Afinal, quem era a coisa? Clássico da ficção completa 40 anos em 2022
Por: Ana Carolina de Jesus
Mestre do terror e da ficção científica, o diretor John Carpenter começou a gravar curtas de terror cedo, antes do colegial. Seu amor por ambos os gêneros desde criança lhe fez ingressar na Escola de Artes Cinematográficas da Universidade do Sul da Califórnia, em 1968, na qual se formou três anos depois. Diretor de sucessos de bilheteria como Halloween (1978) que é considerado um dos filmes independentes mais lucrativos da época, infelizmente não foi o suficiente para lhe garantir público e prestígio para as suas próximas produções, como Christine (1983) e The Thing (O Enigma de Outro Mundo, em português), lançado nos cinemas em 1982. Quanto tempo as pessoas demoram para perceber que um filme é realmente bom? Em seu aniversário de 40 anos, o filme está retornando aos cinemas para algumas sessões de comemoração nos Estados Unidos.
O longa aborda a rotina de 12 homens que estão instalados em uma base de pesquisa americana na Antártica. Após avistarem, com espanto, um helicóptero norueguês perseguindo a tiros um cachorro que fugia rapidamente pela neve, o animal corre em direção aos americanos, o que leva os tripulantes do helicóptero a atirarem em direção a eles. Um dos tripulantes é morto pelos americanos e o helicóptero acaba explodindo, matando os demais. O cachorro é abrigado na base enquanto tentam descobrir o motivo da perseguição.
MacReady, interpretado por Kurt Russell, é o piloto da base americana, e toma a iniciativa de ir até a base norueguesa para verificar o que ocorreu. Chegando lá, a base estava em ruínas e MacReady encontra um corpo desconfigurado. O piloto resolve levá-lo para a base americana com o objetivo de estudá-lo para descobrir o que ocorreu. Na mesma noite, enquanto todos dormiam, o cachorro, que estava abrigado na base americana, ataca os demais companheiros de canil. Após algum tempo, gradativamente, os homens concluem que estão lidando com uma espécie de alienígena capaz de se transformar em sua vítima após matá-la.
De “lixo Instantâneo”, “excesso miserável” e “o filme mais odiado de todos os tempos” para um dos clássicos de terror e ficção mais amado pelos entusiastas. Os veículos da época não mediram esforços para divulgar avaliações ruins sobre o longa, como o The New York Times e a revista Cinefantastique. The Thing é o segundo filme baseado na obra literária Who Goes There? (1938) do autor John W. Campbell. O primeiro filme, de 1951, chamado The Thing from Another World (O Monstro do Ártico, em português), ao contrário do longa de 1983, obteve uma boa bilheteria para a época.
O prestígio do filme de John Carpenter veio após o lançamento do longa nas locadoras, em vídeo cassete e nas reprises da televisão. Hoje, com o status de clássico cult, The Thing até foi elogiado pelos seus efeitos práticos na época do lançamento, mas isso foi devido a boa parte do orçamento do filme, cerca de 15 milhões de dólares, ser destinado a eles. O fato do filme chegar aos cinemas na mesma época de E.T. O Extraterrestre contribuiu para o seu fracasso visto que a ideia de alienígenas bonzinhos que viram amigos de crianças estava fresca no subconsciente das pessoas.
John Carpenter também não desaponta na escolha das trilhas sonoras de seus filmes. É difícil alguém que não conheça a música marcante de Halloween tocada enquanto o serial killer Michael Myers está perseguindo suas vítimas, e isso não seria diferente para The Thing. A trilha tema, composta pelo incrível Ennio Morricone, inicia com dois acordes de baixo insinuando a batida de um coração, logo a música ganha forma com mais batidas de baixo, porém o som similar ao pulsar de um coração permanece em evidência. Em fóruns da internet alguns fãs acreditam que a música realmente retrata o coração de uma pessoa batendo, e quando o número de acordes aumenta, quer dizer que a “coisa” já o matou e replicou o seu corpo. Essa teoria até faz sentido, porém John Carpenter nunca afirmou se esse seria mesmo o seu significado. Mas não há como negar que a trilha de tensão casa perfeitamente com o longa, que já inicia com essa música enquanto a tela ainda está escura.
Com o cinema caminhando junto com o CGI e efeitos especiais produzidos por computadores, não se vê mais filmes que se empenham em trazer efeitos práticos com tanta maestria. The Thing cumpre com perfeição esse quesito e nos ajuda a relembrar a época de ouro de filmes que precisavam “se virar” com a tecnologia da época. O fato das cenas com o alienígena causarem repulsa ao espectador é uma das provas do grande trabalho, a beira da exaustão, feito pelo Rob Bottin, famoso artista de efeitos especiais que também trabalhou nos efeitos da trilogia Robocop, do longa Total Recall (O Vingador do Futuro, em português), Terminator 2 (O Exterminador do Futuro 2) e Jurassic Park.
The Thing trouxe para o gênero terror e ficção científica um novo caminho a ser explorado e grande influência para produções posteriores que abordam a tensão, paranóia e desconfiança entre os personagens, como reproduzido no longa de 2015, The Hateful Eight (Os Oito Odiados), dirigido por Quentin Tarantino. O final de The Thing é um mistério para os fãs mais fascinados visto que não possui um arco que se finaliza quando os créditos sobem na tela da TV, deixando o final a critério da imaginação do espectador: “Afinal, quem era a coisa?”.
Ficha técnica no filme:
Classificação: 16 anos
Duração: 109 minutos
País de origem: Estados Unidos
Diretor: John Carpenter
Roteirista: Bill Lancaster
Produtores: David Foster e Lawrence Turman
Elenco: Kurt Russell, Wilford Brimley, T. K. Carter, David Clennon […]
Gênero: Terror e Ficção Científica
Música: Ennio Morricone
Idioma: inglês