A tradição gauchesca é vivida por admiradores e tradicionalista em Joinville
Dançar ou descansar ouvindo uma banda gaúcha é um dos lazeres dos apreciadores da tradição
Por Anderson Marques
Na semana Farroupilha, comerciante natural do Rio Grande do Sul, Rude Angst e o professor de dança gaúcha, Zelino Gustavo contam como demonstram o seu orgulho ao Rio Grande do Sul, em Joinville, a maior cidade de Santa Catarina, através da dança, da música e o hábito de tomar chimarrão nos dias atuais.
O tradicionalismo gaúcho é uma corrente cultural regionalista formada em torno da exaltação da figura do gaúcho e dos costumes do Rio Grande Sul, como o consumo do Chimarrão, uso de roupas típicas como os vestido coloridos e adornados das mulheres, a bombacha, típico calça com cano largo nas pernas, as músicas com instrumento de cordas e, principalmente o uso do acordeon, conhecida também como sanfona em outras partes do Brasil. Além disso, a cultura rio-grandense é composta por um vasto folclore, crenças e lendas fomentada através da literatura e a expressão linguística regional.
Uma das pessoas que ainda preservam as tradições gaúchas em terras joinvilenses é o comerciante Rude Angst, de 79 anos. Há três décadas ele vive no bairro Comasa com a sua esposa. Natural da cidade de Cerro Grande, município da região Oeste do Rio Grande do Sul, localidade conhecida como a terra missioneira, onde os padres da companhia de Jesus – os Jesuítas, teve uma grande participação na catequização ao catolicismo dos índios, no século XVII. Seu Rude, como é chamado pelos seus clientes e amigos da sua pequena agropecuária que pra quem chega, ao fundo do balcão já dá pra ver a tradicional “Cruz Missioneira” remetendo a fé do seu povo, conta veio para em Santa Catarina, porque a sua região onde morava estava passando por dificuldades nas lavouras, pois lá já era comerciante e dependia dos produtores locais para abastecer o seu estabelecimento e, para não perder tudo, foi preferível começar uma vida nova em uma cidade onde as empresas e os comércios não estavam passando por dificuldades. “Gostei da cidade de Joinville e do sistema, e das escolas pros meus filhos, voltei pro Rio Grande e trouxe eles pra cá”, conta o comerciante.
Quem chega na casa do comerciante logo nota em sua cozinha as tradições do Rio Grande do Sul, ao se deparar com um “ jipão”, uma espécie de fogão a lenha de concreto. Além dele, há uma chaleira com água sempre quente para se preparar um chimarrão. Em sua sala, há vários vinis e cds clássicos de bandas gaúchas, como Os Monarcas, guardadas em uma estante de madeira pelo fã comerciante. “Sempre que posso nos finais de semana, sento com a minha esposa na varanda de casa e pego a minha cuia (recipiente onde toma o chimarrão) e ouço as minhas músicas lembrando da minha terra”, relembra.
Como um bom gaúcho, a semana do dia 20 de setembro é importante por ser comemorada a Guerra dos Farrapos, também conhecida como Revolução Farroupilha, que teve início em 1835. A revolta só terminou dez anos depois, no mês de março, sendo a mais longa da história do Brasil.
O objetivo dos rebeldes da Revolução Farroupilha era separar o que hoje compreende o estado do Rio Grande do Sul do restante do país, se tornado uma república independente do Brasil Império, devido a insatisfação tributária do governo centralizado no Rio de Janeiro, antiga capital brasileira. Esse momento histórico até os dias de hoje é lembrado através de grandes eventos, como cavalgadas com a chama crioula, espécie de uma tocha que é acendida em Porto Alegre, que simboliza o apego e o nativismo do gaúcho a sua terra, e essa chama percorre todo estado gaúcho. Existem também exposições sobre a guerra, comidas típicas como churrasco e músicas durante toda semana.
Essas comemorações do território do Rio Grande do Sul, chegaram a Santa Catarina por pessoas como Anita e seu marido, o italiano Giuseppe Garibaldi. Eles lutaram pela independência dos dois estados do restante do Brasil, no século XIX. Por aqui, a revolução foi chamada de República Juliana ou Catarinense, proclamada em julho de 1839.
A migração de gaúchos para Santa Catarina, no século XX, estimulou a tradição do consumo de chimarrão. A dança e a música são também um grande marco cultural da identidade dos rio-grandenses do sul, compartilhadas com os catarinenses. Na região de Joinville, existem escolas que ensinam esses costumes
A escola de dança Unidos da Tradição, do bairro Aventureiro, mantém a cultura dos CTGs (Centro de tradições gaúchas) em Joinville. O professor Zelino Gustavo, 46 anos, natural de Taió, Santa Catarina, fundador da instituição, mora na cidade desde os 2 anos. Seu primeiro contato com a tradição gaúcha foi através de seu irmão mais velho que lhe apresentou os hábitos rio-grandenses do sul. “Ele dava aulas de danças gaúchas na década de 80 e 90, foi assim que iniciei minha trajetória na cultura rio-grandense”, conta .
Com mais de 20 anos de história, a Unidos da tradição, já teve a passagem de vários alunos, em torno de 15 mil alunos, além de ter formado mais de 40 professores. Para o professor de dança gauchesca, não é apenas ensinar as pessoas a dançarem, mas, sim se vestirem com o “Pilchar” (espécie de indumentária gaúcha) e, também ensinar alguns vocabulários do nosso estado vizinho ao sul. Explica o tradicionalista.
Além do aprendizado e a valorização da cultura do Rio Grande do Sul, em Joinville, dentro dos grupos de danças nascem laços de amizades entre os alunos que colaboram para melhor divulgação da cultura. “Essa interação nos permite sempre estarmos em grandes turmas nos bailes e não somente na cidade, como em outras próximas, nos divertindo e divulgando o nosso trabalho”, finaliza Zelino.