100 anos da Resposta Histórica: conheça a história que colocou o Vasco como pioneiro na luta contra o racismo
Por Vinicius Vigineski
A Resposta Histórica foi uma carta enviada por Luiz Augusto Prestes, presidente do Clube de Regatas Vasco da Gama, à AMEA. Na carta, o Vasco se abdicava do direito de disputar uma nova liga criada por clubes da elite carioca e se recusava a excluir doze atletas negros e operários de seu plantel.
Campeão carioca em 1923 com uma campanha avassaladora, com apenas uma derrota, o Vasco tinha em seu elenco jogadores negros e de origem pobre, vendo seu domínio ser ameaçado por um novo clube, que não tinha tanta tradição no esporte e nem o calibre monetário dos outros, os diretores de cinco clubes sendo eles América, Bangu, Botafogo, Fluminense e Flamengo, resolveram criar uma nova liga a Associação Metropolitana de Esportes Athéticos (AMEA) para excluir o Vasco de suas competições.
De acordo com informações contidas no site oficial do time carioca, inicialmente a principal implicância da nova liga foi a falta de um estádio próprio, o que gerou a construção de São Januário, o maior estádio da América Latina anos depois. Além disso os rivais pediam a exclusão de doze jogadores, que por “acaso” eram todos negros ou brancos de origem operária, onde segundo a própria liga os jogadores “ estariam em desacordo com os padrões morais necessários para a pratica do futebol”.
Diante destas condições impostas pelos outros clubes, o presidente Prestes enviou uma carta para a liga desistindo se sua participação, pois o clube não concordava com tais exigências, fazendo com que o vasco voltasse a disputar ligas de menor expressão no Estado do Rio de Janeiro, sendo aceito novamente na liga anos depois, sem tais determinações após uma pressão popular dos torcedores.
Confira a carta na íntegra:
Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.
Officio No 261
Exmo. Snr. Dr. Arnaldo Guinle, M. D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos.
As resoluções divulgadas hoje pela Imprensa, tomadas em reunião de hontem pelos altos poderes da Associação a que V. Exa. tão dignamente preside, collocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada, nem pelas defficiencias do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa séde, nem pela condição modesta de grande numero dos nossos associados.
Os previlegios concedidos aos cinco clubs fundadores da A.M.E.A., e a forma porque será exercido o direito de discussão a voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.
Quanto á condição de eliminarmos doze dos nossos jogadores das nossas equipes, resolveu por unanimidade a Directoria do C.R. Vasco da Gama não a dever acceitar, por não se conformar com o processo porque foi feita a investigação das posições sociaes desses nossos consocios, investigação levada a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.
Estamos certos que V. Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um acto pouco digno da nossa parte, sacrificar ao desejo de fazer parte da A.M.E.A., alguns dos que luctaram para que tivessemos entre outras victorias, a do Campeonato de Foot-Ball da Cidade do Rio de Janeiro de 1923.
São esses doze jogadores, jovens, quasi todos brasileiros, no começo de sua carreira, e o acto publico que os pode macular, nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que elles com tanta galhardia cobriram de glorias.
Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V. Exa. que desistimos de fazer parte da A.M.E.A.
Queira V. Exa. acceitar os protestos da maior consideração estima de quem tem a honra de subscrever
De V. Exa. Atto Vnr., Obrigado.
José Augusto Prestes
Presidente.
Para comemorar o centenário deste ato histórico, o Vasco organizou em seu museu uma exposição com os documentos originais que são preservados pelo clube, além de diversos conteúdos em suas redes sociais contando com um vídeo em manifesto sobre a causa anti racista.