
Quando o punk é feminino, inclusivo e barulhento
Por Mahyara Luiza
Direto de Joinville, a banda Cacofonia chega para provar que o punk é para todo mundo. Com letras que misturam de política à feminismo, o trio prepara seu primeiro EP e já ocupa os palcos da cena underground catarinense.
O som que incomoda e precisa incomodar
“Passar uma mensagem.” É assim que as integrantes da banda Cacofonia definem sua proposta. Nascida na cena underground de Joinville, a banda formada por três mulheres faz do punk um espaço de expressão, acolhimento e resistência. E não é só sobre fazer barulho, embora isso elas façam muito bem. É sobre incomodar quem precisa ser incomodado e, ao mesmo tempo, construir um espaço onde pessoas que sempre se sentiam oprimidas, dentro e fora da cena, possam existir.
“Nas nossas músicas a gente fala muito de política. Queremos conscientizar, fazer outras meninas, outras mulheres, entenderem que podem levantar a cabeça, que podem se posicionar, que podem saber o que está acontecendo”, conta Sofia Lichtenberg, uma das integrantes.
Mas se engana quem acha que o público da Cacofonia é restrito. Elas fazem questão de deixar claro que o espaço é para todo mundo, sejam mulheres cis à mulheres trans, homens gays ou pessoas pretas. “Antigamente a Riot Grrrl, um movimento de bandas feministas, não era nada inclusivo com mulheres pretas e pessoas trans, e isso é uma coisa que a gente quer fazer diferente, a gente quer mostrar que todo mundo é bem vindo nos nossos shows, que nossa música é pra todo mundo”, explica as integrantes.
Do punk ao emo (sim, tem espaço pra tudo)
Se fosse pra colocar a Cacofonia dentro de uma caixinha, provavelmente essa caixinha ia explodir. Apesar de se definirem como uma banda de hardcore punk, as meninas não se prendem a rótulos. “A gente transita muito entre estilos. Tem uma música que estamos fazendo que tem uma pegada meio emo”, conta Marcela Britto, sem medo de misturar influências e quebrar padrões.
Para elas, o importante é ter uma base, um norte. “ Uma coisa importante, que eu acabei aprendendo, é que a gente não pode criar uma banda, chamar as pessoas sem um gênero definido” afirma Sofia.
A banda criou sua identidade dentro da cena underground, mas isso não impede as meninas de brincarem com diferentes referências musicais.
Primeiros passos, primeiros palcos
A caminhada da Cacofonia está só começando, mas já é intensa. A banda se prepara para lançar seu primeiro EP, com três músicas, ainda este ano. E querem fazer isso acontecer junto ao seu primeiro show, marcado para 29 de agosto no Hangar 7, espaço que se tornou um dos principais pontos de encontro da cena underground joinvilense.
O line-up do show conta ainda com as bandas Plano Real, também de Joinville, e Jonabug, de São Paulo, que veio ao encontro da Cacofonia depois de um comentário despretensioso da vocalista nas redes. “A gente já curtia a banda, então pensamos: bora chamar, bora fazer isso acontecer”, relembra Sofia.
E não para por aí. No dia seguinte, dia 30, elas tocam em Florianópolis, e já tem data marcada para setembro, em Blumenau.

E dá para viver de banda?
Se depender da paixão que elas colocam no projeto, dá sim. Mas, na prática, como toda banda independente, a realidade é mais pé no chão. “Para mim, seria perfeito viver da banda”, diz Sofia. “Mas sei que é difícil, então penso que dá pra conciliar, tipo, trabalhar como designer e, ao mesmo tempo, viver minha banda sem aquela correria insana.
”Para Marcela, é mais como um projeto que, apesar de não ser a principal fonte de renda, tem tanto peso quanto um trabalho formal. “A gente leva muito a sério, é mais do que um hobby. Claro que conciliar com a faculdade é complicado, mas a gente vai criando hábito.” Enquanto isso, Anna Freitas foca nos estudos, se preparando pro vestibular, sem deixar a guitarra de lado.
De uma ideia no sofá pro grito no palco
O nome Cacofonia nasceu, literalmente, de um brainstorm improvisado no sofá de uma festa. Influenciadas por bandas como Bulimia e Misoginia, e até por uma música da banda Charlotte Matou Um Cara, as meninas buscavam algo que fosse uma palavra única, forte, e que, claro, causasse impacto. “No começo nem todo mundo gostou, mas foi o menos pior. O nome ficou, e depois elas gostaram.
”E foi assim, de amizades que surgiram entre shows, rolês e redes sociais, que a Cacofonia se formou. Três garotas que se encontram no punk, mas que hoje constroem algo que vai muito além da música.
No fim das contas, a Cacofonia é sobre isso: fazer barulho, sim. Mas, principalmente, fazer sentido.
Você encontra a banda no Instagram e TikTok como @cacofoniapunk.