História, coragem e jornalismo moldam a trajetória de Bianca Molina
Por Maria Eduarda Lopes e Beatriz Rodrigues
Jornalista da TNT Sports, Bianca Molina iniciou sua trajetória em 2011, em Porto Alegre e, aos 32 anos, carrega uma história marcada por evolução, coragem e muita estrada percorrida. Do começo tímido às grandes coberturas, construiu um currículo que passa por Fox Sports, Grupo Bandeirantes e Revista Placar. Ao longo dessa caminhada, viveu de perto momentos que moldam qualquer profissional, esteve na Copa do Mundo masculina de 2022, em vários Campeonatos Paulistas, além de Libertadores, Sul-Americana e Brasileirão. Entre desafios, descobertas e a paixão pelo futebol, Bianca segue ampliando sua voz em um espaço onde ainda precisa abrir portas todos os dias.

Muitos jornalistas escondem o time do coração, você optou pela transparência. Por que escolheu não esconder e como lida com comentários de que você está sendo clubista?
Nem sempre tive coragem para ser transparente sobre meu time. Quando cheguei à Rádio Bandeirantes, em 2011, eu não falava que torcia para o Grêmio. No Sul, a rivalidade do Gre-Nal é muito forte, ou você é um ou é outro, e eu não queria que isso interferisse no meu trabalho. Mantive essa postura até 2016. Durante esse período, eu adotei o Coritiba. Ia aos jogos, usava a camisa, era uma forma de continuar vivendo o futebol sem precisar revelar meu time de verdade, mas tudo mudou quando comecei na Fox Sports. Logo no meu primeiro contato, o PVC perguntou qual era meu time, respondi que simpatizava com o Coritiba, e ele estranhou, afinal, eu era gaúcha, de um lugar onde o futebol é tão intenso. E foi aí que ele resolveu me testar, disse que era palmeirense e, em seguida, perguntou de novo qual era meu time. Fui sincera e disse que era o Grêmio.Nesse momento ele me deu um conselho que nunca esqueci, ele me disse que a gente não precisa sair por aí falando qual é o nosso time, mas se alguém perguntar, somos jornalistas, a verdade prevalece sempre. A partir daquele dia, parei de esconder. Na época, era mais fácil, porque eu trabalhava nos bastidores, mas em 2020 virei repórter e, mesmo assim, optei por continuar sendo transparente. Deixei claro nas minhas redes sociais, mas sempre de forma sutil. Não ofendo ninguém, não debocho de nenhum time , sou apenas uma torcedora do Grêmio. Profissionalmente, isso nunca me atrapalhou também, sei me portar quando cubro jogos do outros times com o Grêmio, trato com naturalidade e profissionalismo. Até hoje, inclusive, nunca fui ofendida por isso.
Houve algum momento em que a pressão de ser mulher no jornalismo esportivo foi mais desafiadora do que o comum? E de que forma você lida com episódios de machismo e assédio?
Em vários momentos. Quando entrei, em 2011, o cenário era muito diferente, havia bem menos mulheres no meio esportivo e tudo parecia um teste constante. Era como se, o tempo todo, houvesse uma pegadinha, uma armadilha para ver se a gente “caía”. Eu sabia que seria questionada e contestada inúmeras vezes, então me preparei muito, estudei, busquei informação, me aprofundei. Enquanto um homem é criticado por um erro, uma mulher precisa de muito menos que um erro para ser atacada. Isso acabou me forjando, fui me tornando mais forte, pronta para retrucar perguntas idiotas e responder com segurança, especialmente porque vivi essa fase de transição da sociedade, onde essa parte começou a mudar.
Sobre machismo e assédio, sempre que posso acionar uma instância superior, comunicar um gestor, por exemplo, eu faço. Quando não dá, tento resolver eu mesma. Sou muito ativa nas redes sociais e respondo, exponho. Talvez o melhor seria ficar quieta, mas eu não concordo. Para mim, é uma forma de tentar impedir que isso se repita com outras mulheres. Apesar de lidar bem, não deixo de ficar triste, por estar em um ambiente onde muitos homens acham que eu não deveria estar.

Qual é a conquista de que mais você se orgulha até aqui?
Difícil essa (risos). Mas minha faculdade é um grande orgulho. Vindo de onde eu venho, ser a segunda pessoa da minha família a ter curso superior significa muito. Demorei oito anos para me formar, troquei de faculdade três vezes por conta da vida, foi difícil concluir no aspecto financeiro também. E, dentro do Jornalismo, por ter participado da final da Libertadores, em 2017, mesmo como produtora, nos bastidores, eu encontrei muita satisfação. Eu falo isso porque muita gente acha que só dá para se realizar se estiver na frente das câmeras, com holofotes, mas dá para viver muita coisa legal por trás também.
Um sonho que ainda quer realizar?
Me considero uma pessoa bem realizada, mas vamos colocar um sonho novo: gostaria de estar na Copa do Mundo feminina em 2027.
Um conselho para o jovem profissional do Jornalismo?
No geral, meu conselho é para estudar. Leia muito, assista muito, ouça muito. Crie repertório. Não é para copiar ninguém, mas para observar diferentes profissionais, entender como se faz, quais caminhos existem e quais são as possibilidades de abordagem. Hoje o jornalismo esportivo é muito vasto e, quanto mais preparado você estiver, melhor. Se dá para fazer um curso? Faz. Dá para entrar em um projeto de extensão? Entra. Dá para viajar? Viaja. Tudo acrescenta de alguma forma. E, claro, mostre para as pessoas o que você quer. “Ah, quero entrar na área.” Então fala! Comenta, se coloca, incomoda mesmo. As pessoas precisam saber quais são os teus objetivos para que, eventualmente, lembrem de você quando surgir uma oportunidade.
