As faces do conflito entre Hamas e Israel
Geopolítica e religião são causas dos combates que perduraram mais de 70 anos no Oriente Médio sem perspectivas de ter um fim
Por Suyane Urbainski
Já se passou mais de um mês que o mundo recebeu abruptamente informações sobre os ataques em terras israelenses. Em 7 de outubro, iniciou o conflito Hamas e Israel, quando o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), lançou foguetes a partir da Faixa de Gaza, em direção a Israel.
No início dos ataques, acontecia um festival de música eletrônica na região do kibutz Re’im, próximo à Faixa de Gaza, que foi um dos primeiros alvos. Mais de 200 pessoas, a maioria delas jovens que participavam do evento, perderam a vida. Além disso, houve feridos que escaparam para o deserto, estradas ou se esconderam em lugares próximos.
Segundo a CNN Brasil, no dia 23 de novembro, a Guerra já havia ultrapassado 15.900 mil mortos, mais de 35.000 mil feridos e mais de 7.000 mil desaparecidos, a maioria deles crianças e mulheres. No dia 24 de novembro, um acordo entre Hamas e Israel iniciou uma trégua, com a libertação de reféns e prisioneiros, mas no dia 1o de dezembro retomaram os ataques.
Contratempo em Israel
André Geraldo Brauer, 73, é aposentado e dono de uma pousada em Itapoá, onde vive com sua esposa, a pedagoga Rosana Maria de Lima Brauer, 66. O casal estava em Israel durante os ataques recentes. Eles descreveram o país como fortemente policiado. “A minha sensação era a de que a qualquer momento algo estava prestes a acontecer”, conta André. Na manhã do dia 7 de outubro, o aposentado ouviu uma sirene soando do prédio em que estavam hospedados em Jerusalém e consultou sites de jornais brasileiros, porém, com a diferença de fusos, não havia informações. “Saímos para visitar Belém. A cidade palestina é cercada e carros com placas de Jerusalém não entram. O guia fez uma foto minha e da minha esposa próximo a uma igreja e depois fomos notar os rastros de mísseis registrados no céu”.
O clima foi de apreensão quando os portões da cidade se fecharam durante a visita. André e Rosana deixaram o carro do lado de fora de Belém e cruzaram a cidade de táxi, onde foram informados do fechamento dos portões sem data para abertura. “Nossa comida e bebida acabaram e estávamos sem banheiro. Recebemos um anúncio por meio de alto falante que os portões seriam abertos no dia seguinte”. Os taxistas locais ofereceram ajuda para levá-los para fora de Belém até o carro, onde estavam todas as bagagens.
Ao chegarem na hospedagem em Tel Aviv, um bombardeio começou e todos do prédio seguiram até o abrigo antiaéreo. “Na verdade os estrondos eram o sistema de defesa de Israel que interceptou as bombas lançadas pelo Hamas. No domingo, entramos em contato com a embaixada solicitando a repatriação e na terça-feira pegamos o voo para Istambul”. André ainda relata que a energia do aeroporto estava caótica, pessoas chorando, cancelamento de voos, check-ins lotados. “Quando enfim entramos no voo, fizemos uma foto e enviamos para nossos amigos e familiares. Minha esposa até postou com a legenda “o sorriso do alívio” pois era o sentimento presente no momento”, diz o aposentado.
Parentes no conflito
O médico Ilson Enk, 69, tem parentes na região dos combates em Israel. “Minha prima, netos e familiares vivem em sobressalto. Precisam dormir de roupas, apenas sem calçados. Ao soar o alarme de bombardeio ou míssil, só calçam os sapatos e se deslocam até o bunker. O neto de uma prima foi atacado, há alguns meses antes da guerra, quando trabalhava em um restaurante de Tel Aviv, por um terrorista que desferiu várias facadas. Felizmente sobreviveu”. O médico ainda acrescenta: “o povo pa- lestino merece seu espaço, já previsto em acordos internacionais não consolidados. Precisamos de lideranças inspiradas na paz, sem educar crianças para o ódio desde a mais tenra idade. Judeus e palestinos precisam conviver. É um tema complexo, mas precisamos acreditar num futuro sem terror, sem armas, sem ataques aleatórios, com fronteiras estabelecidas”.
Vivendo a guerra
Para quem vive próximo à região dos conflitos existe muita apreensão. O médico aposentado Jorge Ignacio Szewkies, 71, reside em Jerusalém há dois anos. Ele conta que na região tudo está funcionando normalmente, comércio, escolas. Tem uma filha e netos que também moram lá,um deles nasceu há duas semanas. “Nesse período, passo o dia cuidando dos meus netos, já que meu genro foi convocado para a guerra, falamos com ele todos os dias”, conta emocionado. Ele também relata o sentimento de tristeza, pelas mortes e sequestros.
“Em 7 de outubro, não morreram só israelenses, foram cristãos, mulçulmanos, tailandeses, argentinos, alemães. Além dos sequestros desses povos, não vejo os países exigindo a liberdade deles. As guerras devem ser evitadas porque depois de começadas viram tragédias”.
Esperança
A jornalista palestino-brasileira Eman Abusidu, 33, é membro do Sindicato dos Jornalistas Brasileiros (FENAJ). Veio de Gaza em 2016 e atualmente reside em Florianópolis. Seus pais, irmãos e avós ainda estão lá. “Nenhuma palavra pode descrever a situação em Gaza, o que as pessoas veem na televisão é apenas 1% do que realmente está acontecendo. Há mais de 50 dias, tentamos convencer o mundo de que querem apagar a nossa história e existência, extinguindo nossas igrejas, mesquitas e monumentos”, descreve a jornalista.
Eman também pontua como era o país quando vivia lá. “Era complicado, existe um bloqueio terrestre, marítimo e aéreo a Gaza desde 2007. Eles impedem os palestinos de muitas coisas, como entrada de comida, água, gás, tudo está fechado. Além disso, já testemunhei guerras lá antes, em 2009, 2012 e 2014. Espero que esta guerra acabe e eu possa ver meus pais em uma situação melhor. Espero ver mais solidariedade internacional com o nosso povo, seja no Brasil ou em todo o mundo”.