A tragédia do Batman
Por Eduardo Gums
No fim dos anos 1980 até o começo dos anos 1990, o mundo do cinema viveu um fenômeno que ficou conhecido como Bat-mania. Tal popularização do personagem Batman foi causada pelos filmes dirigidos por Tim Burton em 1989 e 1992. Nesse contexto em que a popularidade do personagem era quase uma mania, a Warner Bros Animation contratou Bruce W Timm para produzir uma série animada do personagem.
Timm, que já havia feito parte da equipe de Tiny Toons Adventures (baseada nos personagens da turma do Pernalonga), se uniu então com Paul Dini e Mitch Brian para produzir a animação que seria exibida na Fox Kids em horário nobre entre 1992 e 1995. Foram produzidos 85 episódios e dois filmes (um em 1993 e outro em 1998), sendo um deles Batman: A máscara do Fantasma, lançado em 25 de dezembro de 1993.
Inicialmente produzido como um produto direto para vídeo, o filme ganhou uma breve exibição nos cinemas. Tal exibição arrecadou pouco e não chamou muita atenção. Foi somente nos anos posteriores ao seu lançamento que o filme foi redescoberto e se transformou junto com a série animada, em um clássico cult.
A ideia do filme nasceu como dois episódios da série animada. O primeiro era intitulado como Masks (Máscaras) e o segundo como Vigil (Vigília). Masks era um episódio dividido em duas partes cuja história foi muito aproveitada no presente filme. Vigil iria explorar a origem deste homem-morcego do ponto de vista do mordomo Alfred. A primeira noite como justiceiro é a parte do roteiro de Vigil, que é aproveitado aqui.
A história de A máscara do Fantasma é simples. Dez anos após ter vestido a capa e o capuz do morcego, Bruce Wayne enfrenta a ameaça de um outro justiceiro mascarado não nomeado. Este novo personagem acaba por assassinar figuras mafiosas da cidade, sujando o nome do herói. Ele investiga o caso enquanto lida com o retorno de um antigo amor, Andrea Beaumont.
O filme foi dirigido por Bruce Timm e Eric Ramdoski. O roteiro escrito a oito mãos (Alan Burnett, Paul Dini, Martin Pasko e Michael Reaves) consegue abordar temas pesados. Coisa que era muito comum na série de 85 episódios produzida pelos já citados roteiristas. Essencialmente uma história de amor e destino, o filme apresenta uma das histórias de origem mais trágicas do personagem.
Ao longo dos 76 minutos de projeção o filme traz influências de Cidadão Kane (Orson Welles, EUA, 1941) em uma história que ficou na memória dos fãs por ser envolvente e mostrar as tragédias que cercam a vida do personagem. Além de uma história memorável e complexa, o filme traz um excelente trabalho de voz.
Kevin Conroy se consagrou como a voz definitiva do personagem. Criando vozes distintas para Bruce Wayne e Batman, o ator consegue realizar um feito que pode e deve ser considerado um grande trabalho de Voice Acting (Trabalho de Voz).
Dana Delany também está muito bem como Andrea Beaumont. Mark Hamill tem uma assustadora interpretação como o Coringa. Hamill é considerado um dos melhores palhaços do crime no cinema. Seu trabalho o levou a dublar o vilão na série de jogos Arkham.
A ambientação do filme é fantástica e muito imersiva. Apesar de se passar nos anos 1990, a obra tem uma estética atemporal. A mistura entre carros e moda dos anos 1940 e 1950 com tecnologia de sua época é uma união tão perfeita que nunca foi superada.
No final, o filme de Bruce Timm consegue um feito inédito. Ao contar uma história adulta num desenho “infantil”, a película criou, junto da série de onde se originou, uma nova forma de se contar histórias com o personagem. Que foi referenciado por Robert Pattinson ao longo da divulgação de Batman (2022) como uma das melhores adaptações do personagem. Quase trinta anos após seu lançamento original e com uma nova série programada para o ano que vem, este filme e o show animado de onde ele se originou, continua como a versão definitiva do personagem em animação.