluntários notarem que as condições da pessoa são adequadas, levam os animais até a casa do adotante, visitam o local e explicam todas as características do bicho. Além disso, reforçam a importância da vacinação e da alimentação adequada. O adotante assina um termo de responsabilidade e passa por um período de adaptação. “Caso surja algum empecilho, buscamos o animal e descartamos o termo de adoção”, explica Emanueli. Ao adotar um animal do grupo Rockão, a pessoa fica ciente de que um dos voluntários poderá visitar o local sem aviso prévio, monitorando periodicamente o bem-estar do animal. “Normalmente os tutores enviam vídeos e também nos marcam em suas publicações”, complementa Emanueli No passado, a presidente da Frada achava lindo ver filhotes à venda em vitrines de pet shop. Com o tempo, começou a verificar denúncias contra criadores de animais e descobriu maus-tratos e privações. “Hoje, quando vejo um filhote de raça sendo vendido, eu enxergo além dele, de onde ele veio e toda situação de maus-tratos por trás daquela fofura”, aponta Liliane. A presidente acredita que a sociedade precisa evoluir e destaca o trabalho de órgãos de proteção aos animais. “O nosso trabalho é de formiguinha, mas necessário”, disse. Cuidar dos bichos é uma missão para Emanueli. Trabalhar com animais fez com que ela percebesse o mundo através dos olhos frágeis de quem ama incondicionalmente sem querer nada em troca. “O trabalho voluntário faz bem para quem o recebe, e ainda mais para quem o pratica. Aprendo sempre sobre empatia, compaixão e solidariedade, não só para os animais, mas também para outras causas”, compartilha.Quem ama cuida
É importante trocar a água dos animais todos os dias, reabastecer o prato de ração e levá-los para passear. Antes de trabalhar com animais, Liliane não enxergava os bichos de rua, e acreditava que eles conseguiam ser independentes. “Hoje eu vejo que não, que são como crianças, uma vez na rua eles vão adoecer, provocar acidentes e sofrerem maus-tratos”, afirma.