
A Real Pain: Tortura de se assistir ou joia rara?
Resenha crítica por Guilherme Beck Scolari
Na temporada de premiações de 2024, houve um longa que chamou muito minha atenção. O primeiro projeto dirigido por Jesse Eisenberg – eternamente lembrada como Mark Zuckerberg em The Social Network; e protagonizado por Kieran Culkin, o até então, segundo membro mais famoso da Família Culkin – ficando logo atrás de seu irmão Macaulay Culkin (o famoso garotinho de esqueceram de mim).
Eisenberg é conhecido por seu jeito socialmente ansioso e fala rápida, suas performances são sempre marcadas por tiques nervosos e uma forma muito característica do ator. Felizmente, Eisenberg demonstra um grande amadurecimento profissional ao assumir a posição de diretor. Toda a ansiedade costumeira do ator em seus personagens desaparece em uma direção com muito controle, paciência e ordenamento.
Os temas explorados, assim como os longos planos explorando as paisagens polonesas trazem uma imersão muito prazerosa de se acompanhar – todo o processo de peregrinação dos primos aqui retratados são um deleite de assistir. A dinâmica entre a dupla de protagonistas não é apenas tematicamente rica ao explorar suas personalidades distintas, mas trazem consigo um realismo e naturalidade muito prazerosos de acompanhar.

“A Verdadeira Dor” propõe um estudo de personagens: Aqui temos Benji, o primo carismático e extrovertido juntamente com David, o primo mais fechado e introvertido. A proposta do longa é explorar as diferentes dores enfrentadas por cada personagem, assim como seus modelos mentais e como eles enfrentam a perda de um ente querido são a base do projeto.
Benji leva sua vida com aparente leveza, escondendo camadas de dor e sofrimento por trás de um sorriso amigável, enquanto David, embora socialmente considerado “bem sucedido” em sua vida – não consegue ser tão fascinante e encantador como seu primo, se considerando uma pessoa “chata e comum”, sem grandes aventuras ou interesses. Sem querer entregar muito sobre o longa, essa relação entre os personagens gera um caos controlado extremamente divertido de se acompanhar, que, juntamente com tensões no passado entre primos, resultam em uma viagem de peregrinação encantadora.
Visualmente, o longa se destaca por sua simplicidade e riqueza nas composições. Cores chapadas, somadas aos lindos cenários que compõem a Polônia promovem tremenda imersão – com uma boa camada de subtextos e um intimista convite sobre reflexão, personalidades e luto.
Não consigo terminar esse comentário sem recomendar o longa, que, em um primeiro momento havia apenas me agradado – mas, posteriormente a reflexão, percebo o quão impactante e rico a obra de Eisenberg realmente é, não apenas entretendo, mas promovendo relevantes reflexões sobre quem somos e como lidamos com adversidades naturais a experiência humana.
Avaliação: 3.5/5