Extensão e ensino: conheça os principais projetos desenvolvidos em 25 anos dos cursos de comunicação
Por Ana Carolina de Jesus e Bárbara Siementkowski
O principal fator para muitas pessoas se interessarem em ingressar no ensino superior são as oportunidades disponíveis no mercado de trabalho após a conclusão. Muitos caminhos surgem e um leque ainda maior se abre após a formação. Mas afinal, ser graduado te prepara adequadamente para o mercado? Um diploma é diferente de experiências e de vivências profissionais, dessa forma, os cursos de comunicação da Faculdade Ielusc possuem diversos projetos que contribuem diretamente na formação e experiência dos alunos, fornecendo um ambiente que muitas vezes simula o cotidiano de determinadas áreas de atuação e oferecem aos alunos oportunidades de seguir o que mais gostam de fazer.
Na segunda reportagem da série especial sobre os 25 anos dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda, confira os principais projetos que já fizeram e fazem parte do cotidiano dos acadêmicos.
Revi: um laboratório de redação
“Lá eu aprendi a ser jornalista, aprendi as principais bases da ética e principalmente: aprendi a escutar. Como eu queria voltar no tempo para reviver aquelas tardes… Dias que não voltam mais, mas que marcaram minha vida.” Estas são as palavras de Mateus Lino, egresso do curso de Jornalismo e ex-estagiário da Revi, a Revista Eletrônica do Bom Jesus/Ielusc.
No início da graduação, ele procurava por uma experiência na área e se motivou a entrar na Revi. “Na época, minha amiga, a Jucilene Schneider, ganhou uma bolsa na Revi e via como ela aprendia nas tardes em que trabalhava. Então, decidi fazer companhia e me juntar à experiência. Na época que comecei, a Revi ainda era na sala dos computadores, em frente ao estúdio de televisão”, recorda.
A Revista Eletrônica do Bom Jesus/Ielusc (Revi) nasceu junto com os cursos de Comunicação da instituição, em 1998. É um projeto de extensão que atravessa as barreiras da sala de aula e dá oportunidade para os alunos de Jornalismo publicarem suas produções. Foi a pioneira em veículos com conteúdo totalmente digital em Joinville, visto que na época o jornal A Notícia utilizava o conceito de transposição, ou seja, passava o conteúdo dos jornais impressos para o site, na íntegra.
A professora Marília Crispi de Moraes, atual coordenadora do curso de Jornalismo, descreve o início do projeto e sua ideia central:
O objetivo de Lino era entrar na Revi para desenvolver material de portfólio focado em televisão. Mal ele sabia que aquela experiência, para além de desenvolver o portfólio, mudaria sua vida para sempre.
“Fiz muitas matérias e cobri eventos do Ielusc. Também foi lá que consegui algumas oportunidades para ser mestre de cerimônias pela faculdade. Mas, acredito que a oportunidade mais especial de todas que a Revi me proporcionou foi, sem querer, um estágio no Vaticano.”
Era uma tarde rotineira de trabalho. Lino fazia suas tarefas diárias quando descobriu que o padre Arnaldo Rodrigues, social media do Vatican News (veículo oficial da Igreja Católica), iria estar em Florianópolis para um congresso.
“Sugeri a pauta à professora Marília, que prontamente apoiou a minha loucura. Na época, tinha acabado de tirar a minha carteira para carro. Fiquei super animado, mas, depois, descobri que o evento custava R$1500 – dinheiro que eu não tinha.”
Focado no seu objetivo, Lino ainda tinha esperanças de que conseguiria. “Em um ato de coragem, mandei mensagem para o padre Arnaldo nas redes sociais. Minutos depois ele disse que iria me receber e me conceder uma entrevista.”
Com a companhia de alguns amigos, lá foi Lino, rumo ao congresso. Ele não só entrevistou o padre como aproveitou a oportunidade para dizer a ele que tinha vontade de fazer um estágio no Vaticano. O padre ficou com o currículo e com o contato de Lino. Alguns meses depois veio a notícia que ele tanto esperava: “Tinha sido aprovado para o programa de estágio no Vaticano. Em janeiro de 2020 embarquei na aventura que mudou minha vida para sempre”, recorda.
A matéria e a entrevista feitas por Lino foram publicadas na Revi em 30 de abril de 2019, com o título “Social media do Vatican News fala sobre comunicação na igreja católica”.
A Revi passou por diversas fases nos seus 25 anos de acordo com os coordenadores e professores que passavam pelo projeto, e segundo Marília, a revista sempre teve um foco majoritariamente cultural, porém, sempre se manteve antenada nos acontecimentos e questões que envolvem Joinville e região.
Os estudantes encontram na Revi uma oportunidade de botar a mão na massa e praticar o Jornalismo, escrevendo textos e vendo-os publicados no site. “A Revi é quase um ensaio para o mercado de trabalho. Hoje nós temos muitos estudantes em grandes veículos de comunicação e grandes empresas que falam com orgulho que começaram a jornada no Jornalismo na Revi”, ressalta Marília.
Hoje, Mateus Lino é especialista em reportagem audiovisual e foi trainee na CNN Portugal, na parte de jornalismo internacional cobrindo a Guerra na Ucrânia e recentemente também a Guerra de Israel-Hamas, assim como ponte para os assuntos relacionados ao Brasil.
Jornal do Paraíso: jornalismo comunitário na prática
Por muitos anos o bairro Jardim Paraíso era tratado como o mais violento de Joinville. Esse estereótipo trouxe muitos prejuízos para a comunidade. A professora Valdete Daufemback conta um pouco sobre o contexto do bairro quando o Jornal do Paraíso surgiu:
Enquanto a mídia criminalizava o bairro, os líderes da comunidade entraram em contato com o curso de Jornalismo da Faculdade Ielusc para firmarem uma colaboração. O Jornal do Paraíso foi criado em 2007, com parceria entre o Conselho Comunitário do Jardim Paraíso e o Projeto Missão Criança.
Arquivo pessoal
Eram impressos três mil exemplares do jornal através de apoio cultural de pequenos comerciantes locais, e foi pioneiro entre os veículos comunitários de Joinville. Os jornais também eram utilizados em salas de aula nas escolas do bairro como materiais didático-pedagógicos.
Segundo Valdete, que também foi coordenadora do projeto e responsável pela captação de recursos, o jornal trouxe muita autoestima para a comunidade visto que o veículo começou a mostrar para a cidade que o Jardim Paraíso não era só um lugar de violência, como era retratado.
O projeto foi encerrado em 2017 e durante seus dez anos contribuiu para a transformação do bairro com a vinda de serviços básicos para a população, como a inauguração de uma agência bancária na região, e também para o futuro de muitos jovens da comunidade, que ingressaram no ensino superior graças ao envolvimento no jornal.
O projeto também acarretou na inclusão da disciplina Jornalismo Comunitário na revisão da matriz curricular do curso de Jornalismo, implantada em 2014.
O acervo completo do Jornal do Paraíso está disponível no arquivo da Faculdade Ielusc.
Primeira Pauta: a prática do jornalismo impresso
Todos os jornalistas formados pelo Ielusc já passaram pela redação do Primeira Pauta. Atualmente produzido na disciplina de Jornal Laboratório, o Primeira Pauta teve sua edição inaugural em maio de 2000, quando a disciplina de Produção e Difusão em Meios Impressos estreou na matriz curricular da primeira turma. Sandro Galarça, professor da disciplina há cerca de dez anos, explica um pouco sobre a importância do Primeira Pauta aos estudantes:
Durante o semestre são produzidas quatro edições do jornal. Para cada edição é realizada a reunião de pauta e a distribuição de funções entre os alunos. As pautas do jornal geralmente abordam questões temporais e factuais do mês que será publicado, principalmente de Joinville e região.
A partir da reunião de pauta, a equipe, formada por um repórter, diagramador e editor, terá cerca de quatro a cinco semanas para desenvolver a pauta, editar a matéria e diagramar o texto e fotos na página do jornal, respeitando o cronograma estipulado pelo professor na reunião de pauta.
Sandro Galarça expressa o orgulho que sente em relação ao trabalho dos estudantes e se recorda, com carinho, sobre as edições que lhe marcaram.
Para Galarça, estar a frente do projeto é um privilégio. O professor conta que é uma alegria poder transmitir para os alunos a experiência que teve dentro das redações.
Ele ainda ressalta que a experiência dele e sua carreira se complementam com a vontade dos jovens jornalistas na procura pelo novo. “Eu acho que as duas coisas funcionam muito bem: a juventude querendo e experimentando novas linguagens, procurando novas formas de fazer jornalismo, mais a experiência, por outro lado, para embasar esse caminho de maneira técnica e pedagógica”, analisa.
EPPA: evento consolidado no mercado
O termo “um grande orgulho” apareceu muitas vezes durante a conversa com o professor Vinícios Neves, o atual coordenador do curso de Publicidade e Propaganda do Ielusc. Não é à toa, afinal, hoje o Eppa – Encontro de Publicidade e Propaganda Acadêmico possui uma representatividade nacional.
O primeiro Eppa, teve como tema norteador “O campo de atuação do profissional de publicidade e propaganda”, talk shows, workshops e debates fizeram parte da programação. Já em 2010, a 5ª edição, foi considerada um divisor de água, onde idealizaram o evento maior e que se consolidava com o tempo.
Anualmente, os alunos do sétimo período do curso de Publicidade e Propaganda da Faculdade Ielusc dedicam-se à organização completa do evento, partindo do zero. Esse processo abrange a criação do conceito, o desenvolvimento do planejamento, a estratégia de distribuição nas mídias e a busca por patrocinadores. Em 2020, o Eppa enfrentou uma pausa breve devido à pandemia. Contudo, já em 2021, ressurgiu em um formato inovador, totalmente online. Em 2022, o Eppa Level Up retornou com o evento presencial e desde então, a tradição persiste, com uma nova edição a cada ano.
“A cada edição, as turmas têm se destacado, superando as expectativas anteriores no desenvolvimento do Eppa”, destaca Vini.
A edição de 2023 aconteceu em julho e trouxe como tema “O coelho, a porta e a criatividade”, o evento trouxe profissionais das mais variadas áreas que conversaram, a partir das suas perspectivas de trabalho, sobre como desbloquear a criatividade. Agora, o Eppa caminha para a 19ª edição.
AEP: pioneira em SC
A Agência Experimental de Publicidade é um projeto de extensão que nasceu junto com a criação do curso, em 1998. Ela foi a primeira agência experimental de Santa Catarina. Segundo o professor Vinícios, é impossível separar a AEP do curso de Publicidade e Propaganda do Ielusc.
A agência não tem fins lucrativos e é formada por estudantes, bolsistas e também voluntários. O professor conta que a essência da AEP, em relação ao seu funcionamento, não mudou. Entretanto hoje há uma abrangência maior na questão do atendimento.
Um dos maiores desafios da AEP é justamente a rotatividade dos estudantes. “Esse é um problema, mas na verdade é algo bom também”, brinca Vinícios. “O que acontece é que nossos estudantes são rapidamente absorvidos pelo mercado de trabalho, então a AEP acaba “perdendo” eles. Dessa forma, a maioria dos acadêmicos da AEP geralmente estão nas primeiras fases do curso.”
A agência já desenvolveu trabalhos para importantes empresas e eventos da cidade, como por exemplo a Feira do Livro. Atualmente a sede da AEP fica no último andar da DS Hub, (Deutsche Schule).