Mudanças climáticas antecipam ciclo de florescimento dos ipês
Por Heloisa Krzeminski
Os ipês são conhecidos por serem árvores que florescem durante o inverno. O fenômeno se distingue de muitas outras flores que aguardam a primavera para desabrocharem. Essa é uma das características que os tornam tão marcantes em meio a dias cinzentos da estação mais fria do ano. Contudo, as altas temperaturas durante o inverno deste ano interferiram na floração das espécies.
Como consequência, os ipês floresceram mais cedo do que o convencional. Quando o ciclo de florescimento se adianta, semelhante ao que aconteceu este ano, é gerada uma disputa entre as diferentes espécies de ipês pelos mesmos grupos polinizadores, impedindo que todas as plantas sejam polinizadas da forma correta.
Outro problema, conforme Suzana Alcantara, professora de botânica na Universidade Federal de Santa Catarina, é que existe uma sintonia muito fina para a germinação das espécies, ou seja, elas precisam passar por condições de temperatura específicas e ter disponibilidade de recurso e água no ambiente para poder germinar. “Imagina uma planta que era para germinar lá em outubro ou setembro, mas que já floresceu agora em agosto. Apesar de a temperatura estar mais alta em agosto, a quantidade de chuva não é a mesma, então ela vai ter muito menos recurso.” O florescimento antecipado dos ipês, portanto, é uma consequência negativa do aquecimento global, que os coloca em risco.
Por que eles florescem no inverno?
De acordo com a professora Suzana, a estratégia de floração dos ipês é conhecida por “Big Bang”. Os indivíduos de determinada espécie florescem simultaneamente, com o objetivo de favorecer a polinização cruzada. “Quando você tem muitos indivíduos florescendo ao mesmo tempo, o polinizador enxerga aquilo como recurso para ser explorado e faz com que se tenha muito sucesso na frutificação dessas árvores”, explicou.
Acredita-se que essa estratégia aconteça durante o inverno, mais especificamente na metade da estação em diante, porque muitos animais estão em um estágio letárgico e com poucos recursos na natureza. Portanto, ao florescer os ipês se tornam a principal fonte de alimento de muitas espécies favorecendo a frutificação e, consequentemente, a troca de genes em diferentes indivíduos.
Dois fatores que indicam a floração dos ipês é a iluminação, mais especificamente a variação da quantidade de horas no dia, e a temperatura.
Em 1961, o ex-presidente Jânio Quadros concedeu à flor do ipê o título de “Flor Nacional”, apesar de não ser uma espécie exclusivamente brasileira. Aliás, o correto é dizer espécies, já que as diferentes cores possuem gêneros diferentes. As mais comuns são Handroanthus e Tabebuias comuns em florestas de mata atlântica. De qualquer forma, todas pertencem à família Bignoniaceae e suas semelhanças proporcionaram-lhes o mesmo apelido.
Uma de suas funções fora da natureza é arborizar o cenário urbano, mas os ipês também são valorizados por sua madeira na produção de assoalhos e mobiliários altamente resistentes. Sendo daí que se origina o nome ipê, palavra herdada do tupi-guarani, que significa cascadura.
Veja abaixo o infográfico sobre os ipês: