Dedução e vingança: O primeiro romance de Sherlock Holmes sobre análise
Conta-se no meio dos consumidores de histórias policiais, a história de como o escritor escocês Arthur Conan Doyle criou seu personagem mais célebre, o detetive londrino Sherlock Holmes. Estudante de medicina entre os anos de 1876 e 1881, Conan Doyle teve durante esse período contato com o cirurgião e palestrante na universidade de Edimburgo, doutor Joseph Bell. Dono de habilidades de observação e dedução extraordinárias, Bell impressionou muito o jovem Doyle o inspirando em 1886 a criar um personagem baseado naquele palestrante que tanto o impressionou na juventude.
Doyle era um escritor de contos quando concebeu seu personagem mais célebre, tendo publicado seu primeiro conto em 1879, quando ainda estava na universidade. Seu primeiro romance foi escrito em três semanas, no ano de 1886. Doyle lutou para achar uma editora para o romance, até encontrar a editora Ward & Lock Co, que publicou o romance anteriormente intitulado “A tangled Skein” com o hoje já conhecido título “A study in Scarlet” (Um estudo em Vermelho). O romance foi publicado no Beeton´s Christimas Annual de 1887. Doyle recebeu apenas 25 libras pelo romance que o tornaria, posteriormente, famoso.
O romance além de ser o primeiro de Doyle, que mais tarde receberia o título de Sir, também foi o primeiro a estrelar os personagens Sherlock Holmes e seu amigo Doutor John Watson. Ambientado em 1881, pouco tempo após a segunda guerra anglo-afegã, o romance narra o retorno de Watson para Londres e seu primeiro encontro com o jovem Sherlock Holmes. Watson se tornaria seu amigo por três décadas (seu último caso cronológico “Seu último adeus” de setembro de 1917 é ambientado em agosto de 1914).
Apesar de ser pouco retratado pelas adaptações televisivas e cinematográficas do personagem, o primeiro encontro entre os dois clássicos personagens é muitíssimo interessante, já que demonstra a habilidade de Doyle em construir personagens e dizer muito com pouco. A dedução de Holmes hoje reproduzida na série de televisão da BBC, de que Watson via do Afeganistão, se tornou famosa e clássica. A dedução nos faz já ficar interessados naquela figura magra e alta que parece saber tudo sobre a vida da pessoa só de olhar para ela.
Após esse primeiro contato, Holmes e Watson decidem se encontrar para ver um apartamento em Baker Street, 221B. Após a mudança, Watson acaba por descobrir o quão intrigante é aquele seu colega de apartamento e quando o detetive consultor acaba por receber um telegrama dos detetives Gregson e Lestrade para comparecer a uma cena do crime, o médico acaba por se envolver na investigação de uma trama de assassinato.
A partir desse ponto, a história ganha muita força com Conan Doyle dando grande destaque para as habilidades de observação e dedução de seu personagem. Holmes se apresenta ao longo do romance como um personagem excêntrico, metido com a química e com um grande conhecimento da história do crime. Watson é um observador, completamente fascinado com aquele que viria a se tornar seu grande amigo.
A primeira parte do romance se encerra de forma catártica e depois disso o autor se volta para narrar o contexto do crime cometido nos levando para Salt Lake City, Estados Unidos, décadas antes dos eventos do romance onde somos apresentados à comunidade mórmon do lugar. Aqui Doyle narra a história não só do assassino, mas também dos assassinados e lança luz sobre todos os acontecimentos ocorridos em Londres em 1881.
O encerramento que Doyle dá nos capítulos sete e oito da segunda parte, são interessantes e nos fazem querer mais do detetive.
A edição lida para este texto foi a edição de bolso em capa dura da editora Zahar, publicada em 2013, e que traz a tradução premiada de Maria Luiza X de A. Borges usada na versão brasileira da edição comentada e ilustrada de Leslie S Klinger, publicados entre 2010 e 2011 pela mesma editora. É uma tradução muito fácil de se ler, como a introdução do livro destaca, mostra o tino que Conan Doyle tinha para diálogo e descrição. Me senti dentro do romance.
Um estudo em vermelho acaba por ser uma excelente porta de entrada para as histórias de Sherlock Holmes, trazendo uma intrigante trama de assassinato e um protagonista carismático. Um excelente romance policial.