Movimento Lixo Zero cresce e muda hábitos em Joinville
Em Joinville, o conceito Lixo Zero ganha força por meio de ações educativas e culturais que unem escolas, cooperativas e cidadãos em uma transformação coletiva
Por Priscila Pereira
Joinville está aprendendo a transformar o modo de lidar com o lixo, a cidade que há doze anos realiza a Semana Lixo Zero, já colhe resultados de uma cultura que vem se enraizando nas escolas, nas cooperativas e até dentro de casa.
O movimento começou pequeno, em 2014, com um grupo de jovens que acreditava na educação como caminho para mudar hábitos. Hoje, sob coordenação de Arthur Rancatti, o Joinville Lixo Zero reúne mais de uma centena de voluntários e é reconhecido nacionalmente pelas ações contínuas que realiza ao longo do ano.
Arthur explica que o segredo do engajamento está na prática: os encontros, as oficinas e as experiências diretas com o tema fazem com que o assunto deixe de ser abstrato. Em suas palavras, o lixo deixa de ser “problema” e passa a ser “responsabilidade”.

Nas escolas, esse conceito se multiplica. No Bom Jesus/Ielusc, alunos do ensino fundamental aprenderam a criar residuários com as próprias mãos, pequenas caixas feitas de embalagens, agora são usadas para separar os materiais recicláveis. A experiência, conduzida pela bióloga Maria Raquel Migliorini, mostrou que o aprendizado sobre sustentabilidade acontece no gesto, não apenas no discurso.

O impacto é visível: as crianças passaram a levar o hábito para casa, e os pais, segundo a direção da escola, começaram a adotar a separação dos resíduos domésticos. “É um movimento em cadeia”, comenta Raquel. “Quando a escola educa, a comunidade inteira muda de comportamento.”
O desafio, porém, ainda é grande. Joinville produz centenas de toneladas de resíduos por dia e recicla menos de 10%. A meta do coletivo é reduzir o envio de materiais ao aterro de Pirabeiraba, incentivando a compostagem e fortalecendo cooperativas locais. Para Arthur, a virada depende de vontade política e de educação ambiental contínua. “Tecnologia existe. O que falta é prioridade”, reforça.

Mas a mudança cultural já começou. Da cozinha doméstica aos corredores das escolas, a separação do lixo virou parte da rotina. O conceito Lixo Zero, antes restrito a eventos, agora se espalha como uma ideia de pertencimento e cuidar do que se descarta é também cuidar da cidade onde se vive.
Semana Lixo Zero
Durante nove dias, entre 18 e 26 de outubro, Joinville se transformou em palco para ações de sustentabilidade. A 12ª Semana Lixo Zero reuniu escolas, instituições, cooperativas e artistas em oficinas, feiras e mostras que ocuparam toda a cidade.
As atividades aconteceram de forma descentralizada, cada comunidade pôde propor e executar suas próprias ações. Houve visitas técnicas a cooperativas, oficinas de compostagem, mutirões de limpeza, apresentações culturais e até uma “Festa Lixo Zero” em escolas, com copos reutilizáveis e lixeiras identificadas.
Ficou claro que Joinville tem avançado no debate sobre sustentabilidade. Ainda há desafios, especialmente na adesão e no investimento público, mas o movimento cresce a cada edição e mostra que a mudança de hábitos já começou a sair do papel.
