
Entre rodopios e sonhos: Stella, a pequena bailarina que mira a Rússia
Por Stefani Junge e Sarah Falcão
O coque bem preso no alto da cabeça, a malha rosada alinhada e a postura impecável, nem parece que Stella Junge tem apenas 10 anos. Ao observar a menina entrar no estúdio de ballet, é fácil esquecer sua pouca idade. Há uma seriedade e compromisso em seus gestos, uma dedicação que vai além do lúdico. Quando ela sorri, o brilho infantil reaparece. “Eu amo dançar. É como se eu pudesse voar”, diz, com os olhos vivos.
Stella iniciou sua trajetória na dança aos quatro anos, quando teve seu primeiro contato com a primeira apresentação. “Eu vi um espetáculo de ballet com a minha mãe e fiquei encantada. Queria ser como aquelas bailarinas que pareciam flutuar.” Desde então, a dança virou parte da rotina e do coração da pequena artista.

A rotina não é leve. Duas vezes por semana, ela treina no estúdio Cláudia Ramalho, em Joinville, cidade conhecida por abrigar a única filial do Teatro Bolshoi fora da Rússia. Stella integrou o Bolshoi Preparatório, programa que prepara jovens talentos para os desafios da dança clássica. “Foi mágico, mas também puxado”, conta. “A gente aprende a ter disciplina e a cuidar de cada detalhe.”
Durante a entrevista, Stella ajeita a sapatilha com delicadeza. A voz é doce, mas firme. Ela começa a usar sapatilhas de ponta, um marco na trajetória de qualquer bailarina. “No começo, doeu um pouco. Mas é uma dor boa, sabe? É como se eu estivesse ficando mais próxima do meu sonho.”
Esse sonho tem um endereço: Rússia. Mais precisamente, as grandes companhias como o Bolshoi e o Mariinsky. “Quero estudar lá um dia. A Rússia é o berço do ballet. Tudo começou lá, com aquelas coreografias lindas e escolas que formam as melhores bailarinas do mundo.” A menina fala com propriedade, fruto de muitas horas assistindo vídeos e pesquisando sobre a dança clássica.

Ao recordar sua primeira apresentação, os olhos de Stella brilham. “Eu estava nervosa, mas quando entrei no palco, senti que era o meu lugar. Eu lembro das luzes, do figurino… foi como um sonho.” Ela sorri, encostando as mãos nos joelhos, como se ainda pudesse ouvir os aplausos.
Mas nem tudo são flores. “Às vezes, fico cansada ou me frustro quando não consigo fazer um movimento. Mas aí lembro que cada erro é um passo pra melhorar. Minha professora sempre fala isso.”
A família é um pilar importante nessa trajetória. “A minha mãe me leva nos ensaios, me ajuda com os figurinos… e minha família sempre assiste às apresentações. Eles acreditam em mim.” Quando não está no estúdio, Stella gosta de desenhar, brincar e ouvir músicas clássicas. “Mas a dança é o que eu mais amo.”
Apesar da pouca idade, ela fala da carreira com a maturidade de quem já entende que o sucesso exige esforço. “Quero dançar nos grandes palcos, mas também quero inspirar outras meninas. Mostrar que, mesmo pequena, a gente pode sonhar alto.” Ela se posiciona com leveza, faz uma pirueta e para com precisão. O gesto é técnico, mas há algo mágico. Stella não dança apenas com os pés, dança com os olhos, com o sorriso, com a alma.