Bancas de TCC em Jornalismo debatem crítica cultural, saúde mental, gênero e velhice na Ielusc
Os trabalhos exploram dilemas históricos e contemporâneos da profissão, analisando os temas sob diversas lentes sociais
Por Priscila Pereira
As bancas de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) do curso de Jornalismo do Ielusc, realizadas nesta segunda-feira, 8 de dezembro, evidenciaram a diversidade temática e o compromisso social da formação jornalística. As pesquisas apresentadas abordaram transformações da crítica musical na era digital, a saúde mental sob a ótica do jornalismo literário, a trajetória das mulheres no futebol brasileiro e a invisibilidade social de pessoas idosas, reiterando o papel do jornalismo como campo de reflexão crítica e mediação social.

A transformação da crítica cultural foi o foco do trabalho apresentado por Fagner Ramos, intitulado A crítica cultural entre o vilanismo e o bom mocismo: uma análise das transformações do jornalismo musical dos anos 1990 à era digital. Orientada pela professora Maiara Maduro e avaliada pelo professor Sandro Galarça e pela professora Patrícia Villar, a pesquisa analisa a crítica musical a partir dos anos 1990, período marcado por textos mais diretos e contundentes e estabelece um diálogo com a produção contemporânea, inserida em um ambiente digital permeado pelas redes sociais. O trabalho investiga como as novas dinâmicas de circulação de conteúdo e as exigências do mercado influenciam o tom, a postura e a autonomia do crítico na atualidade. Durante a apresentação, Fagner destacou que, hoje, o exercício da crítica é atravessado por pressões inexistentes em décadas anteriores, como o receio de reações hostis nas redes e impactos profissionais, o que contribui para uma tendência à suavização do discurso crítico. A banca ressaltou a relevância do tema e apontou possibilidades de aprofundamento para estudos futuros no campo do jornalismo cultural. O TCC foi aprovado com a nota 8,5.

A saúde mental foi abordada pela estudante Ana Júlia Zanotto na produção audiovisual Loucurando – Vozes Impossíveis, orientado pela professora Georgia Santos e avaliado pela professora Anna de Carvalho e a professora Mariana Datria Schulze. Partindo de referenciais do jornalismo literário, a pesquisa propõe uma abordagem ética e sensível sobre a saúde mental, deslocando o olhar dos diagnósticos clínicos para as experiências humanas e subjetivas de sujeitos historicamente marginalizados. A narrativa construída valoriza o personagem em suas singularidades e busca romper com estereótipos associados à “loucura”. Durante a banca, Ana Júlia enfatizou o papel social do jornalismo na desconstrução de preconceitos e na ampliação de perspectivas, destacando a necessidade de cuidado ético, rigor na linguagem e diálogo interdisciplinar, especialmente ao tratar de um tema complexo e sensível. A banca avaliadora sublinhou a responsabilidade assumida pela estudante e a pertinência social da abordagem proposta. O TCC foi aprovado com a nota 10.

A discussão sobre gênero e esporte marcou a apresentação de Diogo de Oliveira, autor do podcast Deixa elas jogarem: o caminho das mulheres no futebol brasileiro. Orientada pela professora Anna de Carvalho e avaliada pelo professor Sandro Galarça e pela professora Georgia Santos, a pesquisa resgata historicamente o período em que as mulheres foram proibidas de praticar futebol no Brasil e analisa os impactos desse apagamento na contemporaneidade. O estudo evidencia como o machismo estrutural ainda molda a percepção social sobre a presença feminina no futebol, seja dentro de campo, na mídia ou entre torcedoras. Durante a apresentação, Diogo destacou que o preconceito atual está diretamente ligado ao histórico de exclusão e à baixa visibilidade do futebol feminino, inclusive na cobertura midiática. O trabalho também problematiza os desafios do jornalismo esportivo diante de eventos de grande porte, como a realização da Copa do Mundo feminina no Brasil. A banca enfatizou a relevância social do tema e a urgência do debate sobre desigualdade de gênero e representação no esporte. O TCC foi aprovado com a nota 10.

Encerrando as apresentações, a invisibilidade social das pessoas idosas foi o tema do livro reportagem de Suyane de Quadros, intitulado Histórias de vida invisíveis para olhos apressados. Orientada pela professora Georgia Santos e avaliada pelo professor Sandro Galarça e pela professora Marília Crispi de Moraes, a pesquisa parte da compreensão de que o jornalismo desempenha papel central na amplificação de vozes silenciadas. Por meio do relato de histórias de vida, o trabalho reflete sobre o apagamento simbólico vivido por idosos, mesmo em um contexto de acelerada transição demográfica. Durante a apresentação, Suyane ressaltou o compromisso ético do jornalista ao narrar trajetórias sensíveis, destacando o desafio de equilibrar empatia e distanciamento profissional. A banca destacou o cuidado narrativo e a importância de ampliar o debate sobre envelhecimento, visibilidade e responsabilidade social no jornalismo contemporâneo. O TCC foi aprovado com a nota 9.
Em conjunto, os trabalhos apresentados revelam uma produção acadêmica preocupada não apenas com técnicas e formatos jornalísticos, mas, sobretudo, com os impactos sociais da informação, reafirmando o jornalismo como prática crítica, ética e comprometida com a complexidade da vida social.
