
Autores independentes enfrentam obstáculos e mantêm literatura viva
Por Anna Bibow e Camille Loffler
Publicar um livro no Brasil é, para muitos autores, um feito heróico, e quando se faz isso de forma independente, o desafio se multiplica. Em um país onde 53% da população afirma não ter lido sequer parte de um livro nos últimos três meses, segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, escritores independentes enfrentam um mercado restrito, custos elevados de produção e a dificuldade constante de alcançar leitores.
Ricardo Costac, professor de história e geografia, deixou a sala de aula para seguir seu coração na ficção fantástica e fantasia histórica. Para o autor, é difícil ter o apoio de grandes editoras ou distribuidoras, assim, ele assume sozinho as funções de editor, divulgador e empreendedor cultural. Ainda assim, Ricardo persiste, “Ser autor independente é maravilhoso, mas um desafio tremendo. A gente escreve por paixão, porque não há incentivo real para quem está começando”, afirma. O autor já publicou obras como O Círculo de Pedra e destaca os altos custos cobrados por editoras para publicação, dificultando ainda mais a entrada de novos nomes no mercado.
A democratização das redes sociais e plataformas de autopublicação trouxeram esperança para a autora Cácia Leal. O Clube de Autores, por exemplo, uma das principais plataformas de autopublicação online no Brasil, representa cerca de 27% de todos os livros publicados no país. A plataforma registrou um aumento de 40% nas vendas em comparação a 2019 e um crescimento de 30% no número de novos autores, indicando uma expansão significativa no mercado de autopublicação. A autora de tramas policiais e de aventura como As Testemunhas na Mira do Tráfico, afirma que a internet facilitou o contato com os leitores. “Antes, a gente dependia das editoras escolherem a gente. Agora, conseguimos alcançar o público diretamente, principalmente fora do eixo Rio-São Paulo”. Seu trabalho, focado em ação com jovens protagonistas e tramas sociais, conquista leitores por todo país.

Apesar das dificuldades estruturais enfrentadas no mercado literário, ser autor independente garante a liberdade criativa que muitas vezes falta na publicação tradicional. É o que diz a escritora Thais Carolina da Silva, “As editoras seguem o que vende. Nós mostramos histórias diferentes”. Cerca de 200 mil títulos independentes foram publicados no Brasil através do Kindle Direct Publishing, publicação direta no Kindle, consolidando a autopublicação como uma alternativa viável para escritores como Thais que muitas vezes são negligenciados em seus trabalhos.

Há regiões do Brasil que mantêm viva o amor pela leitura. Santa Catarina, por exemplo, lidera o ranking nacional com 64% da população se declarando leitora. Suely Ravache, membra da academia catarinense de cordel diz que, tem o orgulho de fazer parte do único estado no sul do Brasil que tem uma academia própria, com uma escola própria em que ensinam cordéis através da tela do celular. Isso mostra que, embora o cenário geral seja desafiador, há um público esperançoso por histórias originais e bem contadas que marcam seu espaço na Feira do Livro de Joinville todos os anos.
