Força comunitária transforma espaço em referência; conheça a Casa Brasil Norte
Entre cursos gratuitos e histórias de superação, a Casa Brasil Norte se tornou ponto de encontro entre saberes e novas oportunidades
Por Priscila Pereira
Entre máquinas de costura, sons de violão e risadas que ecoam pelos corredores, a Casa Brasil Norte pulsa como um organismo vivo. É no bairro Jardim Iririú que o aprendizado ganha outro sentido, o de cuidar, ouvir e acolher. Em um tempo em que a pressa domina e o convívio já não acontece como antes, o espaço se destaca por unir formação profissional e laços comunitários.
Fundada com o propósito de oferecer cursos gratuitos e atividades socioeducativas, a Casa Brasil Norte faz parte da rede mantida pela Secretaria de Educação de Joinville (SED). A unidade atende moradores de todas as idades em oficinas que vão de costura criativa, manicure, crochê e informática, até violão, Libras e maquiagem. Hoje, o espaço conta com 23 professores voluntários e recebe dezenas de alunos semanalmente.

Mais do que preparar para o mercado de trabalho, a Casa Brasil é reconhecida por acolher pessoas em momentos de transição, mães que buscam uma renda extra, jovens em busca do primeiro emprego, idosos que redescobrem talentos. Cada sala se transforma em um ambiente de troca e aprendizado coletivo, em que o gesto de ensinar é também um ato de cuidado.É nesse contexto que histórias individuais se entrelaçam ao projeto coletivo. Yago Rodrigues, artista autônomo e aluno do curso de costura, encontrou na Casa Brasil Norte a oportunidade de transformar um interesse pessoal em aprendizado compartilhado. Recém-chegado à cidade, ele conta que o desejo de se aprofundar na costura surgiu a partir de uma experiência autodidata.

“Eu me mudei de cidade recentemente, ganhei uma máquina de costura no ano passado e comecei a aprender pela internet, mas senti que faltava uma aula presencial. Acho que a gente aprende muito melhor com a troca, entre outras pessoas”, relata. Segundo ele, a inscrição no curso veio após insistência e planejamento. Ao perder o primeiro edital, colocou um lembrete no celular e garantiu a vaga assim que as inscrições foram reabertas.
Os cursos mais procurados são costura e manicure que estão entre os que mais geram impacto direto na renda familiar. Muitos alunos iniciam como aprendizes e pouco tempo depois, passam a oferecer serviços próprios ou até abrir pequenos salões. “Aqui, a pessoa vem aprender um ofício, mas acaba descobrindo um novo papel social”, resume Sissa coordenadora da casa.
Joinville carrega oficialmente o título de Capital Catarinense do Voluntariado, e a Casa Brasil Norte é um reflexo vivo dessa cultura. Boa parte das oficinas é conduzida por profissionais que doam tempo e conhecimento, e a rede solidária se expande em parcerias com projetos como o Mutirão do Amor e o Projeto Resgate, voltado à educação e à convivência infantil.
“Em cada canto da cidade há alguém disposto a ajudar. O voluntariado aqui é uma força invisível que movimenta tudo”, comenta Sissa.A história da Casa Brasil Norte é também um retrato da resistência comunitária. Em anos de funcionamento, o espaço enfrentou reformas, mudanças de gestão e períodos de incerteza, mas sempre sobreviveu apoiado na força afetiva das pessoas. Voltar ao curso, reencontrar colegas ou ensinar o que se aprendeu tornou-se parte da rotina de quem passa pela casa.
Em muitos casos, o que começa como um curso termina em uma nova história de vida. Há quem tenha transformado uma oficina em negócio, e quem tenha superado a timidez ou encontrado ali o primeiro emprego. Entre os muros simples e coloridos da Casa Brasil, o aprendizado se multiplica em forma de comunidade.

Cecília Wilson de Souza, conhecida como Sissa do cabelo azul, coordena as Casas Brasil Norte e Nordeste e é a alma afetiva do projeto. Com fala espontânea e energia contagiante, ela resume o espírito do lugar:
“A Casa Brasil é uma escola de amor. A gente ensina, mas também aprende a olhar o outro. Ninguém tem tão pouco que não possa doar alguma coisa.”
Joinville a capital catarinense do voluntariado
O reconhecimento oficial de Joinville como Capital Catarinense do Voluntariado não é um mero apelido popular, mas sim um fato solidamente ancorado na Lei Estadual nº 13.210, de 20 de dezembro de 2004, publicada pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina (ALESC). Esta legislação chancelou a notável e histórica tradição associativista do município, que remonta a mais de um século, quando o próprio Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville (CBVJ) foi fundado, em 1892, sendo a corporação voluntária mais antiga do país. Essa origem pioneira reflete-se hoje na diversidade e densidade do espírito de doação da cidade, abrangendo desde a segurança pública até a assistência social e a educação, com exemplos contemporâneos fortes como a Casa Brasil Norte, onde a contribuição de professores voluntários transforma vidas. É essa união entre o pioneirismo histórico e o engajamento contínuo em causas diversas que confere a Joinville o respaldo legal para ser reconhecida como um polo de solidariedade em todo o estado.
