Indústria têxtil: consumo de água e impacto ambiental desafiam setor
Indústria têxtil enfrenta desafios para reduzir o consumo de água e mitigar a poluição, enquanto adota tecnologias mais sustentáveis para enfrentar a crise hídrica
Por Malu da Silva
No planeta, as companhias têxteis são responsáveis pelo consumo anual de 93 bilhões de metros cúbicos de água, segundo pesquisa da Fundação Ellen MacArthur – instituição britânica envolvida com projetos e ações que visam o fomento da economia circular. Esse elevado consumo de água na indústria têxtil envolve desde o cultivo de fibras até processos fabris como alvejamento, tingimento, curtimento, e tinturaria. Para a fabricação de uma única calça jeans, por exemplo, são necessários mais de 5 mil litros de água, de acordo com o Portal Ecoera e a Vicunha Têxtil.
Além de ser um grande consumidor de água, o setor também é responsável por um alto índice de poluição. A mesma pesquisa da Fundação Ellen MacArthur revela que a indústria têxtil responde por 20% da poluição industrial da água no mundo. Esse impacto se deve ao tratamento inadequado dos efluentes industriais, que muitas vezes contêm produtos químicos nocivos.
A crise hídrica e o impacto ambiental têm levado indústrias têxteis a buscarem soluções para reduzir o consumo de água e melhorar o tratamento dos efluentes. No Brasil, o Grupo Malwee, por exemplo, implementa medidas para diminuir o consumo no processo de tingimento, responsável por 70% da água utilizada na produção. A empresa reutiliza 20% do efluente tratado, sendo que sua malha preta é tingida com 98% de água recuperada.
Cíntia Izaias, analista de processos industriais da Malwee, explica que a companhia investe em tecnologias de tratamento de água, como a ultrafiltração e o uso de tratamentos biológicos para garantir a qualidade da água devolvida ao meio ambiente. “Desde 2003 fazemos o reúso de água e estamos em constante busca por alternativas tecnológicas para ampliar essa prática”, afirma Cíntia.
Para Fernanda Stafford, professora de engenharia ambiental da Univille, o uso intensivo de água nas etapas de alvejamento e tinturaria pode ser otimizado com o avanço de tecnologias que realizam esses processos a seco. “Cada vez mais são desenvolvidos processos que consomem menos água ou são feitos sem água, o que pode trazer um grande alívio para o setor”, comenta a especialista.
O cumprimento da legislação ambiental brasileira é outro ponto crucial para a gestão hídrica no setor. As indústrias precisam atender aos padrões de qualidade exigidos para a devolução da água ao meio ambiente, monitoradas pelas agências ambientais. “Se não houver o cumprimento das normas, a crise hídrica afeta diretamente a produção têxtil”, finaliza Fernanda.