Cerca de 56% dos brasileiros não investem o dinheiro
Aline Cristiane dos Santos
Pauline Ramlow
Aproximadamente 47 milhões de brasileiros não fizeram investimentos em 2019 e 62% da população não conseguiu economizar um centavo, de acordo com a 3ª edição do Raio X do Investidor Brasileiro, através da ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). A pesquisa foi divulgada no final do primeiro trimestre de 2020, quando a crise sanitária e financeira do Covid-19 eclodiu mundialmente, causando o fechamento de fábricas, negócios, comércio e outros serviços.
Os motivos para as pessoas não conseguirem aplicar o dinheiro são vários, mas a principal queixa foi a falta de recursos, salários baixos, desemprego e a falta de um emprego fixo. “Quando os gastos corroem os ganhos não sobra para economizar. Esta corrosão pode ser por perda de poder de compra com o aumento dos produtos e serviços que se consome”, explica Marco Murara, professor, mestre e doutorando em administração. Segundo ele, o aumento nos gastos também é um fator que impede guardar dinheiro.
Murara afirma que grande parte da população teve queda na renda, mas que algumas profissões não foram afetadas. “Há pessoas que não sofreram alteração nos seus ganhos, como funcionários públicos, por exemplo, que não tiveram mudanças na sua rotina financeira”, conta. Ele também explica que alguns ramos de atividade, como lojas de material de construção, aumentaram suas vendas e por isso podem até ter gerado maior volume de aplicação financeira.
Opções financeiras
A crise provocada pelo Covid-19 deixou ainda mais evidente a desigualdade no país e causou impactos negativos no orçamento dos brasileiros, no qual cerca de 30% das pessoas atrasaram suas contas. A agente de relacionamento e negócios Dayane Santos Leal, da Cooperativa Civia, observa que muitos perderam ou tiveram redução na renda. “Isso faz com que os investimentos não sejam prioridade no momento”, afirma.
Em contrapartida, 41% das pessoas passaram a procurar mais informações sobre educação financeira. Dayane acredita que é preciso ter uma boa instrução nesse meio, mas que não é necessário ser especialista em investimentos para poupar e fazer seu dinheiro render. “Há vários tipos de aplicações de baixo risco que são acessíveis para aqueles sem experiência no mercado financeiro.”
A alternativa preferida de investimento do brasileiro é a poupança, mesmo sendo uma das opções menos rentáveis. Cerca de 84% ainda guarda o dinheiro na caderneta de poupança, segundo o Raio X do Investidor Brasileiro de 2019. O técnico em elevadores e escadas rolantes Alexandre José Mareth já teve experiência com aplicações nesse segmento. “Hoje não estou guardando dinheiro, porque estou investindo em projetos pessoais”, conta.
O professor universitário Murara acredita que no futuro as aposentadorias não serão como são conhecidas hoje. “O INSS é deficitário desde 1996. A matemática não fecha: Muita gente aposentada e pouca gente contribuindo. Desta forma, investir, poupar ou construir uma reserva é um ato de planejamento do futuro”, enfatiza Marco.
Vantagens e desvantagens de investir
Para Dayane, há vantagens e desvantagens em fazer investimento. Como uma vantagem ela cita a rentabilidade do capital. “É muito melhor investir o dinheiro em uma aplicação de baixo risco do que não ter rendimentos em uma conta corrente”, ressalta. Como desvantagem, existe o pouco conhecimento no mercado financeiro.
“Colocar o dinheiro em uma aplicação de alto risco pode gerar prejuízos principalmente diante do cenário econômico atual”, analisa. Já Murara assegura que é melhor construir uma reserva para um imprevisto e usufruir de recursos extras para realizar sonhos, mas deixa claro a desvantagem.
“Quando se arrisca em aplicações incertas ou inseguras pode-se perder dinheiro. É preciso planejamento e avaliação de indicadores”, aponta. Segundo ele, investimento ruim ou de alto risco é aquele que se faz na base da intuição e sem avaliar a tributação, consultar relatórios ou buscar ajuda técnica. Alexandre diz que pretende investir seu dinheiro algum dia, mas em um investimento que possa garantir uma estabilidade pessoal e familiar, visando sua qualidade de vida.