Sabores inusitados chamam atenção pelas variedades
Recheios de pizza mudam de rumo ao chegar na maior cidade do estado, confira o cardápio joinvilense
Por Marcelo Ferreira
Joinville é palco de uma rica variedade de festivais: da cuca, do chineque, das flores e da dança. Mas existe um universo gastronômico que sempre encontra espaço para se reinventar, o das pizzas. Formatos diferentes, combinações improváveis e ingredientes que viajam por todo o país fazem da cena pizzaiola joinvilense um campo para novidades.
Um bom exemplo é a inusitada pizza de chineque do Posto Zandoná 11, na Estrada Dona Francisca. Com massa fina e densa, aroma, gotas de chocolate e farofa doce por cima, ela representa talvez o sabor mais tipicamente joinvilense já colocado sobre uma massa. Apesar de ser congelada e aquecida em forno industrial, conquistou curiosos e se consolidou como um dos sabores mais peculiares da região.
Mas quem pensa que somente o sul influencia o paladar joinvilense se surpreende ao descobrir que a cidade também abraça ingredientes do Norte do país. Entre eles, o tucupi, um líquido amarelo, intenso e marcante, típico da culinária paraense ganhou destaque em uma das pizzarias da cidade.
Com nome italiano e alma brasileira, a Pizzaria Rua Roma se diferencia pela ousadia. Suas pizzas retangulares fogem da tradicional fatia triangular, e seus sabores misturam heranças italianas com ingredientes nacionais. Um dos mais emblemáticos é o sabor Pará, que se tornou um dos pilares do cardápio.
A história dessa pizza começa antes mesmo de a pizzaria existir. Seu criador já alimentava a ideia do sabor muito antes de abrir a Rua Roma. “A inspiração veio de uma viagem a Belém, feita com um amigo, com o propósito de experimentar ao máximo a culinária local. Foi uma imersão em novos temperos, técnicas e combinações. Ao retornar a Joinville, a vontade de trazer parte daquela experiência para o futuro cardápio se tornou imediata”, afirma Lucca Storckman Medeiros, dono da pizzaria.
A carne seca surgiu naturalmente na composição. Em Belém, ela é presença constante em pratos, entradas e petiscos, e é também familiar ao gosto brasileiro. Já o tucupi era o elemento desafiador. Forte, levemente amargo e conhecido por “travar” a boca, é protagonista de receitas tradicionais como o pato no tucupi. Incorporar esse ingrediente tão característico a uma pizza sulista seria uma ousadia mas também uma oportunidade de criar algo verdadeiramente autêntico.

A reinvenção do recheio
Na primeira versão da receita, o tucupi aparecia em forma de geleia doce, o que dava ao sabor Pará um perfil agridoce. Entretanto, clientes paraenses, cada vez mais presentes em Joinville, diziam que, apesar da pizza ser ótima, o sabor do tucupi não se destacava. A opinião foi decisiva. “Não faz sentido servir uma pizza com tucupi se as pessoas não conseguem sentir tucupi”, concluiu.
A partir daí, a receita foi repensada. A geleia deixou de existir, e o tucupi foi transformado em um creme que preserva seu sabor. A mudança foi fundamental para entregar autenticidade ao prato. A presença de tantos nortistas na cidade também facilita o acesso aos ingredientes. Existem lojas especializadas que trazem produtos diretamente de Belém.
Hoje, o sabor Pará reúne massa, molho de tomate, queijo muçarela, carne seca e creme de tucupi uma combinação que homenageia a viagem que originou a receita e celebra a diversidade culinária na sua melhor versão. Uma prova de que, quando culturas se encontram, o resultado pode ser tão inovador e saboroso quanto inesperado.
