A Freira 2 – Mais do Mesmo?
Por: Guilherme Beck Scolari
É difícil que o público-alvo do “Invoca-verso” vá assistir a “A Freira 2” sem saber o que esperar. O universo de Invocação do Mal é uma franquia muito bem consolidada e com um padrão de qualidade claro: Os filmes principais da saga têm um grande cuidado por trás das câmeras (vulgo “Invocação do Mal 1”, 2 e 3), e todo o resto é extremamente inconsistente, oscilando entre “Annabelle 2” e 3 – que possuem sua dose de originalidade e frescor, com destaque para o ótimo segundo filme dirigido por David F. Sandberg – e abominações cinematográficas como “A Maldição de La Llorona” e o primeiro “A Freira”. Com isso dito, vale citar que estes são tradicionais filmes de terror de shopping center, que, com exceção dos longas dirigidos por James Wan, não se preocupam em subverter ou inovar absolutamente nada dentro do gênero.
Nesse contexto, “A Freira 2” cai no famoso “não fede nem cheira”. Aqui você vai encontrar jumpscares previsíveis, exageradas músicas que fazem “PAM!” quando o espectador “menos” espera, demônios com poderes inconsistentes e uma falta de criatividade tremenda para dar sustos, além de muitas (muitas mesmo) sequências de sonho “assustadoras” e extremamente inconsequentes.
A direção de Michael Chaves, responsável por “La Maldición de La Llorona” e “Invocação do Mal 3”, tenta ir um pouco além de emular o estilo de James Wan, entretanto, falha miseravelmente em uma direção morna e entediada com o próprio material. O ritmo aqui é péssimo, as cenas vão passando sem transmitir nada, não evoluindo o mistério proposto e rapidamente entediando qualquer espectador que tenha visto pelo menos um filme de terror ou mistério na vida. A única coisa realmente ofensiva fora o desinteresse do próprio diretor em seu filme, é como ele chama o espectador de burro: colocando flashbacks desnecessários para lembrar o espectador de coisas que aconteceram a pouquíssimo tempo atrás, além de cenas expositivas que extrapolam o brega, além de arquétipos… digo, personagens extremamente genéricos.
O roteiro é bem problemático, consistindo em uma série de situações supostamente malignas colocadas em sequência, sem muito desenvolvimento ou senso de progressão entre si, o que faz a história tomar muito tempo para ser contada e trazendo um forte sentimento de que uns 40 minutos poderiam facilmente ser cortados sem comprometer o andamento do longa.- e poderiam.
Olhando um pouco o lado positivo da vida, existem 3 momentos que demonstram um leve grau de inspiração pelo diretor, me deixando triste pelo potencial desperdiçado de se ter uma freira encapetada muito louca. Outro ponto bacana do filme é sua cinematografia, usando simetria combinada com uma ótima ambientação para criar belos cenários desconfortantes, mas muito bem montados (e com uma ótima integração de efeitos especiais). Os efeitos especiais são bons, uma pena que mal utilizados pelo diretor em cenas artificiais e bobas – além das extensões digitais dos cenários, que são excelentes.
Segundo minha irmã de 12 anos, o filme não assusta muito porque sempre dá para saber quando a freira vai aparecer (e olha que esse foi o primeiro filme de terror que ela assistiu no cinema). Ela até previu o momento em que a vilã voltaria para um último susto, olhando pra mim e dizendo “eu já aprendi essa lição com “Pânico”, deixando qualquer irmão cinéfilo cheio de orgulho!
Ainda assim, não consigo dizer que desgostei completamente do filme. Alguns conceitos são tão ridículos e absurdos que não consegui não me divertir. O MacGuffin – nome técnico para o objeto que move a trama – vai muito além do maluco e tem um design tão parecido com os dispositivos Alexa da Amazon que não consegui conter o riso durante a sessão. Alguns sustos me pegaram e admito ter ficado curioso para saber o desfecho do longa, que, embora previsível, possui uma alegoria visual no mínimo interessante. Além disso, as atuações fazem um bom trabalho com o que foi proporcionado pelo roteiro: quando têm que parecer assustados, os atores parecem assustados. Gostaria de dar um destaque para Katelyn Rose Downey, já que, além de ter pouquíssimo material para trabalhar, conseguiu conquistar minha empatia e entregou um trabalho competente, mérito que merece ser celebrado, ainda mais se considerarmos a pouca idade da atriz.
Curioso ver como o filme aos poucos praticamente se torna um longa de heróis, com superpoderes, armas mágicas sagradas (você não leu errado) e frases de efeito. Para mim, o momento que me deixou mais chocado foi a cena pós-créditos, relacionando-se com outra franquia dentro do Invoca-verso e te lembrando de não perder o próximo episódio (que sinceramente, espero que seja melhor que esse aqui).
No final das contas, “A Freira 2” não é um desastre completo, mas passa longe de qualquer mérito significativo. Enquanto os créditos (que inclusive, são mais assustadores que o próprio filme) rolavam, o meu sincero sentimento era de “puts, deveria ter ido conferir o novo Tartarugas Ninja”. Dito isso, só recomendo esse filme caso você queira dar uma boa risada e levar uns sustinhos com amigos, já que medo é algo que você não vai encontrar por aqui.
Nota final 5/10.