A geração vape e os perigos dos cigarros eletrônicos
Por Hayana Ribas
A disponibilidade dos dispositivos e sabores atraentes, aliada à percepção de uma alternativa mais segura ao tabagismo tradicional, tem atraído uma nova geração de usuários.
Os Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs), conhecidos como cigarros eletrônicos, vapes ou vaporizadores, ganharam popularidade devido ao seu design moderno, variedade de sabores e ausência de cheiro desagradável e bitucas. Apesar de proibidos em muitos lugares, são especialmente populares entre os jovens e encontraram um espaço significativo de aceitação em diversos cenários sociais.
Embora haja variações entre diferentes marcas, esses dispositivos operam aquecendo um líquido que contém nicotina, solventes, aromatizantes e outras substâncias químicas para criar um aerossol, substituindo a fumaça tradicional pelo que é conhecido como vapor, termo que deu origem ao seu apelido popular “vape”.
O surgimento do vape
A primeira versão do cigarro eletrônico foi criada há duas décadas, pelo farmacêutico chinês Hon Lik, com a intenção de oferecer uma alternativa para ajudar os fumantes tradicionais a superarem gradualmente seu vício. Com o tempo, a ideia de que os usuários poderiam se beneficiar da eliminação das substâncias tóxicas geradas pela queima do tabaco e, assim, conseguir abandonar o hábito por meio de doses controladas de nicotina, foi descartada.
À medida que os pesquisadores começaram a examinar mais profundamente os dispositivos e seus efeitos na saúde humana, o consumo de cigarros eletrônicos expandiu-se, transformando-se em um mercado bilionário.
Profissionais da saúde em alerta
No início deste ano, o Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) realizou uma pesquisa sobre o uso de cigarros eletrônicos no Brasil. O resultado surpreendeu ao revelar que 2,2 milhões de adultos (1,4%) relataram ter usado dispositivos eletrônicos para fumar nos 30 dias anteriores à pesquisa. No primeiro ano em que o levantamento foi feito pelo Ipec, em 2018, a taxa era de 0,3% na população, com menos de 500 mil consumidores.
A disseminação do uso desses dispositivos reacendeu o debate sobre o tabagismo e tem preocupado as autoridades de saúde. Tiago Neves Veras, 46, médico pneumologista pediátrico, alerta sobre o uso dos famosos vapes.
“Precisamos lembrar que os vapes e pods não estão isentos da nicotina, eles possuem a substância na sua composição. Na última década surgiu essa falsa ideia de que os cigarros eletrônicos vão fazer menos mal que o cigarro tradicional, isso é uma mentira. Eles afetam de uma forma pior, milhares de estudos e relatos já comprovam que o dano é muito grande, seja pela nicotina em si, pelo calor inalado, ou pelos metais pesados como o aldeído”, alerta.
O que os jovens dizem sobre o assunto?
Andrei Mattjie, 19, faz uso dos cigarros eletrônicos há dois anos, ele relata que começou a usar apenas nas festas e em finais de semana, e que como todo mundo estava usando ele também quis experimentar. Para ele, o cigarro eletrônico é melhor que o tabaco tradicional por conta do cheiro e do gosto.
“Estou ciente sobre os riscos que o uso de vapes podem trazer, na verdade, fico preocupado. Acredito que o cigarro eletrônico realmente seja ruim para a saúde, e pela tendência nos jovens a situação de saúde no futuro pode ser muito pior. Conheço pessoas que já tentaram parar de usar, muitos conseguiram e não colocam mais na boca, porém muita gente tenta parar e não consegue”.
Regulamentação do cigarro eletrônico
No Brasil, a comercialização, importação e publicidade desses dispositivos são proibidas pela Anvisa desde 2009. Além do Brasil, outros 36 países também proíbem a venda desses produtos, enquanto aproximadamente 80 países permitiram seu uso com regulamentações e critérios específicos.
Em setembro deste ano, o Senado Federal realizou uma audiência pública para debater a regulamentação dos cigarros eletrônicos no país. Devido às divergentes opiniões, foi decidido que uma segunda reunião, originalmente programada para a tarde do mesmo dia, seguiria o debate com a participação de novos especialistas. No entanto, essa segunda reunião acabou sendo adiada.