Entidade de Joinville promove inclusão e estimula autonomia de pessoas com deficiência visual
A deficiência visual atinge cerca de 7,9 milhões de brasileiros, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Por Luana Alves Maia
A Associação Joinvilense para Integração dos Deficientes Visuais (Ajidevi) foi fundada em 1981 e atende gratuitamente mais de 900 pessoas com deficiência visual entre adultos e crianças. A entidade proporciona diferentes atividades para a reintegração das pessoas na sociedade, entre elas estão a estimulação multissensorial; estimulação visual; orientação e mobilidade infantil (O.M.), atividades da vida autônoma infantil (A.V.A.), pré apropriação a simbologia braille, educação física e desporto, entre muitas outras.
“Tem aula de natação, tem aula de judô, tem aula de xadrez. Tem um projeto de ciclismo para as pessoas passearem, tem um projeto do pessoal fazer remo, de barco”, conta Fábio Junior de Souza. Ele é formado em Geografia e faz parte da Ajidevi há mais de 25 anos. Fábio iniciou como paratleta, depois foi professor de música e atualmente faz parte da equipe de apoio pedagógico e diretoria da Ajidevi.

Professora Olivia na Casa dos Sentidos, ela está realizando uma atividade que simula o corte de comida
De acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a deficiência visual atinge cerca de 7,9 milhões de brasileiros. Já um levantamento feito pela Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) realizado em 2024 mostra que apenas 98.977 pessoas com deficiência visual entre homens e mulheres estão inseridas no mercado de trabalho. A desigualdade salarial ainda é uma realidade.
“A pessoa que tem deficiência, ele vai ter obstáculos a vida toda. Ela tem que o tempo todo superar limites”, relata Fábio, que lida diariamente com as dificuldades de ser deficiente visual e acompanha a evolução dos educandos dentro da entidade. O contato dos educandos com ferramentas que auxiliam no dia a dia é um trabalho de reintegração que faz a diferença e desenvolve as potencialidades de cada um.

Professor e bibliotecário Wallan Gabriel
Um dos diferenciais na entidade é o atendimento personalizado, levando em consideração as dificuldades individuais de cada educando e o tempo de aprendizado. “É muito da demanda individual de cada um, não se estipula muito o prazo. Porque um dos papéis da instituição é a troca, né? Então, eu acho que além da questão da reabilitação, o convívio faz muito bem para as pessoas”, explica Fábio.
Uma trajetória que transformou desafios e preconceito em superação

Paulo Suldóvski perdeu a visão total na adolescência
“Me sentia perdido depois de ter acabado a escola, sem trabalho, sem perspectiva, sem saber o que fazer da vida”. Quem faz esse relato é Paulo Sérgio Suldóvski, de 45 anos. Paulo é deficiente visual, formado em Pedagogia e atualmente trabalha na Fundação Catarinense de Educação Especial. Um dos seus maiores desafios foi enfrentar a realidade de um mercado de trabalho carregado de preconceito e descredibilização. Foi com o apoio de familiares, amigos e sua inclusão na Associação Joinvilense para Integração dos Deficientes Visuais (Ajidevi) que Paulo conseguiu superar as barreiras do preconceito e mudar a sua realidade de vida.
Paulo tinha baixa visão desde que nasceu devido a uma condição rara conhecida como vitreorretinopatia exsudativa familiar (FEVR). Essa doença causa uma má formação dos vasos sanguíneos na retina, especialmente na periferia. Com o olho esquerdo ele conseguiu enxergar até sua adolescência, por volta dos 14 anos. “No início dos anos noventa tive uma hemorragia e ali realmente não teve mais o que fazer”. Paulo precisou realizar uma cirurgia de descolamento de retina e sua visão caiu para 10%. “Eu enxerguei isso até 2006, quando eu fiz 25 anos. Eu tinha 25 anos”, comenta Paulo.
Quando perdeu a visão completamente, em 2006, Paulo se viu diante de uma nova realidade e precisou enfrentar inúmeros desafios. “Como pessoa cega, tive aquela questão da vergonha de usar bengala. A minha família, alguns membros não sabiam lidar com isso, eu também não”. Depois de alguns anos, Paulo voltou a estudar e fez parte do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Conede).
Em seu relato, Paulo diz que a tecnologia ajuda muito na questão de acessibilidade e acesso a informações. Leitor de telas para celular, televisão e dispositivos inteligentes como a Alexa o auxiliam diariamente na rotina. A parte mais desafiadora continua sendo o preconceito, “esse descrédito, essa inferiorização da pessoa com deficiência. Muita gente vai dizer assim: ‘É mimimi’. Não, não é mimimi, a gente sabe que não é. E é isso, o preconceito está enraizado na sociedade em geral.”
A infantilização e rejeição das pessoas com deficiência ainda segue sendo um problema atual. “A principal dificuldade não é nossa, a dificuldade é das pessoas em nos aceitar, em nos entender, em se disponibilizar a compreender que uma pessoa com deficiência, ela é um ser produtivo, um ser ativo na sociedade”, comenta Paulo.
Com concurso público, profissão estável e muito respeito no âmbito profissional, a principal conquista de Paulo foi sair da aposentadoria por invalidez, onde permaneceu durante oito anos. “Não me envergonha, porque era necessário para mim naquele momento e voltar ao mercado de trabalho, sempre evoluindo, conseguindo melhores colocações”, diz Paulo.
