Mãos que Falam: O Universo da Linguagem de Sinais e a Luta pela Inclusão
Por: Ana Pinto
Em um país diverso como o Brasil, onde a riqueza cultural se expressa de maneira singular, existe uma parcela significativa da população que enfrenta desafios únicos em seu dia a dia: os surdos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 10 milhões de cidadãos são surdos. No entanto, suas vozes e necessidades frequentemente passam despercebidas.
A comunicação é a essência de qualquer sociedade. Contudo, um estudo conduzido pela Federação Mundial dos Surdos (WFD) revela que 80% das pessoas surdas ao redor do mundo enfrentam dificuldades com as línguas escritas, levando-as a buscar alternativas para se expressarem. Essa busca frequentemente encontra abrigo nas Línguas de Sinais, como a Libras (Língua Brasileira de Sinais).
A falta de representatividade e o acesso limitado à educação e à acessibilidade são questões que muitas vezes são negligenciadas. Muitos ouvintes desconhecem a Libras, e a escassez de profissionais qualificados para atender os surdos em locais como escolas e hospitais é preocupante.
É nesse contexto que surgem heróis anônimos, como a professora Rute Souza, 46, que há mais de 19 anos oferece aulas voluntárias de Libras em Joinville. Rute fundou o Instituto Joinvilense de Assistência aos Surdos (IJAS) em 2010. Infelizmente, em 2021, mudanças na gestão municipal forçaram o IJAS a deixar o seu espaço de atuação, onde atendiam mais de 600 famílias por mês. A Prefeitura de Joinville explicou em nota que, embora tenha sido estabelecido um Termo de
Acordo e Cooperação com a instituição em 2013, o documento expirou em 2018 e não foi renovado.
De acordo com Rute, sem a Libras, pessoas surdas não conseguem se comunicar com um médico, por exemplo, para relatar seus sintomas e obter um diagnóstico
preciso. “Vidas podem ser salvas pelo acesso à comunicação.”
A importância do ensino precoce
Outras vozes como a da fonoaudióloga Ana Flávia Araújo, 43, ecoam a busca por mudanças. Com mais de 20 anos de experiência na área de saúde auditiva, Ana Flávia enfatiza que a linguagem de sinais é uma língua completa e que sua aprendizagem deveria iniciar desde cedo nas escolas. Ela destaca que bebês podem iniciar o processo de aprendizado da linguagem de sinais e que a inclusão desde cedo é crucial para o desenvolvimento pleno dessas crianças.
A detecção precoce da perda auditiva é outro pilar fundamental para a inclusão.
Testes de audição, como o “Teste da Orelhinha”, que identifica problemas auditivos em recém-nascidos, aliados à sensibilização dos profissionais de saúde e à presença de professores de Libras nas escolas, são passos fundamentais para assegurar que as pessoas surdas sejam verdadeiramente incluídas em nossa sociedade.
A história de Mariana De Andrade Mello, 19, nadadora surda paralímpica, personifica a superação. Diagnosticada com perda auditiva profunda, a atleta enfrentou desafios desde o nascimento. Com um implante coclear, tratamentos e determinação, ela se desenvolveu plenamente, acumulando vitórias e medalhas.
Mariana compartilha sua opinião sobre o aprendizado de Libras: “A sociedade tem a responsabilidade de possuir indivíduos capacitados em todos os setores para intermediar a comunicação com pessoas surdas. A linguagem de sinais deve ser ensinada desde os primeiros anos na escola, como uma segunda língua”.
Em um mundo que valoriza a diversidade, é importante garantir que todas as vozes sejam ouvidas. Os surdos merecem não apenas respeito, mas também inclusão ativa em todos os aspectos da vida em sociedade. A linguagem de sinais é a chave que abre as portas da comunicação, da educação e da oportunidade para uma comunidade que há muito tempo aguarda igualdade.